Pablo
Neruda
Chile, 1904-1973

 


Livro das Perguntas

Hay algo más tonto em la vida que llamarse Pablo Neruda? A quien le puedo preguntar qué vine hacer en este mundo? Y qué importancia tengo yo en el tribunal del olvido? Entonces non era verdad que vivía Dios en la luna? Mi poesía desdichada mirará con los ojos míos? Por qué me pican las pulgas y los sargentos literarios? Que dirán de mi poesía los que no tocaron mi sangre? Puedo preguntar a mi libro si es verdad que yo lo escribi? Por qué en las épocas oscuras se escribe con tinta invisible? Por qué detesto las ciudades con olor a mujer y orina? Quién devoró frente a mis ojos un tiburón lleno de pústulas? Por qué me preguntan las olas lo mismo que yo les pregunto? Por qué no nací misterioso? Por qué creci sin compañia? Con las virtudes que olvidé me puedo hacer un traje nuevo? Dónde está el niño que yo fui sigue adentro de mí o se fue? Sabe que no lo quise nunca y que tampoco me quería? Por qué anduvimos tanto tiempo creciendo para separarnos? Por qué no morimos los dos cuando mi infancia se murió? Ayer, ayer dije a mis hojos cuándo volveremos a vernos? No es mejor nunca que tarde? Y yo a listones amarillos? En que ventana me quedé mirando el tiempo sepultado? O lo que miro desde lejos es lo que no he vivido aún? Qué me esperaba en Isla Negra? La verdad verde o el decoro? Si he muerto y no me he dado cuenta a quién le pregunto la hora? Quién me mandó desvencillar las puertas de mi proprio orgullo? Es verdad que vuela de noche sobre mi patria un cóndor negro? Qué pesan más en la cintura los dolores o los recuerdos? Y qué me dió por transmigrar si viven en Chile mis huesos? Por qué me muevo sin querer por qué no puedo estar inmóvil? Y si el alma se me cayó por qué me sigue el esqueleto? Por qué voy rodando sin ruedas volando sin alas ni plumas? Por qué mi ropa desteñida se agita como una bandera? Qué bandera se despllegó allí donde no me olvidaron? Fué adónde a mi me perdieron que logré por fin encontrarme? Y donde termina el espacio se llama muerte o infinito? Por qué volví a la indiferencia del océano desmedido? Crees que el luto te adelanta la bandera de tu destino? Por qué me he cerrado el camino caiendo en la trampa del mar? Que significa persistir en el callejón de la muerte? En el mar de no pasa nada hay vestido para morir? Trabajan la sal y el azúcar construyendo una torre blanca? Dónde está el centro del mar? Por qué no van allí las olas? Yo llegué de detrás del mar y dónde voy cuando me ataja? No sientes también el peligro en la carcajada del mar? Dónde termina el arco iris, en tu alma o en el horizonte? Cuando veo de nuevo el mar el mar me ha visto o no me ha visto? No lloras rodeado de risa con las botellas del olvido? Cuánto media el pulpo negro que oscureció la paz del día? No será nuestra vida un túnel entre dos vagas claridades? O no será uma claridad entre dos triângulos oscuros? No crees que vive la muerte dentro del sol de una cereza? La muerte será de no ser o de sustancias peligrosas? Debo escoger esta mañana entre el mar desnudo y el cielo? Pero sabes de dónde viene la muerte, de arriba o de abajo? No será la muerte por fin una cocina interminable? O no será la vida un pez preparado para ser pájaro?

Livro das Perguntas

Tem coisa mais boba na vida que chamar-se Pablo Neruda? Que vim fazer neste planeta? A quem dirijo esta pergunta? E que importância tenho eu no tribunal do esquecimento? Não era verdade que Deus vivia no mundo da lua? Minha poesia desgarrada abr'olhos com estes olhos meus? Por que me picam as pulgas e os sargentos da literatura? Que dirão da minha poesia os que não tocaram meu sangue? Posso perguntar ao meu livro se eu mesmo o escrevi? Desde quando? Por que nas épocas obscuras se escreve com uma tinta extinta? E por que detesto as cidades com cheiro de mulher e urina? Quem devorou rente aos meus olhos um tubarão cheio de pústulas? Por que andam as ondas me indagando sobre as mesmíssimas perguntas? Por que não nasci misterioso? Por que cresci sem companhia? Das tais virtudes que esqueci dá pra fazer um terno novo? Onde está o menino que fui: anda comigo ou evaporou-se? Sabe que nunca fui com ele nem ele comigo tampouco? Por que estivemos tanto tempo crescendo para essa ruptura? Quando minha infância se foi por que nós dois não fomos junto? Ainda ontem disse aos meus olhos: quando de novo nos veremos? Não é melhor nunca que tarde dentro de listões amarelos? Em que janela me quedei em busca do tempo, se pulcro? Ou o que diviso destes ermos ainda não passa de futuro? Que me esperava em Ilha Negra: verdades verdes? compostura? Se morri e não me dei conta morto, a'hora, a quem me pergunto? Quem me mandou desvencilhar-me das portas do meu amor-próprio? É verdade que um condor negro sobrevoa minha pátria noite? Que há de pesar mais na cintura: padecimentos? memórias? Que deu em mim de transmigrar se vivem no Chile meus ossos? Por que me movo sem querer? Por que estou sempre desinquieto? E se minh'alma desabou por que meu esqueleto prossegue? Por que vou girando sem rodas e voando sem asas nem penas? Por que minha roupa desbotada se agita como uma bandeira? E que bandeira tremulou no espaço em que não me esqueceram? Pois não foi onde me perderam que eu me dei, enfim, por achado? Esse onde onde termina o espaço se chama de morte ou infinito? Por que voltei à indiferença do maroceano desmedido? Achas que o luto te antecipa à bandeira do teu destino? Se caí no laço do mar por que fechei os meus caminhos? Que significa persistir no beco da morte-sem-saída? E no mar do não-passa-nada mortalha faz algum sentido? Por que trabalham sal e açúcar construindo-se uma torre branca? Onde fica o umbigo do mar? Por que até ali não chegam as ondas? Foi das costas do mar que eu vim: para onde vou quando me atalha? Não sentes também o perigo na gargalhada do maralto? Onde terminará o arco-íris: dentro da alma ou no horizonte? Vejo de novo o mar ab ovo: o mar me viu ou botou banca? Não choras rodeado de risos - só - com as garrafas do vazio? Quanto media o polvo negro que obscureceu a paz do dia? Não será nossa vida um túnel entre duas vagas claridades? Ou não será uma claridade entre dois triângulos escuros? E não achas que a morte vinga dentro do sol de uma cereja? Ou que em perigosas substâncias do não ser, a morte lateja? Devo escolher esta manhã entre o céu e o mar, tudo ou nada? Quem sabe lá de onde é que vem a morte: de cima ou de baixo? A morte não seria enfim uma cozinha interminável? Ou não seria a vida um peixe preparado para ser pássaro?
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Neruda: um cogito

Cuál es el trabajo forzado de Hitler en el infierno? Pinta paredes o cadáveres? gás de sus muertos? Le dan a comer las cenizas de tantos niños calcinados? O le han dado desde su muerte de beber sangre en un embudo? O le martillan en la boca los arrancados dientes de oro? O le acuestan para dormir sobre sus alambres de púas? O le están tatuando la piel para lámparas del infierno? O lo muerden sin compasión los negros mastines del fuego? O debe de noche y de día viajar sin tregua con sus presos O debe morir sin morir eternamente bajo el gas? Livro das Perguntas, (pp.LXX - LXXI)

Neruda: um cogito

Qual é o trabalho forçado de Adolf Hitler no inferno? Pinta paredes? Cadáveres? Fareja o gás de suas vítimas? Terá que ingerir as cinzas dos meninos calcinados? Ou desde sua morte há de beber sangue num funil? Ou lhe martelam na boca os dentes de ouro arrancados? Ou sobre arames farpados lhe concederão dormir? Vão ver sua pele tatuada nos abajures de adorno? Ou negros mastins de fogo dele se incumbem no inferno? Deve de noite e de dia em trégua andar com seus presos? Ou morrerá pouco a pouco sob o mesmo gás eterno?
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Neruda: uma leitura

Entre las orquídeas y el trigo para cuál es la preferencia? Por que tanto lujo a una flor y un oro sucio para el trigo? Si todos los ríos son dulces de dónde saca sal el mar? Y no naufragan los veleros por un exceso de vocales? Quién da los nombres y los números al inocente innumerable? Cómo se acuerda con los pájaros la traducción de sus idiomas? En el desierto de la sal cómo se puede florecer? Cuando ya se fueron los huesos quién vive en el polvo final? Tendré mi olor y mis dolores cuando yo duerma destruido? Quién era aquella que te amó en el sueño, cuando dormías? Talvez una estrella invisible será el cielo de los suicidas? Y por que el cielo está vestido tan temprano con sus neblinas? Cómo se llama la tristeza en una oveja solitaria? Si las moscas fabrican miel ofenderán a las abejas? Hay sitio para unas espinas? le preguntaron al rosal. Por qué es tan dura la dulzura del corazón de la cereza?

Neruda: uma leitura

§ entre as orquídeas e o trigo que preferência confere a uma só flor tanto luxo e ao trigo (cal) ouro sujo? § se é doce a água dos rios de onde tira sal o mar? e não naufraga o navio vogando em vogais demais? § quem fornece nomes-numes ao inocente inumerável? a intradução dos idiomas conciliará pari pássaros? § é possível florescer sobre um deserto de sal? quando já se foram os n(ossos quem vive no pó final? § terei meus cheiros-o-dores quando dormir destru... ido? quem era (hera?) te amando que o sonho encampa dormindo? § será uma estrela-in-visível (talvez?) o céu dos suicidas? e por que o céu-in-vestido se encerra com suas neblinas? § como se chama a tristeza numa ovelha sol-it-ária? moscas fabricando mel ofenderiam as abelhas? § há espaço para uns espinhos? (alguém pergunta à roseira) por que é tão dura a doçura do coração das cerejas?
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seleção/montagem/tradução: m. c. ferreira

 

Maria do Carmo Ferreira?

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Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes