O SONETO ASTRAL

Principais aliados do poeta, a lua e as estrelas costumam compor o quadro natural que tem servido de pano de fundo aos sentimentos, e portanto já figuram os ditos corpos celestes na página dedicada ao soneto natural. Há casos, porém, em que os astros ocupam o primeiro plano e desempenham papéis de protagonista. Quando o poeta dispensa o telescópio para exagerar as proporções estelares, cabe ao observador não-astronômico a tarefa de selecionar exemplos desse tipo numa página à parte, tal como faço abaixo. [GM] IDÍLIO [Afonso de Carvalho] Lembras-te? Era de noite... Áureo luar corria Pelo róseo marfim de tua carne, pelos Alourados festões dos teus lindos cabelos, Destrançados no ar, do vento à revelia. "Julguei não vires mais!" — disseste com desvelos, Sentindo junto à tua a minha mão tão fria. Em teus olhos azuis o nosso amor sorria. Quantas juras de amor eu não te disse ao vê-los! A noite, mais e mais, fechava-se em veludo, Esmaltando num fundo agreste, verde e rudo, Teu corpo virginal, dourado de luar. Lembras-te agora? Não? Pois te direi, ainda, Que a noite se rasgava em claridade infinda, Sob o lirismo azul daquele teu olhar... À LUA [Amadeu Amaral] Quero-lhe bem. Ei-la peregrinando além, além, do vasto céu, tão só, tão branca e triste, entre o doirado pó que seus passos ao azul vão levantando. Quero-lhe bem. Na minha infância, quando a olhava, triste e silenciosa avó, não sei por que razão, sentia dó de a ver tão solitária, além, rezando. É que uma obscura relação já havia entre minha alma quieta e a lua fria, entre a minha tristeza e o seu clarão. De lá vieram os sonhos de minha alma, esta revolta estrangulada e calma, este amor e este horror da solidão. LUA [Amadeu Amaral] É nestas horas em que sofro e tento vencer o tédio, víbora refece, que o teu vulto à lembrança me aparece num mais doce e maior deslumbramento. Vem como a clara lua que esplandece, inesperada, por um céu nevoento; minha alma se ergue, então, no alheiamento de uma dorida fervorosa prece. Ó clara, ó alta, ó refulgente lua, se te elevas meu ser também se eleva, e onde vais flutuando ele flutua... Rompe das nuvens o pesado véu! És a única luz por esta treva e o derradeiro encanto deste céu. AROMA E LUZ [Américo Falcão] Tem meu jardim apenas cinco flores, Meu firmamento apenas cinco estrelas... Naquelas — há puríssimos olores, Nestas — fulgurações que sonho ao vê-las... Quisera, entre sorrisos, sempre tê-las... Rosas do vale ou astros redentores! Tenho de instante a instante que revê-las Entre aromas sutis e áureos fulgores... Essas flores e estrelas são meus filhos. Por elas sinto virginais ciúmes, Num mundo, todo meu, de aroma e brilhos... Beijando-as, novo amor idealizo... São flores se desejo seus perfumes, E são estrelas se de luz preciso! SERENATA [Augusto de Lima] Plenilúnio de maio em montanhas de Minas! Canta, ao longe, uma flauta e o violoncelo chora. Perfuma-se o luar nas flores das campinas. Sutiliza-se o aroma em languidez sonora. Ao doce encantamento azul das cavatinas, Nessas noites de luz mais belas do que a aurora, As errantes visões das almas peregrinas Vão voando a cantar pela amplidão afora... E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta. Das montanhas, cantando, a névoa se levanta, Banhada de luar, de sonhos, de harmonia. Com profano rumor, porém, desponta o dia, E na última porção da névoa transparente A flauta e o violoncelo expiram lentamente. BANHO DAS ESTRELAS [Costa Rego Júnior] O ocaso é um riacho de oiro a deslizar dormente... Seis