John Donne

(1572 - 1631)

 

I



Thou hast made me, And shall thy worke decay?
Repaire me now, for now mine end doth haste,
I runne to death, and death meets me as fast,
And all my pleasures are like yesterday;
I dare not move my dimme eyes any way,
Despaire behind, and death before doth cast
Such terrour, and my feeble flesh doth waste
By sinne in it, which it t’wards hell doth weigh;
Onely thou art above, and when towards thee
By thy leave I can looke, I rise againe;
But our old sublte foe so tempteth me,
That not one houre my selfe I can sustaine;
Thy Grace may wing me to prevent his art,
And thou like Adamant draw mine iron heart.

 

I


Fizeste-me e me desfazer devo agora?
Salva-me, entanto, pois meu fim se apressa,
Eu rumo à morte e ela a mim tem pressa,
E meu prazer morreu tal morta aurora;
Não ouso os olhos revirar por ora,
‘trás o medo e à frente a morte arremessa
Horror tal que a carne em erros a essas
Negras chamas pende, onde inferno mora;
Só tu acima estás, e quando intrigo
Olhar-te, deixas, e ergo-me outra vez;
Mas me atormenta o nosso vil imigo
E, inda lute, não venço-lhe a destrez’.
Asas de tua Graça ao ledo espero,
E ergue, tal ímã, meu peito de ferro.

trad. Diego Raphael

 

VII



At the round earths imagin’d corners, blow
Your trumpets, Angells, and arise, arise,
From death, you numberlesse infinities
Of soules, and to your scattred bodies goe;
All whom the flood did, and fire shall o’erthrow,
All whom warre, dearth, age, agues, tyrannies,
Despaire, law, chance, hath slaine, and you whose eyes,
Shall behold God, and never tast deaths woe.
But let them sleep, Lord, and mee mourne a space,
For, if above all these, my sinnes abound,
‘Tis late to aske abundance of thy grace,
When wee are there; here on this lowly ground,
Teach mee how to repent; for that’s as good
As if hadst seal’d my pardon, with thy blood.

 

VII


Ó Anjos, dos claros flancos da terra
Tocai vossas trombetas, e que vós,
Legião de almas, acorde co’esta voz
E volte aos corpos onde a dor se encerra;
A todos os que em água ou fogo, em guerra
Morreram, aos que medo, rei atroz,
Fome, angústia lhes serviram de algoz,
E aos que verão Deus antes da que aterra.
Mas que durmam, Senhor, e eu caia em pranto,
Pois, se aos delas, vão além meus pecados,
É tarde para suplicar-te um tanto
Ao ser humilde; neste chão crestado
Ensina-me o arrepender, que tal
É como o teu sangue a me af’star do mal.

trad. Diego Raphael

 

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes