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Copyright © Manoel Ricardo de Lima |
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manoel ricardo de lima · poemas ·
A lua
180499
Como pensar matéria própria se a paisagem adiante
impede? Reger o ritmo, a partir de, é tomar o destino
da samambaia, da saxífraga. Mesmo o pneu do carro,
fator redivivo, motor, principia ao esgotamento da
estrada: estar indo, ter ido, poder não-ir. Mas assim,
como quem canta, a lua redescobre função: indica a
estrela o lado: ser matéria própria, não paisagem.
A guerra
220499
Para a esfera não há possibilidade de um happy end
- o desvelo da notícia, o tiro. A morte encontra de um
outro lado o impreciso. Tormenta. Exangue, ressaibos e concessões. Substrato de guerra, condição humana, perjúrio, insuspeição. Devastada, o que é esfera, não mais círculo: exímio. Tudo, nada é.
A vitrola
280499
Foi o olho do outro na música. Na voz, na reentré de Ella Fitzgerald. Nem tanto, o esgotamento enrola. A rua contínua, a provocação: desentope. Se para a vitrola a música tem e refestela a agulha, sobras requerendo. Para a música a vitrola tem tudo. Senta, revolta. Toda a atribuição do som renega a si. E fica a vitrola, a desentoar, sem fim.
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O tempo
290499
para Wilson Bueno
Bom você, exigente, tenha gostado de minha saparia.
Todo carinho. Foi o que afirmou, contrito. Fazer
amigo é fato para a vida. Depois resoluto, certo em
quase:
Amor vai embora mas nasce no chão do que segue
ainda mais rumoroso.
A solidão
010599
Depois, ao lado da morada, a casa. O quarto, quase.
Malogro: amor não tranqüilo. Vem de uma alameda e
plátanos, tremores e revés. Degrada a impossibilidade, uma trempe. O que deveria, sexo. A porra devora
a palavra não dita. Pudera, pudera: ah! - sensação de abandono.
A lágrima
250599
Nada mais em contraponto: o riso, o choro. Nada mais tanto parece: a fisionomia do riso, a do choro. É a desfaçatez. Negar um é o princípio do outro. Como o não-filme: Blade Runner. Lá, a lágrima perde espaço. A chuva a encerra: é ela o próprio tempo. "Quem vive?", a pergunta.
O crisântemo
250599
Ser nada. A melhor, a maior idéia. O que é não cultivo, mas que deveria. Ser nada: ler poemas de amor para olhos atentos, a espera que a ladeira tenha fim sozinha, o paralelepípedo. À vista, crescer o crisântemo. Aí, sim. Para a vida dar boa aparência e delicadeza.
Um plágio (ou outro apanágio de guerra)
210699
Setembro e chuva. 1939. A desfeita poderia não ter data, hora, tempo. A palavra é de Rubem, o sempre-velho-bom, urso. Fluxo, refluxo, in-defluxo. Repetição. O primeiro dia de setembro. Quinze para as doze. Manhã e chuvas às avessas, amorfas. Morosas com textura, grandes. E doces. Sombra: e morte sobre o mundo.
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