Samplers
 Fabrício Marques 
Samplers


sinta meu pulso

Eis que projeto um poema sobre o abismo branco da página em alarme. Ao primeiro descuido e à minha revelia, jaz e volta, germe que adquire vida própria. Com poderes de reger-me, manda que eu vá pela selva selvagem dos textos e dos sentidos. E, antes de ir-me, com amor me olha, e diz, como diria meu pai: fique firme
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cantares

Põe-me como selo sobre o teu coração. Onde desconheço, me guiem tuas mãos. (Mesmo o sol é frio Quando amor não há) Com teus olhos, me faz ver o que não vejo. (No céu se movem nuvens com nervos de aço) Escuta, desce uma voz da amplidão: Põe-me como selo sobre o teu coração. Em cima, em baixo, antes, dentre sim e sempre e para além Estarei até não estar mais
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nada levar deste mundo sem sílabas sem letras sem textos ágrafo
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jardim para o sonho do tigre

brincam de ser minhas coisas que dizem ao mínimo silêncio, tenho fome e a sede se avizinha desexplicadas, as coisas se revelam revirando as trevas pelo avesso desperto do sonho cercado de paredes e, tigre, reconheço onde a minha fome quando o meu silêncio qual a minha sede
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neruda encontra lorca

De mim fugiam pássaros às quatro horas da tarde. Pássaros tranquilos, pássaros lentos de mim fugiam, deixando em meu peito, no entanto, suas asas. Às quatro horas da tarde sem vento.
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paisagem na neblina

O vento brando e breve soprou sobre o monjolo que, em movimento, cobriu as franjas do passado névoas, nódoas, nuvens, nadas E veio a bruma, acabrunhada
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na rua erma

na rua erma de ruídos retiro, de dentro dos monturos, um pouco de futuro um pouco de futuro separo com esmero e gravo, onde o ruído ainda é raro, um desejo: quero o abandono que só a noite dá quando já nem noite há
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poemas extraídos de Samplers, Ed. Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2000.

Fabrício Marques?

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Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes