O SONETO AMOROSO

Alguns puristas sustentam que o soneto deveria se manter como gênero exclusivamente lírico, uma vez que nasceu sob tal signo e atingiu seu apogeu assinado por grandes apaixonados, como Petrarca. Desvios de finalidade (como o soneto narrativo, épico, satírico ou fescenino) seriam, portanto, excrescências e exceções, no entender dos ortodoxos da lira. Embora ultrapassado pelo atropelo da história, resgato aqui aquele ingênuo conceito original apenas para homenagear antologicamente alguns poetas que souberam (nunca tão maravilhosamente quanto Camões) glorificar o Amor em si mesmo, como sentimento intrínseco à essência humana, e não meramente como serenata ou paquera a esta ou aquela potencial namoradinha na coleção dum adolescente (como na galeria de musas dum Castro Alves, por exemplo). Não se trata de registrar nomes de mulheres, mas sim de tentar definir o indefinível: essa motivadora emoção chamada Amor, mola propulsora da sensibilidade artística e, portanto, da própria obra poética mais perdurável. [GM] O AMOR [Amadeu Amaral] Só pelo amor a triste Humanidade (se algum dia terá de se remir) redimida será. E, na verdade, outro caminho não se lhe há de abrir: — o amor diante da vaga Imensidade muda, assombrosa, as gentes a reunir, como em ruína, que uma cheia invade, se ajuntam passarinhos a fremir. Ai! esse amor virá. Quando? Quando o homem aprender que as torturas, que o consomem, só dele vêm, só ele as deterá. Mas para quando essa formosa aurora? Tenhamos fé que há de raiar, — embora a treva sempre se adensando vá. MAL DE AMOR [Ana Amélia de Queirós] Toda pena de amor, por mais que doa, No próprio amor encontra recompensa. As lágrimas que causa a indiferença, Seca-as depressa uma palavra boa. A mão que fere, o ferro que agrilhoa, Obstáculos não são que amor não vença. Amor transforma em luz a treva densa, Por um sorriso amor tudo perdoa. Ai de quem muito amar não sendo amado, E depois de sofrer tanta amargura, Pela mão que o feriu não for curado. Noutra parte há de em vão buscar ventura. Fica-lhe o coração despedaçado, Que o mal de amor só nesse amor tem cura. IDEALISMO [Augusto dos Anjos] Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! O amor da Humanidade é uma mentira. É. E é por isto que na minha lira De amores fúteis poucas vezes falo. O amor! Quando virei por fim a amá-lo?! Quando, se o amor que a Humanidade inspira É o amor do sibarita e da hetaíra, De Messalina e de Sardanapalo?! Pois é mister que, para o amor sagrado, O mundo fique imaterializado — Alavanca desviada do seu fulcro — E haja só amizade verdadeira Duma caveira para outra caveira, Do meu sepulcro para o teu sepulcro?! IMMUTABILIS AMOR [Bastos Tigre] Amor é sempre amor, por mais que viva; Será maior, menor, mas sempre amor. Não muda a sua essência primitiva, Possa, embora, mudar a forma ou a cor. Nas reações da química afetiva Pode haver mais calor, menos calor; Mas de nada se acresce nem se priva, A incorpórea molécula do amor. Não muda o que era amor para amizade; Esta é fria, serena claridade, Esse é flama de ignífero esplendor. Bruto e sensual ou místico e sublime, Role na lama, avilte-se no crime, No ódio e na morte — amor é sempre amor. DEFINIÇÃO [Bastos Tigre] Amor é mal e é mal que não tem cura; Mas, sendo mal, sofrê-lo nos faz bem. Chora o amante, se o amor lhe dá ventura E ri da dor, se dele, a dor lhe vem. O amor é vida e leva à sepultura; É doce filtro, o amor, e fel contém; É luz e faz viver em noite escura, Tonto, a tatear, o alguém que ama outro alguém. Apesar de cego o amor, vê o invisível; Por firme que se mostre, é sempre vário; É Deus e faz, de um santo, um pecador. Inerme e fraco, é força irresistível; Sendo, pois, a si mesmo tão contrário, Quem é que pode definir o amor?... OS PODERES INFERNAIS [Carlos Drummond de Andrade] O meu amor faísca na medula, pois que na superfície ele anoitece. Abre na escuridão sua quermesse. É todo fome, e eis que repele a gula. Sua escama de fel nunca se anula e seu rangido nada tem de prece. Uma aranha invisível é que o tece. O meu amor, paralisado, pula. Pulula, ulula. Salve, lobo triste! Quando eu secar, ele estará vivendo, já não vive de mim, nele é que existe o que sou, o que sobro, esmigalhado. O meu amor é tudo que, morrendo, não morre todo, e fica no ar, parado. AMOR E SEU TEMPO [Carlos Drummond de Andrade] Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo. É isto, amor: o ganho não previsto, o prêmio subterrâneo e coruscante, leitura de relâmpago cifrado, que, decifrado, nada mais existe valendo a pena e o preço do terrestre, salvo o minuto de ouro no relógio minúsculo, vibrando no crepúsculo. Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde. INJUSTO AMOR [Cláudio Manuel da Costa] Eu cantei, não o nego, eu algum dia Cantei do injusto amor o vencimento; Sem saber, que veneno mais violento Nas doces expressões falso encobria. Que amor era benigno, eu persuadia A qualquer coração de amor isento; Inda agora de amor cantara atento, Se lhe não conhecera a aleivosia. Ninguém de amor se fie: agora canto Somente os seus enganos; porque sinto, Que me tem destinado estrago tanto. De seu favor hoje as quimeras pinto: Amor de uma alma é pesaroso encanto; Amor de um coração é labirinto. O AMOR DE AGORA [Dante Milano] O amor de agora é o mesmo amor de outrora Em que concentro o espírito abstraído, Um sentimento que não tem sentido, Uma parte de mim que se evapora. Amor que me alimenta e me devora, E este pressentimento indefinido Que me causa a impressão de andar perdido Em busca de outrem pela vida afora. Assim percorro uma existência incerta Como quem sonha, noutro mundo acorda, E em sua treva um ser de luz desperta. E sinto, como o céu visto do inferno, Na vida que contenho mas transborda, Qualquer coisa de agora mas de eterno. CONHECIMENTO DO AMOR [Dante Milano] Se o fruto já maduro da experiência Me deu de amor algum conhecimento, Só sei dizer que o seu entendimento É saber que transcende toda ciência. Com que palavras o direi? — "Paciência" Ou "Impaciência", "Alento" ou "Desalento". Quereis outra palavra? "Alheamento". Outra? "Presença" ou sua igual "Ausência". Esquecimento de si mesmo: olvido. Quantas vezes morri sem ter morrido, Sem sentir ao morrer nenhuma dor. Nem a morte é culpada de tal morte, Até a deseja o amante em seu transporte: Só ela é eterna como o seu amor. REFLEXÕES (IV) [Gilka Machado] Eu sinto que nasci para o pecado, se é pecado, na Terra, amar o Amor; anseios me atravessam, lado a lado, numa ternura que não posso expor. Filha de um louco amor desventurado, trago nas veias lírico fervor, e, se meus dias a abstinência hei dado, amei como ninguém pode supor. Fiz do silêncio meu constante brado, e ao que quero costumo sempre opor o que devo, no rumo que hei traçado. Será maior meu gozo ou minha dor, ante a alegria de não ter pecado e a mágoa da renúncia deste amor?!... SONETO 234 CONFESSIONAL [Glauco Mattoso] Amar, amei. Não sei se fui amado, pois declarei amor a quem odiara e a quem amei jamais mostrei a cara, de medo de me ver posto de lado. Ainda odeio quem me tem odiado: devolvo agora aquilo que declara. Mas quem amei não volta, e a dor não sara. Não sobra nem a crença no passado. Palavra voa, escrito permanece, garante o adágio vindo do latim. Escrito é que nem ódio, só envelhece. Se serve de consolo, seja assim: Amor nunca se esquece, é que nem prece. Tomara, pois, que alguém reze por mim... CAMONIANA [Guilherme de Almeida] Se isto de amar é só viver morrendo E achar-me de tal morte satisfeito; Não do meu ser, mas de outro, ser sujeito, Sendo menos quem sou do que outrem sendo; Se é ao meu coração ir prometendo Lugar conforme num alheio peito, E, em se ele mais mostrando, de tal jeito, Das suas mostras mais ir-me escondendo; Se isto é amor, e se a Fortuna é essa Que se exp'rimente em mim a sua lei; Se uma esquivança após de uma promessa E o nada ter é tudo o que terei: Que lhe sei já pedir, que me não peça? Que me pode já dar, que lhe não dei? AMO! [J. G. de Araújo Jorge] Amo a terra! Amo o sol! Amo o céu! Amo o mar! Amo a vida! Amo a luz! Amo as árvores! Amo a poesia que escrevo e entusiasta declamo aos que sentem como eu a alegria de amar! Amo a noite! Amo a antiga palidez do luar! A flor presa aos cabelos soltos de algum ramo! Uma folha que cai! Um perfume pelo ar onde um desejo extinto sem querer inflamo! Amo os rios! E a estranha solidão em festa, dessa alma que possuo