Poemas de Sylvia Plath em ANTOLOGIA DA NOVA POESIA NORTE-AMERICANA, seleção e tradução de Jorge Wanderley, Ed. Civilização Brasileira, Brasil, 1992, p. 275 a 281. "OUTONO DE RÃ O verão envelhece, mãe impiedosa. Os insetos vão escassos, esquálidos. Em nossos lares palustres nós apenas Coaxamos e definhamos. As manhas se dissipam em sonolência. O sol brilha pachorrento Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós. O charco nos repugna. A geada cobre até aranhas. Obviamente O deus da plenitude Está morando longe daqui. Nosso povo rareia Lamentavelmente. (trad. Jorge Wanderley) COLHER AMORAS Ninguém nas veredas e nada, nada além das amoras, Amoras de ambos os lados, embora mais à direita Uma aléia de amoras descendo em curva e um mar Se alçando lá no fim. Amoras Grandes como o meu polegar e a silenciar como olhos De ébano nas sebes, gordas De sumo azul-vermelho. O sumo esbanjam entre meus dedos. Eu não pedira esta fraternidade de sangue: elas na certa me amam. E se acomodam em meu jarro, achatando-se os lados. No alto, as gralhas negras, revoada cacofônica Pedaços de papel queimado girando num céu a pleno. É delas a única voz protestando, protestando... Acho que o mar não aparecera. As campinas altas e verdes resplandecem como acesas por dentro. Chego a um arbusto cheio de amoras tão maduras que o arbusto é de moscas Pendentes, suas barrigas verde-azuladas e os vitrais das asas numa tela chinesa. A festa de mel das amoras alvoroçou-as. Elas acreditam no céu. Uma curva mais: amoras e arbustos terminam. Tudo o que vem agora é o mar. De entre dois morros uma súbita brisa se afunila em direção a mim E me esbofeteia a face. Esses montes são muito verdes e doces para quem provou sal. Entre eles, sigo a trilha das ovelhas. Numa última curva Alcanço a face norte dos montes, cor de lararja e rocha E a face olha para nada, nada exceto um grande espaço De luzes brancas metálicas; nada exceto um ruído de ferramentas sobre a prata, Os golpes e golpes contra um metal intratável. (trad. Jorge Wanderley)"