IMAGENS DO MUNDO FLUTUANTE RIVU A água mede o tempo em reflexos vítreos. Mudez de clepsidras, no sobrecéu ascendem (como anjos suspensos numa casa barroca), e em presença de ausências o tempo se distende. Uns seios de perfil, sono embalando a rede, campânula encurvada pelas águas da chuva. No horizonte invisível, dobras de anamorfoses; sombras que se insinuam, a matéria mental. SCHISMA Cobre se refletindo a ouro-fio nos olhos: sem pano nem cordame, os móbiles oscilam, barcos sem rumo, a esmo (desertos), rio adentro (no leito cambiante), sem remo ou vela ao vento. Vogam no entremeio, rio afora, no linde (os sonhos) - superfície. Nuvens e água, pênseis, a ouro-fio nos olhos. Inverso de mortalha, os lençóis correm em álveos: os barcos têm velâmens. RESTE Um vento anima os panos e as cortinas oscilam, fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz vai desenhando as coisas: tranças brancas no espelho, relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus volteios curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias. Filamentos dourados unem o alto e o baixo - horizonte invisível, abraço em leito alvo: velame de outros corpos na memória amorosa. VELU Lúcido pergaminho, pele argêntea, de prata (bolsa d'água, placenta), nas raízes aéreas. A cera e a polidez da pétala encoberta: brácteas que se abrem (túnica) e desabrocham: filandras e nervuras na placidez selvagem - flor e acontecimento que se desdobra em flor. (Velâmens, em camadas, evoluem no ar.) A gravidez sem peso dos pecíolos no limbo. Josely Vianna Baptista 26 de abril, 1998 (Em Inimigo Rumor nº5, Brasil, 1998) IMAGES OF THE FLOATING WORLD RIVUS Water marks time in hyaline reflections. Muteness of clepsidras, rising on the canopy (angels floating in a baroque house); in prescence of abscences time swells. Breasts in profile, sleep rocks the hammock, bellflower bowing in rain. Anamorphic plies on the invisible horizon; sidling shadows; mind's matter. SCHISMA Copper reflecting, golden section, in the eyes: without cloth or rigging, the mobiles stir, boats drifting, random (deserted), river within (on the iridiscent bed), no oar, no sail in the wind. Rowing, mid-river the river without, in the limitrophe (dreams) - surface. Cloud and water, shroud's inverse, sheets course in riverbeds: boats' sheets and shrouds. RESTIS Wind livens cloth and curtains quiver, pillowcases - linen (sleep), rough and friable; the sun passes the house (face asleep): glazing light paints: white plaits in the mirror, tarnished clocks, rotting rinds in their curving vaults, shuddering groundfloor panes, twine. Golden filaments link high and low - invisible horizon, embrace on a pale bed: other bodies' velamen in amorous memory. VELUM Translucent vellum, argentine skin, silver (waterskin, placenta), in aerial roots. Waxy polish of the enclosed petal: bracts opening (tunic) unfurl: philanders, nervures in savage placidity - flower, event unurling into flower. (Stratified rigging evolves in air.) Weightless gravity of petioles in limbo. translated by Chris Daniels |
Copyright © 1999 by Josely Vianna Baptista.
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: Elson Fróes |