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Afonso Schmidt (Cubatão SP 1890-1964)
Como contista atingiu momentos de plenitude, mas nos sonetos permanece
num discreto escaninho parnasiano, exceto quando sugere algum sintoma
delirante que ameaça escapar ao cerebral rigor. Abaixo um exemplo da
cerebralidade e dois do parafuso solto.
A BELEZA Neste crisol do coração, Beleza Que iluminas a nossa noite escura, És a Bondade que se fez Grandeza E a Dor sofrida que se fez Doçura. És a muda expressão da Natureza; Beijo no amor, sorriso na candura, Prece na morte, pranto na tristeza E, para os poetas, mística tortura. Ninféia azul no pântano estagnado, Flores brotando na aridez das lousas, Ou mistério no páramo estrelado, Em tudo o que nos cerca, tu repousas, Porque a Beleza é Deus manifestado, A nos sorrir pela expressão das cousas. LOUCURA VERDE Nas longas noites em que eu me enveneno, cigarro a espiralar sobre cigarro, traz-me a saudade o teu perfil bizarro, que eu não sei mais se é louro ou se é moreno. Não é bem um perfil, mas um pequeno alvoroço de névoas, um desgarro de linhas onde, surpreendido, esbarro com o teu olhar a me sorrir, sereno... Depois teu vulto se dilui aos poucos, mas teus olhos heris, como os dos loucos, ficam parados, mortos, ante os meus. Verdes, curvos cristais, por onde eu vejo monstros verdes passando num cortejo, sob um sol verde como os olhos teus. ROSAS LOUCAS A rosa louca é a rosa mais singela de todas as rosas, mas é bela porque nasce nas cercas, nos caminhos e conta menos flores do que espinhos. A rosa louca é a rosa mais plebéia dentre todas as rosas, traz à idéia a moçoila do bairro, tão bonita com vestidos de cor, feitos de chita. A rosa louca é a rosa que se olha sem tirar do pé, porque desfolha; ela pede perdão de não ter graça; desponta, desabrocha, encanta... e passa. Estas rosas são breves e são poucas, como o riso feliz em nossas bocas...
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