poemas de


Flor à margem

 


Contrapõe o poema, o verso
seu sistema inurnerado, soletro
o que vem a ser o tema.
Sua trama contrapõe o corte
flamba e se repõe, a sorte
contraparte sua lábia de fogo.

Quanto ao verso, não presta
do que em si é recado rogando
a ser pecado de seu tema
onde o que soletra, pondera
a película da letra no fundo da tela


° ° °
o medo certo na hora certa quando abrem teus olhos. notares sobre a cama teu cigarro acendendo do que se apaga, exala o incêndio na outra face; do que se extingue, expande um verso que nunca se apague: o medo certo na hora certa quando fecham teus olhos.
° ° °
O menino olha pela última vez o espelho d'agua. Seus olhos castanhos, o rio levou.
° ° °
Chover é abrir o coração até naufragar o mundo
° ° °

Os galhos secos nascem virgens, brotam mortos no verâo. a um menino socorre o mundo num primeiro berro. mal sabe berrar. força nem tem. os galhos secos embelezam a paisagem numa coroa onde os espinhos nâo ferem os que abrigam; por cima de todos o châo abre fendas maiores do que cova; dentro dessas covas, um esterco esfolado pela pata de um boi anuncia: a chuva falta pouco. os galhos secos nascem virgens, a vida mal respira, o ar é inflamável. e os filhos de seus filhos ainda vão suar uma água que nem Deus sabe de onde vem.



° ° °
o mar quando se viu foi que viu a terra era redonda
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onde ando, todos me conhecem: - lá vai o homem da flor. Ninguém sabe dos meus pecados com Deus. sou um homem para menos. meu contar escorre ladeira. Não creio em azar. Não por ser otimista Por saber que a sorte é rara. sempre ando pela direita. todos os livros abrem apócrifos. sou imagem e semelhança do desacontecido. A pessoa que procuro não sou eu.
° ° °
Como nâo tinha livro, tinha que ser passarinho. descobri: papel para colar, coisas de papel. caí para ser o que sou. Acabei tomando gosto. Hoje faço asas para não voar.
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(inédito) Que importa sangrar do mesmo destino, berne ou raiz? Do extraviado olhar a essência me cai bem desertor. Fico na escuta Sem metáforas de plantão Um cão morde a isca Agora é infalível.

 

André Luiz Pinto?

Copyright © 2002 André Luiz Pinto.

 

 

 

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes