CONTEMPLAÇÃO DO URBANO

(ENSAIO SOBRE A POESIA DE HART CRANE)

“Seus pensamentos entregues a mim,
Na colcha branca do travesseiro
Eu percebo agora, eram heranças
Cavaleiros delicados da tempestade.”

LOUVOR PARA UMA URNA

Hart Crane

 

I

           Ice, (o Harold) Hart (1899-1932), poeta lírico americano, é conhecido pela sua habilidade meticulosa e disciplinada, a celebração dos aspectos positivos da vida urbana e industrial moderna.

           Crane nasceu em 21 de julho de 1899, em Garrettsville, Ohio. Ele teve que morar com a avó materna em Cleveland de 1909 até o divorcio dos pais em 1916, quando deixou a escola secundaria e foi para Cidade de Nova Iorque. Lá foi estimulado pelo mundo literário, mas estava impossibilitado de se manter escrevendo. Finalmente, em 1921, se separou do pai, e escrever poesia passou a ser seu principal objetivo. Sua vida pessoal estava no processo de formação de uma mistura caótica de alcoolismo e homossexualidade.

           No Brasil Hart Crane é praticamente conhecido apenas em pequenos círculos de literatura e o seu poema Louvor Para Uma Urna, traduzido entre nós primeiro por Oswaldino Marques, depois Augusto de Campos e Bruno Tolentino, foi mais motivo de affaire do que propriamente uma discussão proveitosa na divulgação de sua poética.

           No presente contexto pretendo discutir a poesia de Hart Crane apresentando algumas estrofes de seus mais importantes poemas, traduzidos canhotescamente por mim, mais para que possa apoiar minha discussão que apresentar uma tradução da poesia de um simbolismo tão fechado como era a de Hart Crane.

           Ele era freqüentemente possesso por uma sensação de fracasso, mas sua poesia, enquanto influenciada por T. S. Eliot e Walt Whitman, todavia rejeitará o pessimismo e o cansaço do mundo dos primeiros poemas eliotianos.

           Os primeiros dois volumes publicados em vida, Edifícios Brancos (1926), chamaram pouca atenção da crítica. Embora Crane manifestasse uma influência do simbolismo, mostrou ser um poeta forte, original, de imagem notável e metáforas densas, livre-associativas. Escreveu algumas letras pequenas e efetivas, mas é melhor conhecido por A Ponte (1930), um poema central e ambicioso no qual esperou cercar a totalidade das visões americanas e de seus mitos. Ganhou o prêmio de Poesia anual Americana em 1930.

           Na poesia de Hart Crane de A Ponte move-se espacial e temporalmente de um lado para outro pela experiência americana. Com o fluxo unificado de uma águia em baixo de uma metrópole ao seu redor, a Brooklyn Bridge serve como um símbolo central do poema.

           Poemas notáveis na sua coleção incluem ainda Black Tambourines, Voyages, e Para o Matrimonio de Faustos e Helen, inspirados posteriormente, em parte, pela oposição à “poesia de negação” de T. S. Eliot.

 

II

           Começarei o meu ensaio citando de Brooklyn Bridge, poema longo e considerado como seu melhor e mais estruturado, suas estrofes iniciais:

Quando o amanhecer desaparece, resta um calafrio
A asa da gaivota irá emergir e girar-se-á inspirada,
Derramando anéis brancos de tumulto, construindo alta,
Em cima da baía encadeada, onde molha a Liberdade.

Como o marfim encurvado que abandona nossos olhos
Como aparentes velas de um veleiro que se cruzam
Alguns comentam que são imagens para serem guardadas;
Até que elevador nos dissimule o nosso dia...

Eu penso em cinemas, nos truques panorâmicos,
Com multidões presas para alguma cena reluzente
Nunca descoberta, mas para acelerar novamente,
Profetizando a outros olhos na mesma cena;

E vós, pelo porto, de passos prateados
Feito um o sol que surge, abandonado de vosso passo
Aquela sensação sempre por espreguiçar-se,
Implica novamente vossa liberdade!

           O simbolismo com imagens americanas nestes versos de Crane é absoluto sendo a primeira estrofe quase withimaniana, com seus símbolos característicos de liberdade e espaço, só que aqui Crane faz sua analogia com a estrutura dos cabos da ponte que na sua imensa curvatura lembram as velas de um veleiro ou as asas de uma gaivota voando sobre o mar.

           O urbanismo americano está magnificamente representado neste poema craneano onde o espaço sintetiza toda uma concepção contemplativa do bem estar onde o progresso é a verdadeira liberdade do indivíduo. A ponte não é apenas uma mera passagem, mas um rito místico do homem massacrado “Até que elevador nos dissimule o nosso dia...” para o homem que encontrou o seu eu verdadeiro ao contemplá-la “Com multidões presas para alguma cena reluzente/ nunca descoberta, mas para acelerar novamente, /Profetizando a outros olhos na mesma cena”; ou seja, dentro desta visão mística urbana o homem pode alçar vôo para a liberdade dos grandes espaços da América.

           O simbolismo craneano é tão místico que impõe à ponte poderes alheios, ou seja, seria algo como se a ponte representasse uma dualidade metafísica, na qual o homem moderno estaria livre das conseqüências da cidade e do espaço que ocuparia neste paraíso, uma vez que atravessa-se a ponte, como nas duas estrofes:

E se obscurece como aquele céu dos judeus,
A Vossa Recompensa... Vos Aguarda para que realmente doais
De um tempo de anonimato não pode ser glorificado:
Estremeço nesta constatação e perdôo que vós me mostrais.

Tocam harpa e altar, da fúria fundida,
(Como mera labuta alinha cordas do coro que vós encadeais!)
Entrada terrificada do empenhado profeta,
De oração de pária e o grito de amante,

           A ponte para Hart Crane aqui representa a purificação do eu para um eu libertado. É um estado de transcendência onde a ponte é uma experiência concreta de liberdade e de sua coisificação com o espaço absoluto.

           A idéia de progresso é uma conjugação tão confusa no ideal americano que transparece uma certa evangelização misturada ao ideal de bem estar, ou seja, parece que há uma autoculpa ou redenção em se construir esta aliança com além mundo que nos falava Nietzsche no aqui e agora. O que passa é uma experiência ou um credo religioso algo inerente ao espírito americano, pois o poeta é de formação católica e logo sua iconografia mística espacial deveria ser de uma outra ordem.

           Crane articula este ideal místico aliado ao progresso, ao extremo de que sem o progresso o homem é uma aura perdida no mundo. O homem está em pleno caos sem eixo para sua redenção e de seu encontro com o seu eu cósmico. A Ponte daria exatamente a resolução deste conflito entre o urbano e o individual primitivo, como nas estrofes:

Novamente os semáforos desatam-se da vossa pressa
Fala não dividida; — o suspiro imaculado de estrelas,
Encaminhando vosso caminho-condensado da eternidade:
E eu venho à noite erguido em vossos braços.

Debaixo de vós sombreia pelos cais que eu esperei;
Somente na escuridão vossa sombra é clara.
Os ferozes pacotes da cidade todos desfeitos
Já neve submergindo pelo ano férreo...

           O urbano é tão absoluto que as estrelas foram transpostas para os semáforos, que representam o estado de segurança do indivíduo, como se estas estrelas artificiais lhe pudessem indicar o único e verdadeiro caminho. O progresso seria então a sua última redenção de um mundo que só pode ser reconhecido quando desconhecido: “Debaixo de vós sombreia pelos cais que eu esperei; / Somente na escuridão vossa sombra é clara.”. Nestes versos o poeta nos dá o conflito do homem que está perdido nessa estranha catequese do progresso que o redimirá, embora o condene ao caos.

           A dimensão latente do eu de Hart Crane talvez esteja nesta procura de purgação de buscar um estado de acolhimento ou de bem estar com o progresso do mundo, pois esta sensação está presente no seu poema “A Torre Quebrada” escrito no México, do qual reproduzirei um trecho; pois este também é um longo poema, e sua importância está em ser o último grande poema do poeta antes de seu suicídio a 27 de abril:

O sino de corda que se junta a Deus ao amanhecer
Despacha-me como se eu derruba-se o seu dobrar
De um dia gasto — vagabundeado no gramado da catedral
Da cova ao crucifixo, os pés esfriam-se em passos de inferno.

Tenha não escutado ou visto aquele corpo de exército
Das sombras na torre que assumiam o seu balanço
Carrilhões antifônicos onde antes foram lançados
Estrelas são prisioneiras enxameadas dos raios do sol?

Os sinos, eu falo, dos sinos com suas torres;
Que pendem eu não sei onde. As suas línguas gravam
Membrana por tutano, minha marcação, difundiu-se longe
De ausentes intervalos.... E eu, o seu escravo sacristão!

Ovais encíclicas, canhões amontoados
O impasse alto com coro. Aterradas vozes assassinadas!
Pagodes, parceiros com os escoadouros toques de alvorada
A terra planou seus ecos que se prostraram na planície!...

E assim foi quando eu entrei no mundo estragado
Procurando companhia visionária do amor, sua voz,
Um momento no vento (eu não sei aonde foi lançada)
Mas não para longo apegar-me cada escolha desesperada.

           Se anteriormente Hart Crane havia encontrado este estado absoluto na sua Brooklyn Bridge, aqui encontra o estado de perda e de alheamento. O cenário iconográfico de sua poesia neste poema demonstra-se gótica ou até mesmo com nuanças surrealistas: “Tenha não escutado ou visto aquele corpo de exército/ Das sombras na torre que assumiam o seu balanço”, ou seja, parece que o cenário estático condena a alma progressista do poeta que antes se achava acolhido pelas luzes dos semáforos, ou pela escuridão de sua ponte, ou pela sonoridade dos cabos da ponte: “Vosso cabo murmura o silêncio do Atlântico Norte.”, estes cabos aqui são cordas que balançam os sinos e protagonizam o seu desaparecimento: “Das sombras na torre que assumiam o seu balanço/ Carrilhões antifônicos aonde antes foram lançados/ Estrelas são prisioneiras enxameadas dos raios do sol?”; ou seja, o poeta deslumbra a sua perda do reconhecimento do mundo.

           Hart Crane produziu só um poema memorável no México, “A Torre Quebrada” e bebeu até a extremidade da loucura. Voltando a Cidade de Nova Iorque através de um barco a vapor em 27 de abril de 1932, saltou e afogou-se no mar. Os Poemas Completos, Cartas Selecionadas e Prosa de Hart Crane apareceram em 1966.

 

Bibliografia:

Os Poemas de Hart Crane foram retirados do Site Poets'Corner.

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. O pintor e a vida moderna (Organizador e trad. Teixeira Coelho), Paz e Terra,1996.

BERMAN, Marhall. Tudo que é sólido desmancha-se no ar. A aventura da modernidade (tradução Carlos Felipe Moisés e Ana Maria Loretti), São Paulo, Companhias das Letras, 1986.

MARQUES, Oswaldino. Os Sonâmbulos e os Videntes. Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.1955. Traz nota biblio. do poeta.

CAMPOS, Augusto. Hart Crane A Poesia sem Troféus. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada, 7 de agosto de 1994.

TOLENTINO, Bruno. Crane anda para trás feito um caranguejo. O Estado de São Paulo, Caderno Cultura, 3 de setembro de 1994.

 

Biblio. Americana:

Bennett, M.F., Unfractured Idiom: Hart Crane and Modernism (1987); Brunner, E.J., Splendid Failure: Hart Crane and the Making of "The Bridge" (1985); Butterfield, R. W., The Broken Arc: A Study of Hart Crane (1969); Crane, Hart, The Complete Poems and Selected Letters and Prose of Hart Crane, ed. by Brom Weber (1966); Edelman, Lee, Transmemberment of Song: Hart Crane's Anatomies of Rhetoric and Desire (1987); Giles, Paul, Hart Crane: The Contexts of "The Bridge" (1986); Unterecker, John, Voyager: A Life of Hart Crane (1969; repr. 1987); Uroff, M. D., Hart Crane: The Patterns of His Poetry (1974).

 

Para Uma Ponte Do Brooklyn

Hart Crane

Quando o amanhecer desaparece, resta um calafrio
A asa da gaivota irá emergir e girar-se-á inspirada,
Derramando anéis brancos de tumulto, construindo alta,
Em cima da baía encadeada, onde molha a Liberdade.

Como o marfim encurvado que abandona nossos olhos
Como aparentes velas de um veleiro que se cruzam
Alguns comentam que são imagens para serem guardadas;
Até que elevador nos dissimule o nosso dia...

Eu penso em cinemas, nos truques panorâmicos,
Com multidões presas para alguma cena reluzente
nunca descoberta, mas para acelerar novamente,
Profetizando a outros olhos na mesma cena;

E vós, pelo porto, de passos prateados
Feito um o sol que surge, abandonado de vosso passo
Daquela sensação sempre por espreguiçar-se,
Implica novamente vossa liberdade!

Fora de alguma escotilha de metrô, cela ou sótão
Um encosto laminado acelera os vossos parapeitos,
Espreguiça-se um momento, feito uma camisa folgada,
E um gracejo cai da caravana muda.

Em Down Wall, uma viga mestra vaza ao meio-dia a rua,
Um rasgo de dente do acetileno do céu;
Durante à tarde tornando-se guindastes de áreas- nuvens...
Vosso cabo murmura o silêncio do Atlântico Norte.

E se obscurece como aquele céu dos judeus,
A Vossa Recompensa... Vos Aguarda para que realmente doais
De um tempo de anonimato não pode ser glorificado:
Estremeço nesta constatação e perdôo que vós me mostrais.

Tocam harpa e altar, da fúria fundida,
(Como mera labuta alinha cordas do coro que vós encadeais!)
Entrada terrificada do empenhado profeta,
De oração de pária e o grito de amante,

Novamente os semáforos desatam-se da vossa pressa
Fala não dividida; — o suspiro imaculado de estrelas,
Encaminhando vosso caminho-condensado da eternidade:
E eu venho à noite erguido em vossos braços.

Debaixo de vós sombreia pelos cais que eu esperei;
Somente na escuridão vossa sombra é clara.
Os ferozes pacotes da cidade todos desfeitos
Já neve submergindo pelo ano férreo...

O Insone, como o rio sob vós
Saltando o mar, o gramado sonhador das pradarias,
Até nós os mais humildes algum dia varram, e desçam
Da curvatura emprestada do mito a Deus.

Trad. Livre: Eric Ponty 97.

 

Louvor Para Uma Urna

In memoriam: Ernest Nelson
Hart Crane

Era uma face amável do norte
Isso criou o disfarce de exilado
Os olhos perpétuos de Pierrô
E, De Gargântua, o seu riso.

Seus pensamentos entregues a mim,
Na colcha branca do travesseiro
Eu percebo agora, eram heranças
Cavaleiros delicados da tempestade.

A lua inclinada na colina tendente
Uma vez orientada em nossos pressentimentos
Do que o morto mantém vivo ainda
Em tais existências da alma.

Empoleirado na entrada do crematório,
O relógio insistente comentava
Tocando bem em nosso elogio
De glórias formais do tempo.

Ainda, tendo em meio ao cabelo de ouro,
Eu não posso ver aquela sobrancelha presa
E que se perde no som seco de abelhas
Estiradas por um espaço lúcido.

Difunda estas palavras bem-significadas.
Na primaveril fonte enfumaçada que enche
Os subúrbios onde elas irão por último.
Estes não são nenhuns troféus do sol.

Trad. livre de Eric Ponty

 

Ladrador do norte

Uma terra de tendente gelo
Abraçada pelos arcos de cinzentos-gessos do céu,
Arremessos silenciosamente
na eternidade.

"Ninguém vem aqui para a ganhar,
Ou esconder o seu rubor mais lânguido
de seus reluzidos peitos?
Você não tenha nenhuma recordação, O escura ponte "?

O silencioso frio, só existe nos momentos inconstantes
daquela jornada que não vai para nenhuma Primavera —
Nenhum nascimento, nenhuma morte, nenhum tempo de nenhum sol
como resposta.

Trad. livre de Eric Ponty

 

Portador da mensagem

Minhas mãos não tocaram água com as suas mãos, —
Não; — nem meus lábios livraram do riso de ' Adeus'.
E como o dia, que se distancia novamente segue
Entre nós, mudos como uma concha desmontada.

Ainda, — muito segue, muito suporta... Solitários pássaros da confiança:
As asas de uma pomba se juntaram ontem à noite sobre meu coração
Surgindo com gentileza; e a pedra azul
pelo anel de aliança mais usada e mais iluminada.

 

Ensaio e traduções de © Éric Ponty

(in CONTEMPLAÇÃO DO BELO ADORMECIDO, Ed. A Voz do Lenheiro, Brasil, 1998, pag. 13.)


 

Originais em inglês:

To a Brooklyn Bridge

How many dawns, chill from his rippling rest
The seagull's wings shall dip and pivot him,
Shedding white rings of tumult, building high
Over the chained bay waters Liberty —

The, with iviolate curve, forsake our eyes
As apparitional as sails that cross
Some page of figures to be filed away;
— Till elevators drop us from our day...

I think of cinemas, panoramic sleights
With multitudes bent toward some flashing scene
Never disclosed, but hastened to again,
Foretold to other eyes on the same screen;

And Thee, across the harbor, silver-paced
As though the sun took step of thee, yet left
Some motion ever unspent in thy stride, —
Implicitly thy freedom staying thee!

Out of some subway scuttle, cell or loft
A bedlamite speeds to thy parapets,
Tilting there momently, shrill shirt ballooning,
A jest falls from the speechless caravan.

Down Wall, from girder into street noon leaks,
A rip-tooth of the sky's acetylene;
All afternoon the cloud-flown derricks turn...
Thy cables breathe the North Atlantic still.

And obscure as that heaven of the Jews,
Thy guerdon... Accolade thou dost bestow
Of anonymity time cannot raise:
Vibrant reprieve and pardon thou dost show.

O harp and altar, of the fury fused,
(How could mere toil align thy choiring strings!)
Terrified threshold of the prophet's pledge,
Prayer of pariah, and the lover's cry, —

Again the traffic lights that skim thy swift
Unfractioned idiom, immaculate sigh of stars,
Beading thy path — condense eternity:
And we have seen night lifted in thine arms.

Under thy shadow by the piers I waited;
Only in darkness is thy shadow clear.
The CIty's fiery parcels all undone,
Already snow submerges an iron year...

O Sleepless as the river under thee,
Vaulting the sea, the prairies' dreaming sod,
Unto us lowliest sometime sweep, descend
And of the curveship lend a myth to God.

Hart Crane

 

The Broken Tower

The bell-rope that gathers God at dawn
Dispatches me as though I dropped down the knell
Of a spent day — to wander the cathedral lawn
From pit to crucifix, feet chill on steps from hell.

Have you not heard, have you not seen that corps
Of shadows in the tower, whose shoulders sway
Antiphonal carillons launched before
The stars are caught and hived in the sun's ray?

The bells, I say, the bells break down their tower;
And swing I know not where. Their tongues engrave
Membrane through marrow, my long-scattered score
Of broken intervals.... And I, their sexton slave!

Oval encyclicals in canyons heaping
The impasse high with choir. Banked voices slain!
Pagodas, companiles with reveilles outleaping —
O terraced echoes prostrate on the plain!...

Hart Crane

 

Praise for an urn


In memorian: Ernest Nelson

It was a kind and northern face
That mingled in such exile guise
The everlasting eyes of Pierrot
And, of Gargantua the laughter.

His thoughts, delivered to me
From the wite coverlet and pillow,
I see now, were inheritances —
Delicate riders of the storm.

The slant moon on the slanting hill
Once moved us toward presentiments
Of what the dead keep, living still
And such assessments of the soul

As, perched in the crematory lobby,
The insistent clock commented on,
Touching as well upon our praise
Of glories proper to the time.

Still, having in mid gold hair,
I cannot see that broken brow
And miss the dry sound of bees
Stretching across a lucid space.

Scatter these well-meant idioms
Into the smoky spring that fills,
The suburbs, where they will be lost.
They are to trophies of the sun.

Hart Crane

 

North Labrador

A land of leaning ice
Hugged by plaster-grey arches of sky,
Flings itself silently
Into eternity.

"Has no one come here to win you,
Or left you with the faintest blush
Upon your glittering breasts?
Have you no memories, O Darkly Bright?"

Cold-hushed, there is only the shifting moments
That journey toward no Spring —
No birth, no death, no time nor sun
In answer.

Hart Crane

 

Carrier Letter

My hands have not touched water since your hands, —
No; — nor my lips freed laughter simce 'farewell'.
And with the day, distance again expands
Between us, voiceless as an uncoiled shell.

Yet, — much follows, much endures... Trust birds alone:
A dove's wings clung about my heart last night
With surging gentleness; and the blue stone
Set in the tryst-ring has but worn more bright.

Hart Crane

 

(matéria gentilmente enviada pelo autor para Pop Box)



Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes