|| ||S|| ||O|| ||N|| ||E|| ||T|| ||Á|| ||R|| ||I|| ||O|| ||||| ||||| ||||| ||

Antônio Peregrino de Maciel Monteiro (Recife PE 1804-1868)

Pródigo na palavra falada, orador vaidoso e político cacifado, agraciado com o título de barão (de Itamaracá), foi no entanto mesquinho como sonetista, fazendo jus aos que transitaram do classicismo para o romantismo.


AMOR IDEAL

Amar, amar um anjo de candura,
De toda a Criação a obra-prima,
Render-lhe o culto, que está inda acima
Do culto, que a Deus rende a criatura...

Dar-lhe quanto há no peito de ternura,
Que a paixão enobrece e legitima:
D'alma que ao céu se eleva e se sublima
O perfume votar-lhe em ara pura:

Desejos mil queimar em casta chama;
E a c'roa do martírio, em prêmio tardo,
Na fronte receber qu'ela orna e enrama;

Eis a religião do pio Bardo,
Eis como, minha Lília, ele arde, ele ama;
Eis como, minha Lília, eu amo, eu ardo.


FORMOSA

Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera rosa purpurina;

Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;

Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus lavores
Jamais soube imitar no todo ou parte;

Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!


[ININTITULADO]

Sonhei que, nos teus braços reclinado,
Teu rosto encantador, oh! Deusa, eu via,
Que mil ávidos beijos eu fruía
No níveo colo teu, ao mais sagrado.

Sonhei que era feliz, por ser ousado;
Que a força, a voz, a cor e a luz perdia,
Em êxtase suave, em que bebia
O néctar, nem por Jove inda libado...

E no mais doce e no melhor momento,
Exalando um suspiro de ternura,
Acordo, acho-te só no pensamento!

Oh! destino cruel, oh! sorte dura,
Nem me perdura um vão contentamento,
Nem me perdura em sonhos a natura.


[ININTITULADO]

Era já posto o sol. A natureza
Em ondas de perfume se banhava;
Aqui pendia a rosa; além brilhava
Alguma flor de virginal pureza.

Nuvem sutil de pálida tristeza
Pelo cândido rosto lhe vagava;
Nas negras tranças do cabelo estava
Murcha e mais triste uma saudade presa.

Oh! pintor que a pintasse! Era mais bela
Que a lua deslumbrante de fulgores
Surgindo dentre as sombras da procela!

Ao vê-la, ao ver seus olhos matadores,
Voou meu coração aos lábios dela,
Minh'alma ardente se banhou de amores.


SONETO À CANDIANI

Em que fonte de canto e de doçura
Bebeste, ó Candiani, a voz divina,
Que arrebata a quem sente e meiga ensina
A sentir té amar a penha dura?

Qual anjo da sagrada, empírea altura
N'harpa d'ouro os teus sons concerta e afina?
Qual doce aura do céu adeja... trina
Nos teus lábios co'as graças de mistura?

De ferro armado, armada de verbena,
Quem de Norma infeliz o canto exprime
Como tu a paixão, a mágoa, a pena?

Se delinqües de amor, ama-se o crime!
Se te ameigas a amor, quanto és amena!
Se te imolas a amor, quanto és sublime!


[ININTITULADO]

Não se minere só ouro fulgente,
Que a vista ofusca, faz a paz e a guerra;
Nem só as minas da fecunda terra
Sagaz mineiro lavra diligente.

Voluptuoso olhar concupiscente
Crava na urna que em tesouro encerra;
Nela corveja, nela as garras ferra,
Para a veia caudal achar fluente.

Processo metalúrgico aplicando
Ao labor burocrático, sem asco
Ouro em pó do escrutínio vai tirando.

Coragem! Dobra o cabo, ousado Vasco,
Que se fores a pique miserando,
Oh! meu Deus, que apupada, oh! que fiasco!

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes