brisa da noite
a t r a v e s s a
teia de aranha
orvalhada
um leve tremor de trevos
—
quem alma...
meu cachorro tem sualma
uma alma de cachorro
Eu tenho a minha, minhalma
Será que voa se morro?
Ah, samambaia mimosa
seria verde sualma?
Ou, quem sabe, verde rosa
verosade samambalma?
O pé de ipê tem sualma
uma alma florisbela
Eu tenho a minha, minhalma
florispê, alminhadela?
Ai, marosa, maramado,
será lazúli sualma?
Ou quiçá, verdazulado
diz, almar, que a minha salga!
Clarispectros espelhos
Hilst, vida, de si mesma
desalmares são vermelhos
quem alma nave alma lesma?
Ô, quasímodo, quibungo,
falanges de querubins,
belezas, cores do mundo,
quantas almas tenho em mins?
Tantas
(v) árias
salmodia
minhalma
oh, alma mia...
–
em plânctons
aos meus pés
o mar se atira
em plânctons
mar em branco
sem pactos
nem planos
chegou a mar de rosas
foi a mar de enganos
agora
não passa de um mar
desfeito
em plânctons
˜
galactos
gatos...
sempre mantêm aquela
postura de pluma
e lá se vão
uma a uma
pé ante pé
pétala sobrepétala
como se pedra fosse espuma
™
na tarde
a árvore
silêncio de aeronave
—
arbor
raiz
é o riso da árvore
a sombra
céu quando abre
as folhas
bailado breve
leve rito de passagem
quando engravida de cores
fica ali
tão paraíso
nos braços
um mar de flores
o fruto
de sobreaviso
–
langue
antes
depôs
lânguidas metáforas
nos braços do rio
Calmo, cúmplice
abriu
sedoso
o fino crepe
Mostrou
em duro fundo
as pedras
proclamando
um novo dialeto
O rego limpo
o peixe
liso
coisas
seu reflexo
deixe o tempo em aberto
˜
avio ao vento
um rodopio
um giro
um redemoinho
mas o vândalo
vara o vácuo
sem nexo
e num abraço convexo
derruba
o vinho
™
no começo
alguma coisa
trava a tarde
pelo meio
ela finge
que dispara
e na explosão
da primeira cigarra
a tarde se derrama
ou desamarra?
—
delicado
me falta
um pouco
de delicadeza
como o fio
que ligasse o fogo à estrela
ou o ar
que da asa
livrasse
a pena
me falta
um pouco
de delicadeza
me falta
aquele tento
de árvore que acena
bem atrás do vento
–
lunera
me cede
tuas sedas
que cedo
minhas trevas
me sedo
em tuas sedas
tão leve
que me levas
˜
Astréia
agora
vou solar
meu próprio fado
numa pulsão
que em cada pedra e prado
o coração fique parado
vou encantar
cadolhodáguaberto
numa canção
que em riso o rio
fique no seu leito
quieto
mesmo quando amar por perto
em toda rua vou passar
contralta
e no meu grave sol
fejar se faça
abrir sinais
quando vá muito alta
gatos em brasa
com sofreguidão de plumas
desfilarão cristais enviesados
meu desconcerto
num ciscar de estrelas
vai assombrar
a rota dos reis magos
Meu dedilhar
na barra este orbe
há de alumbrar até desesperanto
Vou me bordar no lenço dos acordes
me redesenhar
pranto por pranto
o lado negro, as entorpecências
o pretérito vão, inacabado
os torpes descalabros, turbulências
não me desviarão
da minha rota
vagarei tão diva
tão alucinógena
que de cabo a rabo
em firmamento
desanuviarei a Via-Láctea
e todo corpo que se envolva em prata
recenderá a incenso de milagre
Então
descansarei nos véus da aurora
até que a outra noite
me deflagre
™
vá
neste pin
go que os
cila
entre
a torneira
e a
pia
um
breve
exer
cicio
de
melancolia
—
abre
fecha
os olhos
e quando
de novo
olhares
toca
o tempo
em cada
átimo
instantes
são colares
adorno
dos
atos
|