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Eno Teodoro Wanke (Ponta Grossa PR 1929-2001)
Incansável compilador de versos alheios (especialmente trovas), publicou
volumes de seus próprios sonetos, como O ACENDEDOR DE SONETOS e APELO.
Sua obra mais curiosa é o livro APELO, no qual o soneto pacifista figura
em todas as páginas, vertido para 95 idiomas.
APELO Eu venho da lição dos tempos idos e vejo a guerra no horizonte armada. Será que os homens bons não fazem nada? Será que não me prestarão ouvidos? Eu vejo a Humanidade manejada em prol dos interesses corrompidos. É mister acabar com esta espada suspensa sobre os lares oprimidos! É preciso ganhar maturidade no fomento da paz e da verdade, na supressão do mal e da loucura... Que a estrutura econômica da guerra se faça em pó! E que reinem sobre a terra os frutos do trabalho e da fartura! Outros sonetos de Wanke: O NASCIMENTO DO SONETO Há pouco tive um pensamento estranho: "Que tal se hoje eu fizesse algum soneto?" Estou até de veia... Eis que o tamanho da inspiração já deu para um quarteto! Bobagem continuar, porém. Que ganho? Caiu-me o lápis. Já apontei. É preto. E como faz calor! Me espera um banho gelado assim termine este soneto. Estou também com sono. Que preguiça! Mas, amanhã é domingo. Irei à missa?! Não sei. Depois, decidirei se vou. Ai, ai... Vou terminar logo em seguida com isto. Estou com sede. Puxa vida! E o parto do soneto terminou! SONETO VAZIO Se este é o primeiro verso de um soneto, eis o segundo do soneto acima. Terceiro verso: Santo Deus, que meto agora aqui no quarto? Desanima! E, lido o quinto verso, lhes prometo um sexto! E atenção, que já termina! No sétimo, reparo que o quarteto acaba neste oitavo. E tome a rima! E aqui, meu nono verso, meus senhores, no décimo, sugiro-lhes paciência, do undécimo habilmente me descarto! Duodécimo: E que tal falar de amores? Mas... Décimo-terceiro! A penitência tem chave de ouro, enfim: décimo-quarto! GAMA Eu quero ser poesia. Eu quero ser a simples voz das coisas, o acalanto da luz tremeluzindo ao claro encanto dos namorados ébrios de prazer... Eu quero aquele mágico poder da música em surdina, ser quebranto de lágrimas nos olhos que amo tanto, ser quase um objetivo de viver... Eu quero ser o sonho cristalino do absorto pensamento do menino olhando para as nuvens do sol-pôr... Eu quero ser a voz azul dos passos que os pássaros escrevem nos espaços, eu quero ser poesia. Eu quero amor. PSI Nem sabes, filho meu, quanto prazer me causas, quando observo que desponta em ti uma juventude alegre e pronta à nítida conquista de viver! Já fui exuberante assim, um ser risonho, todo envolto em faz-de-conta e às vezes minha mãe surgia, tonta das traquinagens feitas sem querer... Revivo os tempos do meu tempo, e sei definitivamente o que é ser rei singrando os mares do sentir risonho... És meu caminho de ontem, eu-menino, e quero apenas, filho, que o destino te faça tudo aquilo que eu te sonho! ÔMEGA Se podes namorar? Querida filha, quem sou, para dizer? Quando o botão de rosa espia o mundo, ansioso, não o impedirei de abrir-se em maravilha! És juventude, e seguirás a trilha do teu destino. E desabrocharão teus dias, tua vida, do clarão da aurora que hoje inicialmente brilha... O ciclo do lirismo se completa e em ti revivo anseios de um poeta que muito ardeu de amor e muito quis... Adivinhando as nuvens do teu sonho, querida filha, em tuas mãos deponho o meu consentimento. Sê feliz! EPÍLOGO As flores, esmagadas pelo duro caminho em nossos passos, tão floridos, deixaram seus perfumes coloridos em tudo o que procuras e procuro. Felicidade é um fruto já maduro, e a vida nos encontra já sofridos... Os filhos, tão sonhados e vividos, já podem caminhar pelo futuro! Agora, ao som do tilintar das taças felizes, neste festival de graças que nosso lar recebe do Senhor, só peço a Deus que afaste a nuvem triste, conserve em nós a luz que em nós existe, e seja amor, completamente amor! SAUDADE Mas que saudade, que saudade a minha, saudade imensa de sentir poesia, poesia em tudo, assim como eu sentia enquanto eu tinha o coração que eu tinha... Porque já tive um coração um dia, que disparava, ou quase se detinha se ela aos meus braços palpitante vinha, e que ternuras doidas consumia... Vivia então constantemente imerso na mágica do sonho, no universo do amor ao ser que eu pressupunha meu... Não vivo mais. Vegeto, na esperança de achá-la ainda à ladra que, tão mansa, levou meu coração... Não devolveu... DESEJOS DE RETORNO Eu quero pôr de novo as calças rotas, sair na chuva, andar pela calçada, juntar-me à garrulice alvoroçada dos bandos de garotos e garotas! Sentir de novo as arrepiantes gotas no rosto, os pés metidos na enxurrada, o espírito zanzando, sem mais nada, sem mais me preocuparem coisas doutas... Não posso trabalhar... Nesta vidraça que o meu suspiro de saudade embaça, escorrem cristalizações de sonho... Ah, Fausto, eu te compreendo! Se o demônio surgisse agora, eu tinha a alma danada em troca de zanzar pela enxurrada!
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: elson fróes |