multiforme e inquieta como a alma multiforme e inquieta da floresta! Amo a cor que há nos sons! Amo os sons que há na cor! E em mim mesmo, — amo a glória de sentir-me um Poeta e amar imensamente o meu imenso amor!... SONETO DO AMOR-DE-SEMPRE [Jehová de Carvalho] Amo-te mais que a noite em que concebes — enquanto sonho — o fruto que sonhei; Mais que meus pés os passos que eu já dei e ama o teu ventre o fruto que recebes. Mais que o semeador a sua messe; mais do que a valva a seiva pura e certa; mais que o amor vegetal a terra aberta do grão que em cada semeadura cresce. Amo-te sobre o tempo e sobre a vida, sobre o que for minh'hora indefinida de amar-te mais do que a razão me importe. Não basta a aurora e sua mensagem rubra p'ra que este amor marcado se descubra e seja mais amor dentro da morte. AMAR É... [José Albano] Amar é desejar o sofrimento E contentar-se só de ter sofrido, Sem um suspiro vão, sem um gemido, No mal mais doloroso e mais cruento. É vagar desta vida tão isento, É deste mundo enfim tão esquecido, É pôr o seu cuidar num só sentido, É todo o seu sentir num só tormento. É nascer qual humilde carpinteiro, De rudes pescadores rodeado, Caminhando ao suplício derradeiro. É viver sem carinho nem agrado, É ser enfim vendido, por dinheiro, E entre ladrões morrer crucificado. SONETO CIRCULAR [José Lino Grünewald] Difícil responder a tal pergunta A pergunta que o tempo eternizou Pois se alguém com alguém sempre ficou São só dois corpos vãos que a vida junta. O que é sonhar, cismar ou divagar Definir o que é flama, fé ou flor São flácidas palavras sem valor Os fáceis pensamentos cor do ar. Restaria esta inútil melopéia De quem burila o texto e logo ri Do verbo que se quer visão e idéia. Mas neste espelho me olho e vejo a ti E ganho o conhecer renovador. A resposta é Você. O que é o amor? O AMOR [Luís Delfino] O amor!... Um sonho, um nome, uma quimera, Uma sombra, um perfume, uma cintila, Que pendura universos na pupila, E eterniza numa alma a primavera; Que faz o ninho, e dá meiguice à fera, E humaniza o rochedo, e o bronze, e a argila, Sem o afago do qual Deus se aniquila Dentro da própria luminosa esfera. A música dos sóis, o ardor do verme, O beijo louco da semente inerme, Vulcão, que o vento arrasta em tênues pós: Curvas suaves, deslumbrantes seios De vida e formas variegadas cheios, É o amor em nós, e o amor fora de nós. O AMOR E A ETERNIDADE [Luís Delfino] Helena, o amor não é um sol bendito, Não é o idílio dentro de uma gruta; É o abismo sem fundo, é a treva abrupta, Que se abre em longo e doloroso grito; É andar neste exício em que me agito; É conhecer a dúvida na luta; Fala o universo, e temeroso o escuta O amor, o pobre escravo do infinito. Não ela a dor a dor de idade em idade; Quem não ama, e interrompe o pensamento De um Deus, emenda-o, e dele enfim se evade. Não é mais folha solta entregue ao vento; É com amor a vida a eternidade, É sem amor a vida um só momento... AMAR DE AMOR, AMOR DE AMOR [Lupe Cotrim] Tudo acabou, bem sei, mas não importa. Não é só de futuro que amor vive. O tempo em que se amou não mais se corta de nós; ainda sou muito do que tive. Nessa entrega também me pertenci. Tive dois corpos, duas almas, em braços mais longos envolvi o mundo. Nasci de nós, por isso levo-te em meus traços. Não pesa que a verdade foi momento, a presença tão breve e o desconexo desse sonho. Restou-me o sentimento em que de novo te surpreendo em mim. E o que foi belo, imóvel num reflexo me enriqueceu de haver amado assim. SONETO SONHADO [Manuel Bandeira] Meu tudo, minha amada e minha amiga, Eis, compendiada toda num soneto, A minha profissão de fé e afeto, Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga. O que n'alma guardei de muita antiga Experiência foi pena e ansiar inquieto. Gosto pouco do amor ideal objeto Só, e do amor só carnal não gosto miga. O que há melhor no amor é a iluminância. Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria De onde? Dos céus?... Dos longes da distância?... Não te prometo os estos, a alegria, A assunção... Mas em toda circunstância Ser-te-ei sincero como a luz do dia. AMA, PARA QUE, ASSIM, SEJAS AMADO... [Martins Fontes] Se queres ser amado, ama primeiro, Faze-te amar, amando com ternura, Pois só merece a graça da ventura Quem for capaz de um culto verdadeiro. Sem raízes profundas no canteiro, Em teu jardim nenhuma flor perdura. É preciso que a terra seja pura, Para viçar, florindo, o jasmineiro. Sob a sideração do amor fulmínio, Pode estar crente todo enamorado, Que há de se realizar meu vaticínio. Quem for constante, sendo delicado, Pelo espírito alcança o predomínio, Sabendo amar, para que seja amado. PENETRALIA [Olavo Bilac] Falei tanto de amor!... de galanteio, Vaidade e brinco, passatempo e graça, Ou desejo fugaz, que brilha e passa No relâmpago breve com que veio... O verdadeiro amor, honra ou desgraça, Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o: Nunca o entreguei ao público recreio, Nunca o expus indiscreto ao sol da praça. Não proclamei os nomes, que, baixinho, Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho Em funda sombra o meu melhor carinho. Quando amo, amo e deliro sem barulho; E, quando sofro, calo-me, e definho Na ventura infeliz do meu orgulho. SÉSAMO! [Otoniel Menezes] Contam que um persa (ou árabe) possuía, Oculta num desvão de selva umbrosa, Grande, imensa riqueza, fabulosa! Ouro em barras, montões de pedraria!... Muitas vezes por simples fantasia, Vinha e, a rezar palavra misteriosa À porta de uma gruta silenciosa, Ela, em rubis e pérolas se abria... Também o coração, como essa gruta, Se a voz do amor — o grande mago — escuta, Rebenta em fogos de cristais dispersos; Abre-se em rosas de esmeraldas e ouro, Flore, fulge e transluz, feito em tesouro, Todo em milhões de Lágrimas e Versos! ESQUECER [Paulo Gustavo] Se eu pudesse esquecer-te... Se eu pudesse Arrancar-te de vez do pensamento!... E aos céus imploro, numa ardente prece, A suave e eterna paz do esquecimento. Talvez que alguma calma assim me viesse A tanto desespero, ao meu tormento. Mas a verdade é que ninguém se esquece De um grande amor, de um grande encantamento. E se alguém te disser que se esqueceu Do amor que, um dia, no seu peito ardeu, Não creias que jamais há de lembrar. Quando o amor é como este assim profundo, O mais que se consegue neste mundo É poder recordá-lo sem chorar! [SONETO POSTAL] [Salvador Novo, traduzido por Glauco Mattoso] Escrevo-te outra vez, vou ao correio beijar o selo, a beira do envelope... Teus lábios! Meu nariz, choroso, entope. Vão dias, e a resposta inda não veio. Teus claros olhos são, quando te leio, tão nítidos na mente, se a galope me venha aquela angústia que me dope nas horas de saudade, meu recreio! Ao sonho roubo o encanto de rever-te. Me encanto, na vigília, com sonhar-te, temendo, no meu íntimo, perder-te. Teu rosto penso achar em toda parte. Amor, meu bem, é isso: ausência e flerte, que mata e ressuscita. É sorte, ou arte. NÓS [Silva Ramos] Eu e tu: a existência repartida Por duas almas; duas almas numa Só existência. Tu e eu: a vida De duas vidas que uma só resuma. Vida de dois, em cada um vivida, Vida de um só vivida em dois; em suma: A essência unida à essência, sem que alguma Perca o ser una, sendo à outra unida. Duplo egoísmo altruísta, a cujo enlevo No próprio coração cada qual sente A chama que em si nutre o incêndio alheio. Ó mistério do amor onipotente, Que eternamente eu viva no teu seio, E vivas no meu seio eternamente. VELHO TEMA (II) [Vicente de Carvalho] Eu cantarei de amor tão fortemente Com tal celeuma e com tamanhos brados Que afinal teus ouvidos, dominados, Hão de à força escutar quanto eu sustente. Quero que meu amor se te apresente — Não andrajoso e mendigando agrados, Mas tal como é: — risonho e sem cuidados, Muito de altivo, um tanto de insolente. Nem ele mais a desejar se atreve Do que merece: eu te amo, e o meu desejo Apenas cobra um bem que se me deve. Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo; E vou de olhos enxutos e alma leve À galharda conquista do teu beijo. SONETO DE FIDELIDADE [Vinícius de Moraes] De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. SONETO DO MAIOR AMOR [Vinícius de Moraes] Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer — e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo.
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Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes