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Arnaldo Antunes (São Paulo SP 1960)

Expert e perito experimentador, tanto na sonoridade gráfica da palavra cantada quanto na plasticidade (micro)fonética da poesia escrita, Antunes tem sido esporádico parceiro de sonetistas como Augusto dos Anjos ou este que vos digita (veja-se a página sobre O SONETO MUSICADO), mas aqui atende o convite comparecendo com dois de sua própria lavra:


INSPIRADO

Inspirado como um boi no pasto
Inspirado bem alimentado e casto
Inspirado como um boi sem saco
Pacato, capado, sem pecado

Como um boi mascando seu amido
Tudo lindo e semi-adormecido
Som macio e gosto colorido
E o vazio lotado de infinito

Inspirado e gordo como gado
Carne fresca recheando o couro
Com um olho para cada lado

Inspirado como nenhum touro
Inspirado como um boi pesado
Esperando amor no matadouro



UM ACIDENTE

O mal estar que exala quem discorda
Porque não sente quase ou não entende
Concorda bem com o de quem assente
Sem romper a casca, e não acorda.

Somente se distar de estar de frente
Distrai a sua mente da derrota.
Distante como diante de uma porta
Destrói na letra preta o branco ausente.

A vida do sentido o incomoda —
Vigor de ponta a ponta da serpente
Que o branco ovo a cada dia lota.

Suporta, não se importa ou então mente,
Não compreende o que o prende à borda —
O ouro da palavra, um acidente.

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes