Miguel de Cervantes Saavedra
— Espanha, 1547-1616 —
trad. Diego Raphael

 

"Cervantes sem conservantes"
Alberto Marsicano
9 A LOPEZ MALDONADO (Cancioneiro de Lopez Maldonado, 1586)
O casto ardor de uma amorosa chama, Um sábio peito a seu rigor sujeito, Um desdém inflamado e um afeto Brando, que a alma em doce fogo inflama; O bem e o mal a que convida e chama Do amor a força e poderoso efeito, Para sempre no som claro e perfeito Com rimas tais que cantará à fama, Levando o vosso diverso e famoso Nome, distinto Lopez Maldonado, Do moreno etíope ao cítico alvor, E fará que em vão do laurel honroso Espere qualquer verso coroado, Se os não imita e têm por seu fulgor.

 

 

 

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El casto ardor de una amorosa llama, Un sabio pecho a su rigor sujeto, Un desdém sacudido y un afeto Blando, que el alma en dulce fuego inflama; El bien y el mal a que convida e llama De amor la fuerza y poderoso efeto, Eternamente en son claro e perfeto Com estas rimas cantará a la fama, Llevando el nombre único y famoso Vuestro, felice López Maldonado, Del moreno etíope al cita blanco, Y hará que en balde del laurel honroso Espere alguno verse coronado, Si no os imita e tiene por su blanco.
5 AO ROMANCEIRO DE PEDRO DE PADILLA (Romanceiro de Padilla, 1583)
Já que do cego Deus haveis cantado O bem e o mal, a doce força e arte Na primeira tal na segunda parte Onde está de amor todo assinalado, Agora com alento descansado E nova virtude que em vós reparte O Céu, nos cantais do rígido Marte As bravas armas e o valor ousado. Novos, ricos minérios se descobrem Do vosso gênio na famosa mina, Que o mais alto desejo satisfazem; E com dar menos do maior que encobrem, A este menos o que é maior se inclina, Do bem que Apolo e que Minerva fazem.

 

 

 

original

Ya que del ciego dios habéis cantado El bien y el mal, la dulce fuerza y arte En la primera y la segunda parte Do está de amor el todo señalado, Ahora com aliento descansado Y com nueva virtud que en vos reparte El Cielo, nos cantáis del duro Marte Las fieras armas y el valor sobrado. Nuevos ricos mineros se descubren De vuestro ingenio en la famosa mina, Que a más alto deseo satisfacen; Y com dar menos de lo más que encubren, A este menos lo que es más se inclina, Del bien que Apolo y que Minerva hacen.
11 A ALONSO DE BARROS (Filosofia moralizadora, por Alonso de Barros, 1587)
Qual vemos do rosado e rico Oriente A branca e dura pedra assinalar-se, E em todo, até pequena, avantajar-se A mais alta do Cáucaso eminente; Como este, humilde, ao parecer, presente, Pode e deve mirar e admirar-se, Não por quantidade, mas por mostrar-se Ser em sua qualidade excelente. O que navega pelo golfo insano Do mar de pretensões, verá ao momento Do labirinto cortesão a essência. Mão venturosa e gênio alto, plano, Onde se vê lucro e contentamento No alegre jogo, estilo claro e ciência.

 

 

 

original

Cual vemos del rosado y rico Oriente La blanca y dura piedra señalarse, Y en todo, aunque pequeña, aventajarse A la mayor del Cáucaso eminente; Tal este, humilde, al parecer, presente, Puede y debe mirarse y admirarse, No por la cantidad, mas por mostrarse Ser en su calidad tan excelente. El que navega por el golfo insano Del mar de pretensiones, verá al punto Del cortesano laberinto el hilo. Felice ingenio y venturosa mano Que el deleite y provecho puso junto En juego alegre, en dulce y claro estilo.
13 A LOPE DE VEGA EM SUA "DRAGONTEA" (La Dragontea, 1593)
Jaz na parcela mais nobre da Espanha Uma aprazível e sempre verde vega A quem Apolo seu favor não nega, Porque com as águas de Helicón a banha. Júpiter, lavrador de grande façanha, Todo o saber em cultivá-la entrega; Cilênio alegre nela se sossega; Minerva eternamente a acompanha. Das musas seu Parnaso ela tem feito; Honesta Vênus nela aumenta e cria A santa multidão destes amores; E assim, com gosto e general proveito, Novos frutos of’rece cada dia De Santos, de armas, anjos e pastores.

 

 

 

original

Yace en la parte que es mejor de España Una apracible y siempre verde vega A quien Apolo su favor no niega, Pues com las aguas de Helicón la baña. Júpiter, labrador por grande hazaña, Su ciencia toda en cutivarla entrega; Cilenio alegre en ella se sosiega; Minerva eternamente la acompaña. Las musas su Parnaso en ella han hecho; Venus honesta en ella aumenta y cría La santa multitud de los amores; Y así, com gusto e general provecho, Nuevos frutos ofrece cada dia De ángeles, de armas, santos y pastores.
1 À MORTE DA RAINHA DONA ISABEL DE VALOIS *
Aqui, o valor da espanhola terra, Aqui, o primor da francesa gente, Aqui quem concordou com o diferente, De oliva coroando aquela guerra; Neste curto espaço vê que se encerra Nosso brilhoso lustre do Ocidente; Aqui jaz acabada a excelente Causa que nosso bem todo desterra. Olha de quem do mundo é a pujança, E como da mais pura e alegre vida A morte sempre consegue a vitória. Olha também a bem-aventurança Que goza nossa Esposa esclarecida No eterno reino da sagrada glória. * Este foi o primeiro soneto e, provavelmente, o primeiro texto de sabor literário escrito por Cervantes, em 1569.

 

 

 

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Aquí el valor de la española tierra, Aquí la flor de la francesa gente, Aquí quien concordó lo diferente, De oliva coronando aquella guerra; Aquí en pequeño espacio veis se encierra Nuestro claro lucero de Occidente; Aquí yace encerrada la excelente Causa que nuestro bien todo destierra. Mirad quién es el mundo y su pujanza, Y cómo de la más alegre vida La muerte lleva siempre la victoria. Tambiém mirad la bienaventuranza Que goza nuestra reina esclarecida En el eterno reino de la gloria.
33 AO DOUTOR FRANCISCO DIAZ
Tu, que com novo e singular decoro Tantos remédios para um mal ordenas, Bem podes separar, destas arenas Do imaculado Tajo, as que são de ouro; E a honra que se deve ao que um tesouro De ciência discursa com veias plenas, De raro saber, saudáveis, amenas, Riso e alegria do enfermo choro. Que por tua indústria uma feroz pedra Mármores e bronzes a tua fama Dará, sem invejosas competências. O Céu te dará glória; a terra, medra, Pois tanto um quanto o outro já te chama Espírito de Apolo em ambas ciências.

 

 

 

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Tú, que com nuevo y singular decoro Tantos remedios para un mal ordenas, Bien puedes separar, de estas arenas Del sacro Tajo, las que son de oro; Y el lauro que se debe al que un tesoro Halla de ciencia com tan ricas venas, De raro advertimiento y salud llenas, Contento y risa del enfermo lloro. Que por tu industria una deshecha piedra Mil mármoles, mil bronces a tu fama Dará, sin envidiosas competencias. Daráte el Cielo palma; el suelo, hiedra, Pues el uno y el outro ya te llama Espíritu de Apolo en ambas ciencias.

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Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes