Traduções de poemas de Paulo Leminski*
Tatiana Fernandes Guedes
"LIMITES AO LÉU POESIA: "words set to music" (Dante via Pound), "uma viagem ao desconhecido" (Maiakóvski), "cernes e medulas" (Ezra Pound), "a fala do infalável" (Goethe), "linguagem voltada para a sua própria materialidade" (Jákobson), "permanente hesitação entre som e sentido" (Paul Valéry), "fundação do ser mediante a palavra" (Heidegger), "a religião original da humanidade" (Novalis), "as melhores palavras na melhor ordem" (Coleridge), "emoção relembrada na tranqüilidade" (Wordsworth), "ciência e paixão" (Alfred de Vigny), "se faz com palavras, não com idéias" (Mallarmé), "música que se faz com idéias" (Ricardo Reis/Fernando Pessoa), "um fingimento deveras" (Fernando Pessoa), "criticism of life" (Mathew Arnold), "palavra-coisa" (Sartre), "linguagem em estado de pureza selvagem" (Octavio Paz), "poetry is to inspire" (Bob Dylan), "design de linguagem" (Décio Pignatari), "lo impossible hecho possible" (García Lorca), "aquilo que se perde na tradução" (Robert Frost), "a liberdade da minha linguagem" (Paulo Leminski)..." |
(LEMINSKI, Paulo. La vie en close. São Paulo: Brasiliense, 1995, 5 ed, p. 10. )
"Ainda que, no dizer de Octavio Paz, seja o poema 'um objeto verbal feito de signos insubstituíveis e irremovíveis', a impossibilidade de substituição e remoção só vige dentro da língua em que ele foi composto, onde se constitui numa ocorrência singular e irrepetível. Mas essa ocorrência é transponível a outra língua desde que nesta sejam encontrados signos equivalentes ou aproximados capazes de expressar-lhe não só o significado conceitual e afetivo (conotativo) como também o caráter especial das ligações estabelecidas entre os signos, as quais, transcendendo a ordem da gramática, passam a integrar a ordem da poesia." (PAES: 1990; 40.) |
"É evidente que, na tradução, é praticamente impossível manter idênticos paralelismos fonéticos. Mas eles fazem parte da manifestação, da atualização da função poética no poema, ou seja, do princípio de equivalência enquanto constituinte básico da gramática que individualiza o texto em sua unidade global e globalizante. Não pode, portanto, o tradutor ignorá-lo." (LARANJEIRA: 1993; 38.) |
"Isto quer dizer que uma boa tradução deve atender tanto ao conteúdo quanto à forma do original, pois a equivalência textual é uma questão de conteúdo, e a correspondência formal, como o nome está dizendo, é uma questão de forma." (CAMPOS: 1987; 48 - 50.) |
"... a tradução literário-artística, compreendemo-la como resultante da 'interação de toda atividade filológica' e naturalmente pode ser executada apenas por indivíduos que, além de disporem de excelente conhecimento dos dois idiomas e dominarem o espírito da língua para a qual vertem o original, tenham absorvido a obra literária em todas as suas ramificações." (THEODOR: 1976; 93.) |
"O Professor Paulo Vizioli responde explicitamente que não, que basta 'possuir[...] um excelente domínio das línguas de partida e de chegada' e 'o gosto pelo verso'. (VIZIOLI, Paulo. Tradução e Comunicação. n.2, p. 111.) Acha até que a 'versão de poesia' é o 'serviço militar do tradutor' e embora constitua 'atividade eivada de dificuldades, algumas das quais insuperáveis [...], pode ser empreendida e levada de cabo a rabo com razoável margem de sucesso'. Devo dizer que apenas parcialmente concordo com essa colocação do mestre e tradutor de poesia que sempre mereceu o meu respeito e admiração. Parece haver aí uma generalização indevida. Há que se distinguir entre a tradução poética praticada como exercício, como se pode praticar exercícios de natação: tendo-se gosto pela coisa e um mínimo de aptidão, pode chegar-se até a nadar tecnicamente bem e obter nisso satisfação pessoal. Não significa, entretanto, que se chegue a ser um campeão de saltos ornamentais." (LARANJEIRA, 1993; 37.) |
"OLHAR PARALISADOR Nº 91 o olhar da cobra pára dispara paralisa o pássaro meu olhar cai de mim laser luar meu despertar despertar meu amor desesperado do meu olhar meu mau olhado despertador meu olhar leitor" "PARALYZING GAZE 91 the gaze of the cobra lies belays paralyzes the bird my gaze falls away lunar laser my awekening to arouse my disarming love from my alarming my evil eye gaze my gaze reader" |
"meu despertar meu amor desesperado meu mau olhado despertar do meu olhar despertador" OU "meu despertar despertar meu amor desesperado do meu olhar meu mau olhado despertador" |
"Entramos, assim, noutro enfoque da mesma polêmica: a oposição entre obra original e tradução, que costuma valorizar a primeira em detrimento da segunda. Em primeiro lugar, a singularidade marcaria positivamente o original. 'O poema é solitário [...]: um poema só é efetivamente poema na medida em que é absolutamente singular'. (LACOUE-LABARTHE, La Poésie conne expérience II, p. 354). À tradução costuma-se atribuir, como marca negativa, a pluralidade. Um mesmo e único poema pode ser — e tem sido freqüentemente — traduzido por várias pessoas em várias épocas e para várias línguas." (1993; 38.) |
"O BICHO ALFABETO O bicho alfabeto tem vinte e três patas ou quase por onde ele passa nascem palavras e frases como frases se fazem asas palavras o vento leve o bicho alfabeto passa fica o que não se escreve" "THE ANIMAL ALPHABET The animal alphabet has twenty-three paws more or less where it passes words and phrases are born like phrases wings are fashioned words the slight wind the animal alphabet passes what one does not write remains" |
"Entre essas duas opiniões, tão extremadas e radicais, cabe a ponderação, muitas e muitas vezes confirmada pela prática, de que há textos mais traduzíveis, relativamente, em vez de textos traduzíveis ou intraduzíveis, absolutamente. (...) John Cunnison Catford, ensaísta inglês(...), diz que a intraduzibilidade lingüística acontece toda vez que se trata de uma ambigüidade peculiar à língua-fonte e que no texto assume importância principal, como no caso dos trocadilhos, por exemplo. De outras vezes a intraduzibilidade resulta de não existirem situações idênticas na cultura de uma língua e na da outra." (LARANJEIRA: 1993; 126) |
"Uma das dificuldades muito justificadas do tradutor prende-se à polimorfia léxica. Existindo em um idioma vários termos para a mesma acepção, e dependendo o uso de um ou outro exclusivamente do critério de preferência acidental, verificável literariamente apenas pelo exame de freqüência, ver-se-á o tradutor no estrangeiro a braços com problema bastante sério." (THEODOR: 1976; 127.) |
"nada que o sol não explique tudo que a lua mais chique não tem chuva que desbote essa flor" "nothing the sun could not explain everything the moon makes glamorous no rain fades this flower" |
"A poesia supera e suplanta o indizível por sua capacidade intrínseca de gerar sentidos não-referenciais, afastando-se da mimese em benefício da semiose, rompendo a linguagem tética através do processo de significância. Tanto assim que há belíssimos textos poéticos que se tornariam banais, ou até ridículos, se glosados em linguagem linear e referencial, na linguagem que se convencionou chamar de objetiva e racional, castrando-os assim na sua potência, na sua capacidade básica de gerar sentidos." (LARANJEIRA: 1993; 24.) |
"Como o ato de tradução é um ato hermenêutico por excelência, de penetração no significado e de explicação dele em outro meio lingüístico, pode bem acontecer de, por um efeito de refração (e a ampliação é um fenômeno refrativo), o tradutor revelar-se mais enfático ou mais explícito que o próprio autor. Donde o cotejo do original de um poema com sua tradução auxiliar-lhe muitas vezes o entendimento, mesmo para aqueles que tenham domínio da língua do original." (PAES: 1990; 39.) |
"o pauloleminski é um cachorro louco que deve ser morto a pau a pedra a fogo a pique senão é bem capaz o filhadaputa de fazer chover em nosso piquenique" "pauloleminski is a mad dog that must be beaten to death with a rock with a stick by a flame by a kick or else he might very well the sonofabitch spoil our picnic" |
"cortinas de seda o vento entra sem pedir licença" "silk curtains the wind blows in without permission" |
"dois loucos no bairro um passa os dias chutando postes para ver se acendem o outro as noites apagando palavras contra um papel branco todo bairro tem um louco que o bairro trata bem só falta mais um pouco prá eu ser tratado também" "TWO MADMEN IN THE NEIGHBORHOOD one of them spends his days kicking lampposts to see if they light up the second its nights erasing words from white paper every neighborhood has a madman it takes beneath its wing not long till I can be treated for the same damn thing" |
"Tão específica é a tradução do poema que muitos a julgam, por natureza, impossível. A posição que defendo, entretanto, é a de que não só o poema pode ser traduzido mas pode instaurar um 'texto' na língua-cultura de chegada, tão válido quanto qualquer outro texto produzido nessa mesma língua-cultura. A intradutibilidade do poético não é um fato ligado a uma natureza, mas a uma ideologia dualista que recuso aceitar." (LARANJEIRA: 1993; 146) |
Tatiana Fernandes Guedes
Bibliografia
*OBS.: Monografia apresentada como exigência para a obtenção do diploma do curso de Letras - Tradução e Interpretação da Faculdade Ibero-Americana de Letas e Ciências Humanas, sob a orientação da Prof. Fátima Andreoli Della Torre.
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