um dia desses quero ser
um grande poeta inglês
do século passado
e dizer
ó céu ó mar ó clã ó destino
lutar na índia em 1866
e sumir num naufrágio clandestino


	°


a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa


	°


apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme


	°


DANÇA DA CHUVA

senhorita chuva
me concede a honra
desta contradança
e vamos sair
por esses campos
ao som desta chuva
que cai sobre o teclado
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	°


casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
		abana o rabo


	°


entre a dívida externa
e a dúvida interna
meu coração 
comercial
	alterna


	°


o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique
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	°


o barro
toma a forma
que você quiser

você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer


	°


parem
eu confesso
sou poeta 

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face 

parem
eu confesso
sou poeta 

só meu amor é meu deus 

eu sou o seu profeta 


	°


pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar 

só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar 

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	°


aves 
        de ramo
                        em ramo

meu pensamento
                             de rima 
                                          em rima
                                                         erra

até uma 
              que diz
                            te amo


	°


ali
só
ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece


	°


eu 
quando olho nos olhos 
sei quando uma pessoa 
está por dentro 
ou está por fora 
                 
quem está por fora 
não segura 
um olhar que demora 
                 
de dentro de meu centro 
este poema me olha


	°

um poema
que não se entende
é digno de nota

a dignidade suprema
de um navio
perdendo a rota


	°


soprando este bambu
só tiro
o que lhe deu o vento


	°


um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada

depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lórca um éluard um ginsberg

por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores


	°
	

   hoje à noite
até as estrelas
   cheiram a flor de laranjeira


	°
	
moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

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original 1982

 

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sol lua

 

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