|| ||S|| ||O|| ||N|| ||E|| ||T|| ||Á|| ||R|| ||I|| ||O|| ||||| ||||| ||||| ||

TARSO, PAULO DE (pseudônimo)

Nascido em 1952 e residente em Brasília, quem se esconde atrás do apostólico pseudônimo aprecia o soneto e desde tempos comete-o em diversos gêneros (humor, protesto, dedicatórias a vivos e mortos), mas por enquanto só venceu a timidez a ponto de divulgar suas experiências no campo paródico, caso em que glosou duplamente um célebre exemplo de Bocage, abaixo amostrado.



SAIBA MORRER O QUE VIVER NÃO SOUBE
[Bocage]

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua orgia dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.


LAMENTAÇÕES DE UMA QUENGA VELHA

Meu corpo eu aluguei de forma insana
pra qualquer pé-de-cana que chegava.
Ah! Doida eu cria, estúpida sonhava
que rica ia ficar co'a minha xana!

Noites varei debaixo da banana.
Ficava exausta, mas eu adorava
viver assim co'a xana sempre escrava
dos caprichos daqueles pés-de-cana!

Prazeres eu senti co'esses tiranos,
até quando, em meu cu, pica não coube.
Mas eis que hoje me vejo em desenganos...

Deus, ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
dê bom descanso a quem, por tantos anos,
viveu da xana, mas poupar não soube!


LAMENTAÇÕES DE UMA BICHA VELHA

Meu rabo eu entreguei de forma insana
a qualquer batalhão que eu encontrava.
Ah! Doida eu cria, burra imaginava
em mim jamais caída a forma humana!

Noites eu fui, vadia e leviana,
dando assistência aos "recos". E adorava
viver assim, co'a bunda sempre escrava
daquela gente lúbrica e sacana!

De alguns, bem mais dotados e tiranos,
o pau dentro de mim nem sempre coube,
embora nessa vida há tantos anos...

Deus, ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
dê bom descanso ao meu cansado ânus,
já que na vida sossegar não soube!


Também de Bocage é o soneto abaixo, que em algumas fontes figura como
sendo do Abade de Jazente (nome poético de Paulino Antônio Cabral de
Vasconcelos). Aqui o parodista parte do princípio de que a autoria
legítima seja dum abade para criticar a hipocrisia clerical contra a
qual Bocage se insurgia:


[SONETO DA FORMOSA DEFECANTE] [Bocage? Abade de Jazente?]

Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Porém o ver cagar a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura;
Uma carta d'amor de alimpadura
Serviu àquela parte malcheirosa!

Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito d'amor que lisonjeiro
Afetos move, corações incita:

Para o ir ver servir de reposteiro
À porta, onde o fedor, e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro!


FAÇAM O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇAM O QUE EU FAÇO

Rezando o abade estava em voz melosa,
e nunca se viu alma assim tão pura.
O ver rezar a humilde criatura
gera em nós u'a imagem respeitosa.

Eis a missa acabou tão gloriosa,
já do altar se retira com candura...
E ora a sós um soneto ele escritura,
com mensagem nojenta e malcheirosa...

Ora, sigam atrás da voz bonita,
da batina em cetim do mensageiro,
que almas move, e orações a Deus incita,

para ir vê-lo, tal como num banheiro,
masturbando, e jogando em bela escrita
toda a "porra mental" de um punheteiro.


Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: elson fróes