Tudo em Plath lembra-nos pessoal, confessional e profundo sentimento. Entretanto, nela, a forma do sentir é a controlada alucinação, a autobiografia de
S. Plath em
Cambridge, 1957. uma febre. O queimor da ânsia que se move para uma cavalgada, uma viagem, um vôo da abelha rainha forçada a alcançar os batimentos cardíacos ofegantes.
Os títulos da autora de Lady Lazarus evocam os personagens shakesperianos - os duendes adoráveis - mas curiosamente aterrorizantes e viris. Na verdade a obra Ariel é corcel da poeta. Perigoso, contudo, poderoso, eficiente como uma matriz em treinamento, nos leva a uma corrida de cavalos que tendem para um lado espasmódico onde se superam uns e outros obstáculos da morte.
Um grito de vida tempestuosa, das partidas marcadas pelo som da arma, de fim cortado. Quando tudo nela é mais heróico poema e não forçado com bastante simplicidade e desespero ao seu controle, mãos de aço com um toque modesto de mulher. Ela é qualquer ação pura (verdadeira). Nela hospeda a febre, a paralisia, o pulmão de aço a ser despida por nós agora.
THE COURIERS
Poema: Among the narcisse.
The word of a snail on the plate of a leaf?
It is not mine. Do not accept it.
Acetic acid in a sealed tin?
Do not accept it. It is not genuine.
A ring of god with the sun in it?
Lies. Lies and a grief.
Frost on a leaf, the immaculate
Cauldron, talking and cracking
All to itself on the top of each
Of nine black Alps.
A disturbance in mirrors,
The sea shattering its grey one –
Love, love, my season.
Todavia é mais: a imortalidade da sua arte é a desintegração da vida. A surpresa, o presente ilustrado de aniversário, a transcendência. No entanto, as poesias de Plath não são a glorificação de uma existência selvagem e dissoluta, o haver de um poeta – maldito – alegre de ser destruído em troca de alguns anos de intensidade desmoronada. Esta poesia do cotidiano é como uma corrida estrênua, simplesmente nos diz que a vida também quando disciplinada não vale a pena ser desperdiçada.
ALL THE DEAD DEARS
Rigged poker-stiff on the back
With a granite grin
This antique museum-cased lady
Lies, companioned by the gimcrack
Relics of a mouse and shrew
That battened for a day on the ankle-bone.
These three, unmasked now, bear
Dry witness
To the gross eating game
We'd wink at if we didn't hear
Stars grinding, crumb by crumb,
Our own grist down to its bony face. /...
Não sei até que ponto os propósitos apresentados, aqui, resultam respeito à poética da Sylvia Plath. Sem ser patética tenho estudado para declarar a poesia em poesia, em narrativas, sem quaisquer pretensão ou tentativa de “reinterpretá-las” segundo o meu gosto pessoal. Os poetas, como Plath, não necessitam destas sobreposições, mas recusam decididamente – pois eles fazem a dispersão com a mesma força do texto (seja ele morto, desconhecido ou distante) ao qual em definitivo se reduzem.
A escritora americana Sylvia Plath não foi para mim uma face, nem voz, nem figura que caminha para minha direção. É uma poeta clássica e remota, são as páginas de seus livros, seus poemas. Somente com respeito e consciência adquirida ao longo das leituras e das suas fases poéticas, venho emprestar minhas idéias numa escolha dos versos e pensamentos. Procurando adivinhar seu nascimento, crescimento e morte nas poesias lidas e que me trouxeram a produzir este texto.
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Lapide de Plath, Heptonstall,
West Yorkshire, Inglaterra.
POPPIES IN OCTOBER
Even the sun-clouds this morning cannot manage such skirts.
Nor the woman in the ambulance
Whose red heart blooms through her coat so astoundingly –
A gift, a love gift
Utterly unasked for
By a sky
Palely and family
Igniting its carbon monoxides, by eyes
Dulled to halt under bowlers.
O my god, what am I
That these late mouths should cry open
In a forest of frost, in a dawn of cornflowers.
NOTAS:
1 Fernando Pessoa. Mensagem. Ed. DIFEL. São Paulo, 1986.
2 Todas as poesias de Sylvia Plath foram retiradas da Coletânea Sylvia Plath - Lady Lazarus e altre poesie.
Andréa Santos, nasceu em Parintins. É formada em Letras. Atua como ensaísta literária e tradutora em sites culturais. Possui publicações em revistas como Calibàn, Etcetera, Nave da Palavra, Caffè Michelangiolo (Florença), El Muro (Argentina) entre outras. Publicou: Redescobrindo o Brasil aos 500 anos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000 (premiado pela ABL, distribuído aqui e em Portugal) e Imagens Femininas Negras, em Paraíso, de Morisson, Recife: Editora FASA, 2000. Atualmente, dedica-se à formação do livro: Antologia de Contos Italianos no Brasil.
matéria gentilmente cedida para este site
originalmente em Literatura, no site da revista Etcetera, novembro’02/janeiro’03.