horas — dia e noite — aérea metamorfose! As estrelas, buscando um noivo que as despose, Descem nuas, sorrindo, à suposta corrente... É diário esse batismo; é diária essa apoteose! Mal o dia adormece, elas vêm novamente Banhar-se no Jordão polícromo do poente, Imitando o rumor de um véu que se descose... Depois, pingando luz, sobem todas esparsas... — Pirilampos do céu, borboletas da altura — Opalinas, iriais, róseas, verdes ou garças... Sobem, nimbando o espaço, arcano a arcano, E vemo-las pompeando em delírios de alvura Como a névoa do Polo e as espumas do oceano. SIDERAÇÕES [Cruz e Souza] Para as estrelas de cristais gelados as ânsias e os desejos vão subindo, galgando azuis e siderais noivados de nuvens brancas a amplidão vestindo... Num cortejo de cânticos alados os arcanjos, as cítaras ferindo, passam, das vestes nos troféus prateados, as asas de ouro finamente abrindo... Dos etéreos turíbulos de neve claro incenso aromal, límpido e leve, ondas nevoentas de Visões levanta... E as ânsias e os desejos infinitos vão com os arcanjos formulando ritos da Eternidade que nos Astros canta... A ILUSÃO DO SAPO [Cruz Filho] Aos pinchos, pela sombra, indolente e moroso, O batráquio estacou do fundo poço à borda, E um momento quedou, como quem se recorda, Surpreso ante a visão do poço silencioso. Ao fundo, onde do céu, que de nuvens se borda, Reflexa a imagem vê — pelo céu luminoso Vê a Lua pairar o áureo disco radioso: E o disforme animal de júbilo transborda... Um momento quedou, mudo e perplexo. Ao centro, A tentá-lo, a ilusão do astro de ouro flutua, E o monstro eis que se arroja, às súbitas, lá dentro... E a água convulsionou-se, em círculos ondeantes, Num naufrágio de luz, em que perece a Lua, Dissolvida em rubis, topázios e diamantes. GIRASSOL [Emílio de Meneses] Florir no descampado ou no úmido recanto De alguma ruína, ou mesmo em áspero alcantil, É um orgulho que tem o redoirado helianto Dês que da terra emerge a plúmula erectil. Quando ele desabrocha entre os glastos e o acanto, Entre os mil tinhorões e as passifloras mil, Tem-se à conta de um sol, nascido por encanto Ao topo senhorial do tormentoso hastil. É de vê-lo medir a força e o valimento, Do orgulho vegetal, do seu orgulho em prol, Ante o rival senhor de terra e firmamento! É de vê-lo, tenaz, de arrebol a arrebol, Do grande astro seguindo o régio movimento, O áureo disco volver para encarar o sol! A GLÓRIA A CONSTELAR... [Ernâni Rosas] A glória a constelar de vitória em vitória, Como um poente, que à luz anoiteceu mais cedo, E fora a cravejar de rubis a memória Do teu cio sangrento às lajes dum degredo... Sinto-me a errar n'alguém, da sombra indefinida, No esquecer dos teus pés, assim como um segredo, A bailar como o olor na névoa adormecida, Duma dança que tem espasmos como o medo! No interlúnio da noite, incompreendido e lindo, Como um sonho febril, pela carne perdido, Que pelo olhar sem fim vai friamente ungindo... Pelo fluido lilás dessa penumbra intensa A silhueta de alguém, num gesto adormecido, Caminha pelo azul que as estrelas incensa... À NOITE [Francisca Júlia] Eis-me a pensar, enquanto a noite envolve a terra; Olhos fitos no vácuo, a amiga pena em pouso, Eis-me, pois, a pensar... De antro em antro, de serra Em serra, ecoa, longo, um "requiem" doloroso. No alto uma estrela triste as pálpebras descerra, Lançando, noite dentro, o claro olhar piedoso. A alma das sombras dorme; e pelos ares erra Um mórbido langor de calma e de repouso... Em noite escura assim, de repouso e de calma, É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas, A alma cheia de dor, a dor tão cheia de alma... É que a alma se abandona ao sabor dos enganos, Antegozando já quimeras pressentidas Que mais tarde hão de vir com o decorrer dos anos. SONETO 304 CELESTE [Glauco Mattoso] O cosmo não me inspira qualquer pasmo, qualquer perplexidade ou maravilha. Até pelo contrário, é uma armadilha: tão rara a luz, e as trevas pleonasmo. Já sei que vão chamar de iconoclasmo, mas minha voz de cego só estribilha que nada resplandece nem rebrilha. Não há no céu motivo pra entusiasmo. Silêncio, solidão, escuridão. A fim de ter a prova disso, basta sair da Terra, esfera de ilusão. Quem deste nosso fraco Sol se afasta me dá logo carradas de razão: A farsa do universo já tá gasta. LUAR [Hermes Fontes] Noite ou dia?! Ilusão... É noite. A Natureza tem um pudor de noiva, ao beijo de noivado: sonha, velada por um véu diáfano, e presa de um sonho branco, um sonho alegre, iluminado. A Lua entra por toda a parte, clara, acesa... Desabrocham jasmins de luz, de lado a lado... E o luar — vê bem: — dirás que é o óleo da Tristeza diluído pelo céu... pela terra entornado... E há nos raios da Lua — a um tempo, hastes e lanças, corações a sangrar feridos do infortúnio, flores sentimentais do jardim das lembranças... A ave do Sentimento as asas bate e espalma: e, enquanto se abre aos céus a flor do Plenilúnio, abre-se, dentro em nós, o plenilúnio da Alma... MEU CÉU INTERIOR [J. G. de Araújo Jorge] Se esses teus olhos, no meu livro, imersos, encontrarem diversas emoções, — não tentes decifrar: mil corações nós os temos num só, todos diversos... Os meus poemas aqui, vivem dispersos, como as estrelas... e as constelações no céu das minhas íntimas visões, no "meu céu interior..." cheio de versos. Não procures um poeta compreender... — Os versos que umas cousas nos desnudam, outras cousas, ocultam, sem querer... Uns, são felizes... Outros, ao contrário... — No rosário da vida, as contas mudam, e os versos são as contas de um rosário!... BOM-DIA, AMIGO SOL! [J. G. de Araújo Jorge] Bom-dia, amigo Sol! A casa é tua! As bandas da janela abre e escancara, — deixa que entre a manhã sonora e clara que anda lá fora alegre pela rua! Entra! Vem surpreendê-la quase nua, doura-lhe as formas de beleza rara... Na intimidade em que a deixei, repara que a sua carne é branca como a lua! Bom-dia, amigo Sol! É esse o meu ninho... Que não repares no seu desalinho nem no ar cheio de sombras, de cansaços... Entra! Só tu possuis esse direito de surpreendê-la, quente dos meus braços, no aconchego feliz do nosso leito!... FLESH AND SOUL [João Ribeiro] Que és um astro, suponho, que emigrado Rolou do céu à terra enegrecida; Porque não tenho ainda me explicado Como haja tanta aurora em tua vida. Mal me achego de ti, minha querida, Tu me iluminas d'esse amor sagrado. Entra-me n'alma a dentro o sol doirado Da tua voz magoada e dolorida. Contudo és mais que o sol que vai embora, Quando a terra volita soluçante Abrindo as asas pelo espaço a fora. O contrário é contigo, ó minha amante! Tu sempre me iluminas; a toda a hora Vivo voltado para o teu semblante. O CORAÇÃO E A ESTRELA CADENTE [Luís Guimarães Filho] Dizia o coração à estrela do infinito: — "Treme de inveja, ó luz que o teu poder invado! Pois se brilha em teu seio um mundo iluminado Dentro de mim resplende um grande amor bendito! Como um órfão sem lar, um triste réu proscrito, Vives tu no silêncio, ó astro, abandonado! Ao passo que feliz, risonho e enamorado, Eu vivo para alguém! eu por alguém palpito! A cada instante sinto o olhar sereno dela Encher-me de uma luz mais límpida e mais bela Do que essa com que Deus o seio iluminou-te... Mas, tu que tens além do etéreo brilho teu?" — — "Eu tenho a liberdade!..." — a estrela respondeu, Sumindo-se no abismo esplêndido da noute... CÍRCULO VICIOSO [Machado de Assis] Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: "Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!" Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme: "Pudesse eu copiar-te o transparente lume, Que, da grega coluna à gótica janela, Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!" Mas a lua, fitando o sol com azedume: "Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume!" Mas o sol, inclinando a rútila capela: "Pesa-me esta brilhante auréola de nume... Enfara-me esta azul e desmedida umbela... Por que não nasci eu um simples vaga-lume?" COM O SOL [Marcelo Gama] — "Anda depressa, ó Sol, que estás parado! Que fazes tu aí, Sol imprudente?" Este maldito Sol, ultimamente, Tem se tornado o meu maior cuidado! Essa que amo, mora num sobrado, E o Sol, que a quer também, pára-se em frente: E até que o Sol se canse e, enfim, se ausente, A janela é deserta, e eu, desolado. — "Sol, vai-te embora!" E, quando o Sol vai indo, E Ela aparece, eu desespero, e grito, Por ver a noite, que já vai caindo: — "Sol, pára um pouco!..." E o Sol sem me escutar, Se esconde, enquanto eu lhe suplico, aflito: — "Sol! por favor, ó Sol! vai devagar!..." MISERICORDIOSISSIMAMENTE [Martins Fontes] Conta Buffon que o sapo é jardineiro: Igual aos pajens, nas antigas salas, Serve às rosas galantes de um canteiro, Em contínuo cuidado a cortejá-las. Dos rouxinóis, artista verdadeiro, Estuda o virtuosismo das escalas, E se esfalfa, e se esforça, prazenteiro, Em senti-las, compô-las, imitá-las. Possui o sapo a adoração da estrela: Vendo-a na água brilhar, tenta colhê-la, Nas profundezas turvas e enganosas. Hugo nos diz que bem merece um culto Quem vive a idolatrar, no mundo estulto, As estrelas, os pássaros e as rosas. AMARGURA [Moacir de Almeida] Ah! não ser compreendido é a tortura do Artista! Ofegante, rompendo os joelhos pelas fragas, Vê, debalde, fulgir, nas nuvens de ametista, A miragem do ideal, entre as estrelas magas... Arqueja; o vendaval de angústias que o contrista Vem-lhe aos olhos sangrar em tristezas pressagas... Alça a vista: arde o céu tão longe! Baixa a vista: Tão longe os corações a rolar como as vagas! E ele, que tem o azul preso no crânio aflito, Abre em astros de sangue a noite dos abrolhos, Ergue constelações de rimas no infinito... Soluça de aflição no deserto profundo, Tendo os astros no olhar e a noite sobre os olhos, Tendo os mundos nas mãos sem nada ter no Mundo!... OUVIR ESTRELAS [Olavo Bilac] "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." BEIJO NA TREVA [Otacílio de Azevedo] Noite. Plange, convulsa, a harpa do vento. A terra Dorme. O espaço lá fora é tempestuoso e escuro. Nem sequer uma estrela as pálpebras descerra, Se as pálpebras descerro e uma estrela procuro... É nesta hora de amor que de joelhos murmuro Doce nome de alguém que entre saudades erra... Surge, irradiando ao sol de seu sorriso puro, Todo o seu vulto ideal que a minha vida encerra. Abraço-lhe os braços!... Vem... E o seu cabelo louro Deixe ver através de uma neblina de ouro Todo o seu corpo em flor que de almo luar se neva... Mas se tento oscular-lhe o alvo colo macio, Súbito, foge... E eu sinto, abandonado e frio, O meu beijo rolar na solidão da treva... ORAÇÃO À NOITE [Paula Achilles] Tu que enlutas o mundo e a cada instante, Nos olhos das estrelas luminosas Crepitas como um sonho delirante, E assinalas no espaço as nebulosas; Tu que trazes, no todo alucinante, A calma que adormece a terra, as rosas; Tu que os astros conduzes no levante Sidéreo das alturas silenciosas; Tu que em mim a razão reconcilias, Num grito repetido e impenitente, Recalcando tremendas agonias; Leva-me ao fundo abismo destas ânsias, Noite, e em teu seio eterno, então, consente Que eu durma no infinito das distâncias... MONSTRO VERDE [Pinheiro Viegas] Meia-noite. No bar, ele ao piano, o Diabo! O espelho contra o espelho é um fogo de artifício. O meu copo de absinto é o meu mundo fictício: Sou paxá, mandarim, sibarita, nababo Rindo, vejo, em redor, então, em menoscabo, O quadro nu plebeu do amor venal de ofício. Ébrio só de ilusões!... mais ilusões... e, ao cabo, O absinto, o Monstro Verde, adoro-o! ele é o meu vício!... Lá fora, o céu de inverno, o vento, a chuva, o frio. Os verdes olhos maus, a grenha bruna — vi-o. Mais belo é o mundo assim em linhas assimétricas. De chofre, vejo, então, todas as suas baldas. Seus verdes olhos maus são duas esmeraldas, Sob o esplendor lunar das lâmpadas elétricas. LÂMPADAS ELÉTRICAS [Pizarro Loureiro] As lâmpadas elétricas, nevoentas, No alto dos combustores, perfiladas, Entre as árvores tristes e caladas, Sonham nas avenidas sonolentas. Numa ronda, entre as árvores atentas, A luz saracoteia nas calçadas. E ao som mudo da ronda, sossegadas, Sonham as avenidas sonolentas. No céu, a lua — lâmpada suspensa Da azul e curva Catedral imensa, Rola através das nuvens azuladas. E dourando o silêncio das planuras, As estrelas reluzem nas alturas, Como lascas de lâmpadas quebradas. OUVINDO BEETHOVEN [Rodrigo Otávio] Quando os teus dedos hábeis do teclado Ebúrneo arrancam as celestes notas Dessa música estranha, eu sou levado De um triste sonho às regiões ignotas; Deixo o mundo; só tu vens a meu lado, Tu somente, e, deixando em baixo grotas, Serras, cidades — fujo, ascendo, alado, Da fantasia pelas ínvias rotas; E vejo um sol na tela purpurina Do ocaso, e subo ainda, penetrando, Alfim, do Céu, no páramo profundo; E então escuto, pávido, a argentina Voz das estrelas trêmulas, falando Sobre as cousas tristíssimas do mundo... COMETAS [Valdemar de Vasconcelos] Também nos corações, nesse infinito, Rolam cometas de ígneas cabeleiras, Como os que andam no céu sempre às carreiras, Acompanhados de um sinal maldito! Velozes, rubras chamas mensageiras De um destino com lágrimas escrito, Quem é que não as viu, de olhar aflito, Correndo nesses rumos sem fronteiras? Esses cometas, que em nós mesmos moram, E assombram através dos corações, Não poupam nem sequer as almas que oram! Forças que vão passando em turbilhões, Trazem amores que de novo choram, E ódios de novo em férvidos vulcões! SONETO À LUA [Vinicius de Moraes] Por que tens, por que tens olhos escuros E mãos lânguidas, loucas e sem fim Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim Impuro, como o bem que está nos puros? Que paixão fez-te os lábios tão maduros Num rosto como o teu criança assim Quem te criou tão boa para o ruim E tão fatal para os meus versos duros? Fugaz, com que direito tens-me presa A alma que por ti soluça nua E não és Tatiana e nem Teresa: E és tampouco a mulher que anda na rua Vagabunda, patética, indefesa Ó minha branca e pequenina lua!
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Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes