19
pétalas - espinho - olor
manhã de calor - cadinho
d orvalho 1 abelha - bis
brisa virafolha e eis-me
rosa em pessoa
89
Coisas de voar há & hão
aves - horas - zangãos
elegi-as? eu não!
coisas de jazer são
dor - morro - amplidão
disso tudo abro mão
outras, pousando, ascendem
céus! como expor? nem vem!
- enigmas - para sempre -
125
a cada instante extático
a angústia elege o preço
elegíaco a'fiado
tr'êmulo ao êxtase
a uma hora de graça
prestações de anos-luz:
sei de tostões chorados
transbordando baús
130
estes são os dias em que as aves
um ou dois pássaros - bem poucos
vêm despedir-se e voltam
estes são os dias que retomam
junho em sofismas tomo a tomo
azul de engano e ouro
ai logro que não ilude a abelha!
no entanto tão plausível que eu
quase me convencera
sementes testemunham à roda
suave na viração do tempo
tímida folha solta-se
estes são os dias de verão
sacramentado e em comunhão
com a neblina dos olhos
há uma criança na partilha:
do consagrado pão quer prova
e da imortal vindima
135
água - a sede en sina
terrAmar - compassos
êxtase - dor
paz por batalhas
amor - mementos
e a neve - pássara!
182
se eu for pega sem vida
pintassilgos pintando
ao de gravat'à vist'a...
migas: memento homo
abrigada ou não
bem ou mal dormindo
bico-de-lacre obriga-me
a granítico perdão!
193
hei de saber - quando for tempo -
sem nadAmais a questionar
Cristo por isto, a angústia dentro
de um quadro azul - última aula -
vai me explicar ponto por ponto
pedro e promessas - dolorosas -
e eu vou esquecer sobre o mistério
que me escalpela, e escalda agora!
211
de'vagar, éden!
lábios abstêmios
já tímidos - sugam-te
jas mins
feito abelha
zonza
atrasando-se à flor z
umbe
rondando
a câmara
em-ba-lança o néctar
penetra-a
em bálsamos consome'ss
249
Sáfaras noites bárbaras!
fosse eu por ti
vi'king's - cenário e fúria
nossa luxúria!
Correr coxias
Donne's - compassos -
porto in'seguro
e cuor ingrato!
De um bote ao éden
THALASSA! THALASSA!
possa essa noite ricochetear
maremotos!
277
e se eu disser que já é demais
e arrebentar portas carnais
e extrapolar compassos?
e se eu limar até o sabugo
além da dor além do luto
e liberar meus passos?
ninguém me pega mais - nem morta!
corram masmorras com revólveres
nada mais faz sentido
como o sorriso - nem me lembrem!
laços & fitas - shows mambembes
e o que morreu - comigo
301
penso - a vida é breve
a angústia absoluta
tudo confere
e daí?
penso - a morte rumina
viço vitalidade
decadência
e daí?
penso - no céu se pensa
salvo melhor juízo
equacionar isso
e daí?
441
carta aberta ao mundo
que nunca me cor -
respondeu
a folha
em branco
a natureza
respondendo por tudo
foto-legenda? - lenda?
ir
(mão não posso ver)
em seu louvor - ao
menos
passe - bem leve - me!
Fantasia 520
Parti bem cedo (a in'star) com o cão
visita mor - A - mar
sereia a (das profundezas)?
olhos d'água... olhos d'água...
Fra'gatas velando ladinas
a braços com baraços
como se a un rato arriba
e eu na arena - encalhada -
ho'men não vi, mas mão de macho
que a maré aprestara
me re'vol'vendo do ato abaixo
saia - avental - sapatos
vai me engolir como a uma gota
- e eu já toda molhada -
dentes-de-leão mangas dragonas
vertendo... pérolas
se ruge ou ri /rente em meu r/ astro
- resisto \contracorrente\
n'alga o esporão de prata
roçando (torno) zelos
Findo o cortejo em terra firme
lambda & tal (sem vivalma)
a um gesto seu - eu 'státua ruindo -
recua - explode - ê maralto!
549
que sempre amei
trago-te provas
até que amasses
voltas e voltas
que te amar hei
não se comprova
que amor é vida
ida - sem volta
dúvida, amado?
fiz o que pude:
abracabraço-te
por vias crucis
579
todo esse tempo passei fome
Meio-Dia, o repasto
da mesa aproximei-me trêmula
toquei o vinho raro
já tinha visto outros banquetes
de volta ao lar - faminta -
pelas janela quantas vezes
sonhei cenas mais íntimas
do farto pão sabia nada
migalhas que eu comia
com os pássaros partilhava
na natureza - ao ar limpo
diante da mesa tal fartura
me fez recuar - estranha -
como silvestre amora
entre mamões bananas
passou a fome - compreendi
que há pessoas incrédulas:
tendo um rei na barriga
vão mendigar - janelas -
621
nada mais me impedisse
nadar - águas rolando
tolo o saber - cediços
pai-mãe-mar'ido-amante
Brasil? girando o olho
mágico e roendo o osso:
nenhuma chance, madame,
no dado apenas 1 lance
642
banir-me de mim própria
seria um dom - in'
vencível em meu Forte
de cor'ação.
vinde a mim que me assalto:
como ter paz?
me mando um tiro ao alvo
e eis-me AQUI JAZ?
sendo meu reino unido
nada a fazer -
ou abdico do ubíquo
mim - de mimmesma?
771
ninguém pensa em penúria
sem que a fartura ocorra
o fato fome intriga-a
o fato trigo come-a
querer a miga Arte
requer antes o inverso
pobreza sem poder
suscita haveres veros
883
poetas são vagalumes
se acendem apagam-se
lamparinas lampiões
estimulados
luzem 'lâmpagos sóis
à idade a lente
irradiando anos-luz em
círculos concêntricos
919
se eu puder impedir a dor
de um coração ruindo
ou minorar minha dívida
dando alívio a uma vida
não terei vivido em vão
recobrando a um passarinho
seu sol bemol sus'te'n'ido
também não
985
sentir falta de tudo
é um passaporte
livre de penas:
o sol blackout
o globo explode?
não paga a pena
piscar 1 olho
por tais cenas!
1013
de um lance dado, Amor,
não morro
que presente de grego!
vivendo, laço o Acaso:
o esforço paga o preço
morta - sou folha morta
morrendo multiplico-me
sem trégua /sin/ copada
por usufruto - ao vivo!
que outros tenham morr'
ido, Amor,
capacita-nos mais:
mais quer'idos vividos
a Morte - de Imortais -
1045
a natureza
mais raro usa o amarelo
do que outra cor -
a ocasos resplandece
no azul dá-se em dobro
do carmim abusa - fêmea
o ouro montante
por pouco surpreende-a:
palavra-amantes
1081
suplantar-se ao destino
é lente de alto alcance
ser maior não confere
melhor visão ao longe
pouco de cada vez
concentração intensiva
dieta de economia
da alma ao éden - vias
1101
entre a forma de vida
e a vida
há diferenças táticas
como o licor ao lábio
e o lábil
licor-entre-cantabile
o de dentro, excelente
(dentro)
mas ao êxtase extremo
o do ar a ex'alar...
descontrai sentimentos
1126
devo acatá-la? oscila o poeta
ante a primeira escolha -
aguarde a vez: há candidatas
que ainda não pus à prova
após pesquisas filológicas
quase a ponto de alçá-la
eis que a palavra-apêndice
põe-se a si mesma em pauta
o parto aborta à vista
do mundo autonomeado
mas vem um serafim
e anuncia a palavra:
1129
dizer toda a verdade obrigue-nos
a círculos elipses -
brilho demais fulmina
retinas suscetíveis -
como o relâmpago à visão
de crianças assustadas
toda a verdade /obliquamente/
de modo a não cegá-las
1138
uma aranha arengando
em noite ilustrada d
s
s
s! (na arcada branca)
se se enreda em rufos
(atavios de fadas) se
em gnomos - mortalhas
per-sirgo-signo-sonha
eterno encômio
dáctilo táctil
fisio (g) nômico
1199
amigos - mal ou bem?
se o prêmio a pesar
vem
é sorte grande
se duram uma ilusão
abrem caminho vão
apenas fraude
1212
palavra morta
dizem da boca
pra fora
viva! digo eu:
nasceu no céu
da boca
1333
uma pequena loucura cura
até o rei da singapura
louvado seja o palhaço
cuja prebenda - sinecura
arcipreste como ver dura
dono de direito e fato
1510
errante alegria'zinha
sem eira nem beira - entre linhas -
corredeira dout(r)as carreiras
nem-te-ligo às carrancas feitas
casaquinho castanh'antanho
universal - vai dando de ombros
escalas rolantes - brilhando
de sol a sós - do pó ao sonho
cumprindo um decreto divino
- absoluta - ao seu estilo
1627
o pedigree do mel
não diz nada a uma
abelha
um trevo
sim
clorofila realezas
1755
fazer um prado atrai um trevo
e uma abelha -
um trevo uma abelha e
fantasia -
só fantasia faz - sem
menos nem mas
1763
a fama é abelha
cantando vem
mostra o ferrão
ai! - até asa tem
Poemas publicados
no Suplemento Literário de Minas Gerais,
ano XXI, nº 1.021, 03/05/1986, pp. 6 e 7
exceto o poema nº 249, capa de rosto do
SLMG, ano XX, nº 982, 27/07/1985
notas da tradutora
° ° °
Epitáfio para Emily Dickinson
una & nua
SUM
a a
MUS
dupla&plura
woman
EST
ética
PÓS
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UMA ERA
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775
poeMas
U.
S.
A.
completa
Maria do Carmo Ferreira
Maria do Carmo Ferreira?
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