FÁBRICA Fabiano Calixto
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fábrica eco de canção (de esguelha) no protetor de orelha o pé inoxidável retalhando odores constantes durante o turno uma leve sensação de chumbo cavalga as vértebras — o pássaro pousa num único lembrar de galho de árvore — uma gota de suor suspensa no óleo reafirma uma reação química máquinas (fábrica2) máquinas vapores produtos reagentes peças às dezenas (muro poroso: tabuleiro de xadrez) — tarde purgatório cozido cansaço — matemático-céu onde nuvens inteiras fracionam o sol último dia (fábrica 3) "Rust never sleeps" Neil Young bolor ao sol entre o maço de cigarros e a pedra que a sombra toca mas não absorve fungos e caveira verme- lhos os degraus os felizes muro-vitiligo (raízes que não crescem) o tempo não deixou de existir sem título margaridas tristes secas (grilos rotulam a noite) só um jardim ermo frio simples apenas. quase calçada coagulada paisagem — um corpo caído — dor- mido desprezo pétala mais cheirosa cerimônia de abutres e corvos (pulsações movimentos excreções em quase pedra) rastro de mosca bicheira impreceptível: quase calçada areia onde o lugar cabe num sopro onde cabe no rosto um estudo de barthes — à primeira vista o lodo é circunstancial — existir : etapa devorada pelo pó maio asfalto pneus e motores repouso de gotas chuva — o brilho dos postes reabastece a idéia de universo minguando, a lua observa a trajetória do calendário partitura ao som de si mesma a garoa rega a quaresma |
poemas do livro FÁBRICA, Alpharrabio Edições, Santo André, SP, 2000
Leia uma entrevista com o poeta em Balacobaco
Atualizada em 21/Mai/120 |
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: Elson Fróes |