|| ||S|| ||O|| ||N|| ||E|| ||T|| ||Á|| ||R|| ||I|| ||O|| ||||| ||||| ||||| ||

ARMANDO, ÁLVARO (pseudônimo)
Helena Ferraz de Abreu (Rio de Janeiro RJ 1906-1979)

Inversamente ao caso de Samantha Rios (que é heterônimo dum homem), por trás de Álvaro Armando está uma curiosa figura feminina, filha do parnasiano Bastos Tigre e sua herdeira na veia satírica. O livro NA BERLINDA (1947) coleciona caricaturas de tipos notáveis em forma de soneto, a começar pelo retrato do próprio pai.


BASTOS TIGRE

Com relógio no prego e cerveja no lombo,
Vivendo na boêmia, explosivo por vezes,
Ao redor de Bilac e Emílio de Meneses,
Inflamava a Pascoal, punha fogo à Colombo.

Hoje, que o arranha-céu na poesia dá o tombo,
Sem luz os bigodões, nem vinhos portugueses,
É um tipo bonachão, tem hábitos burgueses,
Com relógio no pulso e trabalho no lombo.

Mas aos versos fiel, desse mal não se cura,
A inspiração mordaz, cheia de humor, vadia,
Guarda sob a expressão burocrática e sonsa.

E indago: os seus irmãos pela literatura
Que lhe negam a entrada à "sábia" Academia,
São amigos do Tigre ou amigos da... onça?


Outros exemplos desse estilo epigramático:


MONTEIRO LOBATO

Casmurro. Carrancudo. Furibundo
Contra a vida, a Criança é hoje em dia
Pela sua inocência e fantasia,
Cordão umbilical que o prende ao mundo.

Um sonhador e um tímido, no fundo,
Para o mundo infantil "seu" mundo cria
Onde o real ao sonho se associa
Tendo um sabor irônico e profundo.

Do Jeca inventa o tipo certo e justo.
Crê no Petróleo e ensinam-lhe sem custo
Que ser sincero é crime e tem castigo...

E como é mesmo "da literatura"
À Academia que ávida o procura
Responde irreverente: — Nem te ligo!


HERBERT MOSES

Pequenino. Apelidam-no "mosquito".
Não perde coquetel ou festa de arte.
Anda aos pulinhos, como periquito,
E pula, ao mesmo tempo, em toda parte!

Não há banquete em que, com qualquer fito
Ou sem nenhum, não diga o seu aparte.
E discursos faria, ao infinito,
Se um turista chegasse, lá de Marte!

Aos jornalistas tudo acerta, ajeita.
Se da ABI na doce presidência
Hábil e sutilmente se grudou,

A própria oposição bem o respeita,
Pois tem que se curvar ante a evidência:
Até o Getúlio foi e... ele ficou.


BARÃO DE ITARARÉ

Humorista, filósofo tranqüilo.
No Brasil todo o mundo o cita, o lê.
Entendido de vírus e bacilo,
Conhece-os como a carta do ABC.

Diplomado em "xadrez", conta em sigilo
Que com bons olhos "Bispo" e "Rei" não vê.
E se "some" ou por isso ou por aquilo,
Outras vezes nem sabe bem por quê.

O povo lhe segue a arte e a "manha"
E há muito tempo amável o acompanha,
Nele punha esperança e tinha fé.

Entretanto na Câmara, o barbudo
Põe as barbas de molho. Fica mudo
O nobre titular de Itararé.

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes