Poemas de Ricardo Corona

 

CINEMAGINÁRIO

 

VENTOS E UMA ALUCINAÇÃO
1.


sol tórrido no
aljazar

(lascas de zinco refletindo)

sol batendo
no sal




2.


das costas 
do homem na barcaça 
— e deu-se à estampa

(um sopro quente passa)

um caligrama na asa
do anjo 
aprendiz da chuva




3.


rubricando, rebatendo
no arco-íris riso 
da híbrida holografia 

(do solo sobe um hálito quente)

espumas ainda agonizam
e novamente 
o mar traz à margem sua franja




4.


atrás das pálpebras
o olho dá forma ao sol
: bola vermelha

(um vento mantra passa)

a íris fosforesce
aureolando as pupilas em brasa




5.


no cine Céu
a sessão inicia pelo fim

(o rubro horizonte nubla de repente)

barbatanas no céu anfíbio
guelras no céu íntimo




6.


hojes mais longínquos
lembram
ontens ancestrais

(um peixe roça a pele da pedra)

há uma escritura definitiva
nas estrelas
sílabas




7.


: a gula de luz
de uma galáxia canibal

(a lua finge mas já reflete sóis)

há anos-luz daqui
Andrômeda é a esfinge
da via-láctea

 

ANDRÓIDES DROGADOS NO REPLAY DE ÉDENS
1.


A lua incha no céu cheio,
ninfa mutante entre estrelas 
de um céu-show

Da praia, onde  

as ondas lambem a orla

e gozam espumas,

dá pra ouvir o uivo do mar

— replay de édens
 



2.


Lunar,
a paisagem sem luz, lugar
da imagem-transe,
vortex fanopaico

Reflexos orquestrados em seus 

escarcéus 
 
— poesia 

na farra na liga

das línguas!




3.


Nós dois drogados de sentidos,
andróides no replay de édens,
roçando guelras no céu da boca,

— música amor maresia —

Nossas pupilas dilatam,

último site na lua cheia



4.


É diazul, soluz

e nada escapa a sua explicação —

com as pernas trêfegas,

tresandadas

pisamos nas poças distraídos

a cada passo

iluminura tremeluzente

- replay de édens

 

PAISAGEM NARCISISTA

Estando sempre à luz do sol,
a paisagem, narcisista, insiste.
E viciada em flashes e ohs!
ela se entrega ao flerte
de turistas, banhistas e surfistas.

Sendo ela que o sol eternamente assiste,
a paisagem, narcisista, insiste,
retendo estampas na retina, como se
somente a sua performance existisse.

Mas nela meu olhar não se detém,
nenhum clic, espanto, nada.
A memória agora está além,
nem a mais linda imagem é guardada.

Eu, de passagem e a paisagem, de paisagem.
Em mim incide o que está depois da paisagem:
oásis, Iemanjá, sereia, miragem.

 

ISOPOR, 03'1"
liga de lábios e línguas

trocando flocos de nuvens

dedos tarântula dedilhando a espinha 

com leveza de brisa, 

dissipando figuras que flutuam 

na fumaça de incenso e marijuana  

: morcegos 		

& mariposas


 
No isopor da noite,

heras brotam nos poros de Pégaso.

 

QUANDO TE INSURGIRES DOS REFLETORES DA RAZÃO
Quando te insurgires dos refletores da razão, Ah

eu estarei aqui
 
dentes à mostra 		, sonhos à solta 	

, e quando abrires as comportas, 

tem coragem 

que na borra das bordas

faremos um pacto 		

: doa tuas moedas de luz (

também as cápsulas alopáticas) 

e monta no leopardo.

Terás o Acaso e os sentidos imprevisíveis		aloprados

que fecundam os jardins

da imaginação.

 

BASQUIAT STREET
strange alchemy 
 (inside this museum)
your soul invades mine
inside me
sound words that are yours
I'm already one of your figures 
wishing to scratch the sky
the moon
my eyes move
imagination floats
and throught frame window
I see that your strokes still risk themselves
in Basquiat street

:

HEMLOCK, DOG, BLACK, MOON

SKY, TRASH, HOTEL, SLADE

 

Os poemas são do livro CINEMAGINÁRIO (Ed. ILUMINURAS).

Leia uma entrevista com o poeta em Balacobaco

Ricardo Corona?

Copyright © 1998 by Ricardo Corona.

 

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes