Intradução
"... o poeta Augusto de Campos cunhou um termo feliz: intradução. Se tradução significa, originalmente, conduzir (dução) através (tra) de, já em intradução, o in pode tanto ser um sufixo de negação quanto de inserção, enquanto intra indica penetração. Temos, então, a um tempo, vários termos: in-tradução afirma seu carater de tradução penetrante ao mesmo tempo que nega-conserva a própria idéia de tradução; intra-dução simplesmente postula a atividade de penetrar. Se a tradução, propondo-se a levar através de, objetivava levar além de, a algum original mais originário, a intradução se propõe conduzir, texto adentro, a um fim por definição inalcançável. Este termo caracteriza bem uma operação que, ao contrário da tradução convencional, busca sua identidade na área da diferença, proporcionando, assim, o melhor dos acessos ao interior do poema. Podemos, então, definir intradução como a superação da tradução que enfoca a área da diferença, possibilitando uma história própria à sombra, que faz se erguer."
Nelson Ascher
in O TEXTO E SUA SOMBRA
(teses sobre a teoria da intradução),
Revista 34 Letras nº 3, Rio de Janeiro,
Ed. 34 Literatura S/C Ltda., 1989, pag. 150.