Néstor Perlongher
FORMAS BARROCAS
Las volutas de los anteparos mineralizan el desarraigo de
los volúmenes voluptuosos, en claroscuros de cimbreos.
Pasa una sombra por la cascada artificial.
FORMAS BARROCAS
As volutas dos anteparos mineralizam a desordem dos volumes
voluptuosos, em claro-escuros de vibrações. Passa uma sombra
pela cascata artificial.
Trad. Claudio Daniel
Roberto Echavarren
EL NAPOLEÓN DE INGRES
La alfombra o el caminero, sobre un fondo central amarillo,
muestra una águila marrón, que cubre con las alas
abiertas el escalón tridimensional donde el Emperador
asienta su figura que de otro modo y de punta em blanco
provendría del Elíseo.
Los bordes del caminero son rojos
y sobre fondo negro ilustran las figuras del zodíaco:
bordes de Cangrejo y Pez a la derecha, Virgen, Balanza
y media cola de Escorpión a la izquierda.
El cojín de seda se cubre de oro con motivos escamosos,
alados, y con haces de flechas.
El color de la seda, su textura
son casi metálicos: un zepelín por el cielo
azul de Prusia, un dragón chino
volante en su trueno de metales;
las borlas del cojín descienden pensativas
sobre un esplendor casi licuado,
el calor expectante de la alfombra amarilla y roja.
El pie del Emperador, envuelto en oro
y seda blanca, parece posarse apenas
como el metálico pie de un Mercúrio
sobre el metálico cohete de la seda.
Lo demás es estrepitoso y huracanado
vuelo del armiño de magnífica capa con lises de oro:
borlas y sementeras de borlas en un din don
de perfecto movimiento y perpetuo triunfo.
Las dos bolas de marfil sobre las columnas imperiales,
los brazos del trono de oro, las dos caras de la calva luna,
ruedan por el universo para proclamar la gloria del sol:
el centro, el rostro, una y mil veces circundado de halos:
encaje del cuello, pesada corona de dorado laurel,
más el redondo borde del armiño,
más el collar, más el respaldo circular del trono,
pesada, espesa víbora de hojas,
boa celeste sobre los hombros.
Empuña dos cetros: uno remata en una mano blanca
que abre tres dedos al cielo: el otro, el cetro de los cetros,
repite en otra dimensión al rey sentado en su pináculo,
un rey pequeñito, atributo del rey presente,
tolerado apenas como el supremo signo de poder,
y el rostro del hombre, el rostro del Emperador,
pegado en el centro de los círculos como una estampita
arrancada de un anuario de colegio: el niño en su orden;
suma asoma la cabeza, y lo cree muy bien;
la mandíbula empedernida en el lustre de las joyas,
y los ojos, a medias enfrentados consigo mismos;
pero si el despliegue justifica la mirada,
la mirada no justificará jamás el despliegue.
La mirada lo cree a medias sin embargo:
el niño Emperador, que no ha perdido
nada de sí mismo y ha conquistado el mundo.
El cabo del cetro toca apenas
con su última esfera de oro la alfombra,
el águila marrón desplegada allí a su servicio.
El plumaje del águila ofrece una espalda cálida
para que él la rasque con la varita.
O NAPOLEÃO DE INGRES
A alfombra ou a passadeira, sobre um fundo central amarelo,
mostra uma águia marrom, que cobre com as asas
abertas o degrau tridimensional onde o Imperador
assenta sua figura que de outro modo e de ponta em branco
proviria do Elíseo.
As bordas da passadeira são vermelhas
e sobre fundo negro ilustram as figuras do zodíaco:
bordas de Câncer e Peixes à direita, Virgem, Libra
e meia cauda de Escorpião à esquerda.
O coxim de seda se cobre de ouro com motivos escamosos,
alados, e com feixes de flechas.
A cor da seda, sua textura
são quase metálicos: um zepelin pelo céu
azul-da-prússia, um dragão chinês
voando em seu troar de metais;
as borlas do coxim descem pensativas
sobre um esplendor quase liquefeito,
o calor expectante da alfombra amarela e vermelha.
O pé do Imperador, envolto em ouro
e seda branca, parece pousar apenas
como o metálico pé de um Mercúrio
sobre o metálico projétil da seda.
O demais é estrepitoso e tumultuado
vôo do arminho de magnífica capa com lises de ouro:
borlas e sementeiras de borlas num dim dom
de perfeito movimento e perpétuo triunfo.
As duas bolas de marfim sobre as colunas imperiais,
os braços do trono de ouro, as duas faces da calva lua,
rodam pelo universo para proclamar a glória do sol:
o centro, o rosto, uma e mil vezes circundado de halos:
renda do pescoço, pesada coroa de dourado laurel,
mais a redonda borda do arminho,
mais o colar, mais o respaldo circular do trono,
pesada, espessa víbora de folhas,
jibóia celeste sobre os ombros.
Empunha dois cetros: um termina em uma mão branca
que abre três dedos ao céu: o outro, o cetro dos cetros,
repete em outra dimensão o rei sentado em seu pináculo,
um rei pequenino, atributo do rei presente,
tolerado apenas como o supremo signo de poder,
e o rosto do homem, o rosto do Imperador,
colado no centro dos círculos como uma estampinha
arrancada de um anuário de colégio: o menino em sua ordem;
soma assoma a cabeça, e o crê muito bem;
a mandíbula empedernida no brilho das jóias,
e os olhos, em contenda consigo mesmos;
porém, se o desfraldar justifica o olhar,
o olhar não justificará jamais o desfraldar.
O olhar só crê em parte, sem embargo:
o menino Imperador, que não perdeu
nada de si mesmo e conquistou o mundo.
O cabo do cetro toca apenas
com sua última esfera de ouro a alfombra,
a águia marrom desfraldada ali a seu serviço.
A plumagem da águia oferece uma espádua cálida
para que ele a lacere com a varinha.
Trad. Claudio Daniel
Coral Bracho
DE SUS OJOS ORNADOS DE ARENAS VÍTREAS
Desde la exhalación de estos peces de mármol,
desde la suavidad sedosa
de sus cantos,
de sus ojos ornados
de arenas vítreas,
la quietud de los templos y los jardines
(en sus sombras de acanto, en las piedras
que tocan y reblandecen)
han abierto sus lechos,
han fundado sus cauces
bajo las hojas tibias de los almendros.
Dicen del tacto
de sus destellos,
de los juegos tranquilos que deslizan al borde,
a la orilla lenta de los ocasos.
De sus labios de hielo.
Ojos de piedras finas.
De la espuma que arrojan, del aroma que vierten
(En los atrios: las velas, los amarantos.)
sobre el ara levísima de las siembras.
(Desde el templo:
el perfume de las espigas,
las escamas,
los ciervos. Dicen de sus reflejos.)
En las noches,
el mármol frágil de su silencio,
el preciado tatuaje, los trazos limpios
(han ahogado la luz
a la orilla; en la arena)
sobre la imagen tersa,
sobre la ofrenda inmóvil
de las praderas.
DE SEUS OLHOS ORNADOS DE AREIAS VÍTREAS
Desde a exalação destes peixes de mármore,
desde a suavidade sedosa
de seus cantos,
de seus olhos ornados
de areias vítreas,
a quietude dos templos e os jardins
(em suas sombras de acanto, nas pedras
que tocam e amolecem)
abriram seus leitos,
afundaram seus canais
sob as folhas tíbias das amendoeiras.
Dizem do tato,
de suas centelhas
dos jogos tranqüilos que deslizam à borda,
à margem lenta dos ocasos.
De seus lábios de gelo.
Olhos de pedras finas.
Da espuma que arrojam, do aroma que vertem
(Nos pátios: as velas, os amarantos.)
sobre o altar levíssimo das sementeiras.
(Do templo:
o perfume das espigas,
as escamas,
os cervos. Dizem de seus reflexos.)
Nas noites,
o mármore frágil de seu silêncio,
a preciosa tatuagem, os traços limpos
(afogaram a luz
à margem; na areia)
sobre a imagem tersa,
sobre a oferenda imóvel
das pradarias.
Trad. Claudio Daniel
León Félix Batista
BIANCA JAGGER RASURANDOSE ANTE WARHOL
La sonrisa es un diagrama de excelente carnadura; se establece en claroscuros de vulgar daguerrotipia. Una axila al meridiano,un vacío sin manglares que se
reprodujeran después de ser talados. Con una mitad negra y en la otra gris-engrudo la
realidad cuadrada para ti es desequilibrio: desemboca en desembalses deprimidos de su
escote y el cabello de zarzales más la ascesis del afeite. Y ni el ojo ni la lente calarán
su masa en crisis confinándola a su insólita inmovilidad. |
BIANCA JAGGER DEPILANDO-SE ANTE WARHOL
O sorriso é um diagrama de excelente
carnadura; se estabelece em claro-escuros de fotografia vulgar. Uma axila ao meridiano, um vazio sem mangues que se reproduziram depois de serem cortados. Com uma metade negra e na outra grude-gris a realidade quadrada para ti é desequilíbrio: desemboca em desembarques deprimidos de seu decote e o cabelo de sarçais mais a ascese da toalete. E nem o olho nem a lente calarão sua massa em crise confinando-a a sua insólita imobilidade.
Trad. Claudio Daniel
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Josely Vianna Baptista
OS POROS FLÓRIDOS
(Canto III, fragmento)
Fim de tarde, as sombras suam
sua tintura sobre as cores, extraem
da fava rara da luz o contorno das coisas,
as rugas na concha de um molusco,
grafismos, vieiras milenares com reservas
de sal, poema estranho trançado
em esgarços de oleandros,
enquanto corpos
mergulham em câmara lenta,
e nada é imagem
(teu corpo branco em mar de sargaços),
nada é miragem
na tela rútila das pálpebras.
As sombras suam, ressumbram,
e essa é a sombra mais certa
das sombras calcinadas que me cercam.
Quero levá-la no corpo,
como um amor, como inscrição rupestre
no granito, como o verso
que um tuaregue cola ao corpo.
Quero levá-la comigo, como um amor,
como essa ausência azul que assombra
a noite e sonha o contorno de um rosto
no escuro, como se quisesse desenhá-lo.
*
Nenhum lugar. Lugar algum perdura.
Um ventre a sombra alisa, um plano
o sol levanta, cumes que o vento
plissa. Sol branco, sol negro, o vento
apaga os rastros da areia, apaga
os passos da língua. E o sol
a pino assola, o frio da lua cresta
a pele que se solta,
o suor do corpo em febre
que se solta, e as peles são silêncios,
poemas que se deixam,
e o lugar é aqui, e lá, e ontem,
e as letras voam, revoam,
espreitam como cobras sob a areia
(camaleões se escondendo em si mesmos),
espiam as peles que se espalham, página
ou pálea, corpo que se desveste, desmente,
desvaira: tudo é miragem.
Um som de antigas águas apagadas.
É miragem a rima, a fábula do nada,
as falhas dessa fala em desgeografia,
a fala hermafrodita, imantação de astilhas,
a voz na transparência, edifícios de areia.
Mas teu olhar o mesmo, em íris-diafragma,
fotogramas a menos na edição do livro,
e o enredo sonho e sol, delírios insulares,
teu olhar transparente, a imagem
margem d'água, e as fábulas da fala,
as falhas desse nada - superfície de alvura
ou árida escritura.
Na moldura da página,
marginália de escarpas.
excertos do livro
Jardim de Camaleões (A Poesia Neobarroca na América Latina) lançado pela Iluminuras em 2004
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