Poesia sonora
"Poesia sonora pode ter várias definições e manifestações. Mas alguns pontos são comuns em qualquer de suas vertentes. Primeiramente, ela é um tipo de poesia oral, mas associado a uma característica especial: ele é essencialmente experimental. Isso significa que a poesia sonora se distancia claramente da poesia declamada.
Diferenciar-se da poesia declamada quer dizer não reproduzir as formas tradicionais de declamação emotiva e lírica, teatral e dramática do texto. Em seu lugar, entram o humor, as técnicas fonéticas, o rumorismo, a utilização de meios tecnológicos. Por conseqüência, a poesia sonora se distancia da idéia de texto: o poema sonoro nunca é um texto lido oralmente, por mais que um texto se pretenda experimental enquanto discurso verbal. A poesia sonora parte da idéia de que a poesia nasce antes do texto e do discurso e não depende dele para existir. Ela se cria com certas conjunções sonoras (sendo a palavra apenas um de seus elementos possíveis) que, organizadas numa certa ordem, exprimem conceitos, sensações e impressões.
Portanto, não se deve confundir poesia sonora com poesia musicada ou musicalização de poemas (sejam estes em forma de verso ou mesmo poemas visuais), porque os sons não entram no poema sonoro com a função que possuem na música: não apresentam problemas de combinação com um texto (porque não há texto), nem de harmonia, nem de desenvolvimento melódico. A vinculação histórica da poesia sonora é com a poesia fonética das vanguardas futuristas e dadaístas do início do século.
Quando vem apresentado ao vivo, o poema sonoro se preenche de outras questões que partem da sua integração a outros meios e linguagens: espaço, gestualidade, vídeo, interação com o público. Porém, todos esses elementos devem participar dirigidos pelo projeto do poema sonoro e a ele se integrar num processo de montagem, de relação intersígnica, intermídia (não de colagem, de multimídia). Ao contrário dos anos 50, quando Henri Chopin criou o nome poesia sonora para seus poemas em aparelhagem eletroacústica (primeiras manifestações de poesia tecnológica da história), hoje se assiste a uma revisão do uso da tecnologia: ainda que extremamente rica e útil, a tecnologia deve se subordinar a um projeto poemático que escape dos meros efeitos eletroacústicos, reponha em jogo o corpo e a voz em suas possibilidades expressivas e tenha em vista a complexidade semântica da comunicação poética."
Philadelpho Menezes
in Maquina Futurista
Sobre poesia sonora:
P. Menezes e Grupo de Poéticas da Voz, 1996.
na radio Cultura FM de São Paulo em setembro de 1994 - Idealização de
P. Menezes. Roteiro: P. Menezes e Franklin Valverde. Apres.: Franklin Valverde.
Vários, P. Menezes (ed.), 1998.
Sobre Philadelpho Menezes (1960-2000):
Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (1991), com pesquisa de doutoramento na Universidade de Bolonha (Itália, 1990). Foi professor do mesmo programa desde 1991 e vice-coordenador de doutorado. Autor de Poesia Concreta e Visual (Ed. Ática, 1998), Signos Plurais - Mídia, Arte e Cotidiano na Globalização, (organização e apresentação, Experimento, 1997) e Poética e Visualidade - uma trajetória da poesia brasileira contemporânea (Campinas: Editora da UNICAMP, 1991, traduzido e editado nos Estados Unidos com o título Poetics and Visuality pela San Diego State University Press, 1995), entre outros. Participou de vários congressos no Brasil e no exterior, como III Congresso Internacional Latino-Americano e IV Congresso Brasileiro de de Semiótica (PUC/SP, 1996), IV Congress of the Internacional Association of Word and Image Studies (Trinity College, Dublin, Irlanda, 1996), Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia (Ouro Preto, 1995), Simpósio Strumenti a Voce (Universidade de Bolonha, 1995) e V Congress of the International Association for Semiotic Studies (University of California, Berkeley, 1994). Como poeta e artista participou de exposições e publicações no Brasil e no exterior (Argentina, México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Espanha, Suíça, Itália, Alemanha, Hungria e Austrália). Organizou, entre outras, a I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo (Centro Cultural São Paulo, 1988) e Poesia Intersignos - do impresso ao sonoro e ao digital (Paço das Artes, SP, 1998). Foi pesquisador do CNPq durante seis anos e consultor dessa entidade, da Capes e da Fapesp para as áreas de comunicações e artes.
Confira um justo tributo a Philadelpho Menezes:
http://epc.buffalo.edu/authors/menezes/tribute/