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José d'Abreu Albano (Fortaleza CE 1882-1923)
Enquanto o modernismo avançava e remodelava a versificação, ele recuava
e restaurava procedimentos camonianos, apoiado e respaldado postumamente
pelo modernista Bandeira. Não fez Albano como Stella Leonardos, que
tanto amaneirou Camões quanto Mário de Andrade, mas sim como Guilherme
de Almeida e Abgar Renault, que "vestiram a camisa" do Luso para
perpetuar o que já era perpétuo: a classicidade do soneto. Aqui uma
amostra:
[SONETO DA PRECE] Bom Jesus, amador das almas puras, Bom Jesus, amador das almas mansas, De ti vêm as serenas esperanças, De ti vêm as angélicas doçuras. Em toda parte vejo que procuras O pecador ingrato e não descansas, Para lhe dar as bem-aventuranças Que os espíritos gozam nas alturas. A mim, pois, que de mágoa desatino E, noite e dia, em lágrimas me banho, Vem abrandar o meu cruel destino. E, terminando este degredo estranho, Tem compaixão de mim, Pastor Divino, Que não falte uma ovelha ao teu rebanho! [SONETO DO AMOR] Amar é desejar o sofrimento E contentar-se só de ter sofrido, Sem um suspiro vão, sem um gemido, No mal mais doloroso e mais cruento. É vagar desta vida tão isento, É deste mundo enfim tão esquecido, É pôr o seu cuidar num só sentido, É todo o seu sentir num só tormento. É nascer qual humilde carpinteiro, De rudes pescadores rodeado, Caminhando ao suplício derradeiro. É viver sem carinho nem agrado, É ser enfim vendido, por dinheiro, E entre ladrões morrer crucificado. [SONETO DA DOR] Mata-me, puro Amor, mas docemente, Para que eu sinta as dores que sentiste Naquele dia tenebroso e triste De suplício implacável e inclemente. Faze que a dura pena me atormente E de todo me vença e me conquiste, Que o peito saudoso não resiste E o coração cansado já consente. E como te amei e sempre te amo, Deixa-me agora padecer contigo E depois alcançar o eterno ramo. E, abrindo as asas para o etéreo abrigo, Divino Amor, escuta que eu te chamo, Divino Amor, espera que eu te sigo. [SONETO DO SONHO] Doce me foi viver, quando sonhava E entre esperanças e ilusões sorria, Antes de conhecer a dor sombria Cuja lembrança na alma inda se grava. Naquele tempo não adivinhava A pena sem igual que dura um dia Mas sempre faz surgir a fonte fria Que os saudosos olhos banha e lava. Cansado coração, tu nunca viste Outro que tanto gozo e mágoa sente, Outro que a tanto bem e mal resiste. Amor te castigou severamente, Pois foste, uma só vez apenas, triste E nunca mais tornaste a ser contente. [SONETO DA SAUDADE] Trato só da perpétua saudade Que mora neste peito desditoso Mas o queixume derramar não ouso Com medo de que aos outros desagrade. Se entanto de gemer me dissuade O coração, tão cedo desgostoso, Ordena e manda Amor que sem repouso Tudo que sofro em canto se traslade. Oh! triste verso meu, pois vais partindo Por este baixo e escuro em que ando Para espalhar o meu tormento infindo. Ah! seja o teu destino manso e brando. Porém, se te alguém ler acaso rindo, Dize-lhe então que te escrevi chorando! SONETO PESSIMISTA Poeta fui e do áspero destino Senti bem cedo a mão pesada e dura. Conheci mais tristeza que ventura E sempre andei errante e peregrino. Vivi sujeito ao doce desatino Que tanto engana, mas tão pouco dura; E inda choro o rigor da sorte escura, Se nas dores passadas imagino. Porém, como me agora vejo isento Dos sonhos que sonhava noite e dia, E só com as saudades me atormento; Entendo que não tive outra alegria Nem nunca outro qualquer contentamento Senão de ter cantado o que sofria.
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: elson fróes |