Talvez a mais famosa NÃO autoria seja a do poema "Instantes", atribuída a Jorge Luís Borges. O "Namorada", de Artur da Távola, é outro que se atribui a Drummond, mas é de Távola. Também um outro, de Eduardo Alves da Costa, seria de autoria de Bertolt Brecht, ou Vladimir Maiakóvski. Vários sonetos de Camões, dizem que ele não os escreveu. Aqui no Ceará temos o Quintino Cunha, poeta e sátiro. Basta surgir uma presepada nova no trecho e a gente diz: É do Quintino! Da mesma forma, na Bahia, Gregório leva a culpa por muita coisa que não fez. É assim mesmo. A seguir, artigo de José Nêumanne Pinto sobre o tema. Soares Feitosa |
Instantes, o mais popular "poema de Borges" - que induziu Roberto Campos
e Moacyr Scliar a erro, é profusamente citado em epígrafes de livros de
poesia, está impresso em pôsteres e mobiliza multidões de leitores
escrevendo para os articulistas que o reproduzem - nunca foi escrito por
Jorge Luís Borges. Mas continua navegando na Internet com sua grife
falsa, em meio a alertas sobre os perigos do Aspartame, correntes que
prometem alimentar crianças pobres com um simples toque na tecla e
promessas de cheques em dólares em troca de informações sobre novos
procedimentos na rede.
José Nêumanne
Instantes
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos - não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo. De Nadine Stair - Atribuído a Jorge Luís Borges Marionete Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo, e me presenteasse um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco e sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detêm, despertaria quando os demais dormem, escutaria enquanto os demais falam, e como desfrutaria de um bom sorvete de chocolate... Se Deus me obsequiasse um pedaço de vida, me vestiria com simplicidade, me atiraria de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente meu corpo, mas também minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração.... Escriveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol. Pintaria com un sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Benedetti, que ofereceria à lua. Regaria con minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos, e o encarnado beijo de suas pétalas... Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer à gente que quero, que a quiero. Convenceria a cada mulher e homem de que são meus favoritos e viveria enamorado do amor. Aos homens provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de enamorar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se enamorar. A uma criança daria asas, mas deixaria que ela aprendesse a voar sozinha. Aos velhos, a meus velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi de vocês, homens.... Aprendi que o mundo todo quer viver no alto da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno polegar pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem amarrado para sempre. Aprendido que um homem unicamente tem direito de olhar outro hombre de cima para baixo, quando o tiver ajudado a se levantar. São tantas coisas as que pude aprender de vocês, mas finalmente de muito não haverão de servir porque quando me guardem dentro desta maleta, infelizmente estaria morrendo.... De autor anônimo - Atribuído a García Márquez Trecho de No caminho com Maiakóvski Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. De Eduardo Alves da Costa - Atribuído a Bertolt Brecht e Vladimir Maiakóvski.
(matéria gentilmente cedida pelo autor para Pop Box)
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