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Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro RJ 1841-1875)
Se os românticos são conhecidos pela morbidez e pela solidariedade,
senão no câncer, na tuberculose, Varela exagerou na dose, pois juntou
tragédias familiares aos males físicos. Escandalizou a família ao casar
com uma artista de circo, de quem enviuvou logo. Casou de novo, mas teve
filhos mortos prematuramente. Boêmio, teve um peripaque fatal durante um
banquete. Seu vício letal foi o alcoolismo. Literariamente não se
definiu, indeciso entre um indigenismo tipo Gonçalves Dias, um byronismo
fúnebre tipo Álvares de Azevedo ou um abolicionismo tipo Castro Alves.
Sonetisticamente foi parco, como os demais românticos, e também continua
indeciso, a julgar pelo soneto abaixo, dividido entre duas variantes:
[PRIMEIRA VARIANTE] Desponta a estrela d'alva, a noite morre, Pulam no mato alígeros cantores, E doce a brisa no arraial das flores, Lânguidas queixas murmurando, corre. Volúvel tribo a solidão percorre Das borboletas de brilhantes cores; Soluça o arroio; diz a rola amores Nas verdes balsas donde o orvalho escorre. Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma Às carícias d'aurora, ao céu risonho, Ao flóreo bafo que o sertão perfuma! Porém minh'alma triste e sem um sonho Repete olhando o prado, o rio, a espuma: Oh! mundo encantador, tu és medonho! ENOJO [SEGUNDA VARIANTE] Vem despontando a aurora, a noite morre, Desperta a mata virgem seus cantores, Medroso o vento no arraial das flores Mil beijos furta e suspirando corre. Estende a névoa o manto e o val percorre, Cruzam-se as borboletas de mil cores, E as mansas rolas choram seus amores Nas verdes balsas onde o orvalho escorre. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh'alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! Seu outro soneto conhecido é aquele que poderia levar dois títulos, alternativamente: SONETO DA SOLEDADE, OU DA SOIDADE Eu passava na vida errante e vago Como o nauta perdido em noite escura, Mas tu te ergueste peregrina e pura Como o cisne inspirado em manso lago. Beijava a onda num soluço mago Das moles plumas e brilhante alvura, E a voz ungida de eternal doçura Roçava as nuvens em divino afago. Vi-te; e nas chamas de fervor profundo A teus pés afoguei a mocidade Esquecido de mim, de Deus, do mundo! Mas ai! cedo fugiste!... da soidade, Hoje te imploro desse amor tão fundo Uma idéia, uma queixa, uma saudade!
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: elson fróes |