Em causa própria
para reavivar a memória de Aramis Millarch
Paulo Leminski
Em seu último (ou mais recente?) número, o prestimoso tablóide “Raiz”, da Secretaria de Cultura e Esporte, abordou a música popular paranaense, esse objeto de ficção, tema da literatura fantástica, como as esfinges, as sereias e a hidra de Lerna.
Nele, nosso Aramis Millarch, impávida memória da raça, num artigo editorial que se pretende abrangente sobre à MPB, comete algumas amnésias que me apresso em preencher. Esquecimento, é uma coisa. Até a memória do Aramis deve falhar, às vezes... Injustiça é outra coisa.
O repórter termina sua matéria com a frase bombástica:
“No Paraná, responda rápido, quantos discos de artistas paranaenses foram gravados nos últimos dez anos? E quem conseguiu, realmente, uma projeção, não digo nem nacional, mas ao menos regional?”
Não tenho pretensões a projeções, o que me parece ambição própria de foguete da NASA ou míssil balístico intercontinental. Mas tenho dado minhas cacetadas, como diria o Didi dos Trapalhões.
De 1981 (“Verdura”, gravada por Caetano Veloso), entre músicas e letras só minhas, e letras com parceiros, Estou presente em dezesseis Lps gravados, não independentes, por gravadoras do eixo Rio-S. Paulo.
Ei-las, já que ninguém teve o trabalho ou a decência de lembrá-las, nesta aldeia ingrata, pântano de rancor, inveja e maledicência, vila madrasta que nos condena a todos, onde todos nos condenamos à mediocridade e ao silêncio. (letra e música)
Verdura, interpretada por Caetano Veloso, no LP “Outras Palavras”, Philips. 1981. Verdura, cantada por Caetano, é tema musical do filme “O Reis da Vela”, de Zé Celso Martinez e Noilton, filmagem da peça de Oswald de Andrade.
Mudança de Estação, pela cor do som, no LP de mesmo nome, 1981, Odeon. Com A Cor do Som a música foi cantada no Fantástico, na Globo.
Valeu, interpretada por Paulinho Boca de Cantor, no LP de mesmo nome, JQN discos, 1981.
Razão, pela Cor do Som, no LP “Magia Tropical”, 1983, Odeon.
Se Houver Céu, Por Paulinho Boca de Cantor, no LP “Prazer de Viver”, Poliygram, 1982. (como letrista e músico)
Oração de um Suicida (com Pedro Leminski) Sou Legal, Eu Sei, Não Posso Ver, Palavras, Hoje, Marinheiro, Quanto Tempo Mais, com Ivo Rodrigues, no LP “Blindagem”, 1981, Continental.
Xixi nas estrelas, Circo Pirado, Milonguera, Cadê Vocês?, Frevo Palhaço, o Prazer do Poder, Viva a Vitamina, no LP Pirlimpimpim, 1984, Sigla/Som Livre. Esse LP, que eu fiz com Guilherme Arantes, foi a trilha sonora de uma musical infantil da Globo, que saiu numa Sexta Super. Xixi nas estrelas, que tocou no Brasil inteiro, foi o nome do Show de Guilherme Arantes, no Canecão e no Maksoud Plaza, em São Paulo.
Vamos Nessa, no LP por Itamar Assunção, no LP “Sampa Midnight”, 1986.
Decote Pronunciado, Pernambuco Meu e Baile no Meu Coração, no LP “Coisa Acesa”, 1982, Ariola. Baile no Meu Coração também foi gravada pelo MPB4, no LP “Caminhos Livres”, 1983, Ariola. E foi gravada em Portugal pelo conjunto Os Trovantes.
Teu Cabelo, Oxalá no LP “Pintando o Oito”, 1983, Ariola.
Mancha de Dendê não sai, no LP de mesmo nome, 1984, CBS.
Alma de Guitarra, no LP “Instrumentos de Deus”, 1985, CBS.
Morena Absolura, Desejo Manifesto, no LP “Mestiço é isso”, 1986, CBS.
Sempre Angela, no LP “Sempre Ângela”, de Angela Maria, 1984, Odeon.
Promessas Demais, no LP “Mato Grosso”, de Ney Matogrosso, 1982, Ariola, tema da novela “Paraíso”, da Globo.
E aí, meu caro Aramis Millarch, como é que fica? Ou você só tem ouvidos para Airton Moreira e Flora Purim?
Vamos e venhamos, meu amigo. É muita ignorância e amnésia para quem é considerado a memória absoluta do jornalismo cultural de Curitiba.
Ou será que seria outra coisa?
PAULO LEMINSKI |
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