TARSO M. DE MELO

 

A LAPSO

 

 


VER


ver, cair da noite,
a frase de guillén
— coração-mar —
pulso até a areia
e nada

diástole? síncope,
sístole infinita

prédios contemplam a praia
fugir, sob a água,
de suas sombras

: atmosfera de algum livro,
lugar sem distâncias.





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no céu (como se
quintal, entre
pregadores e nós)
todo asas
de um a outro
despreza a alta
tensão e traduz
em pouso o vôo





ADEN, 1882/RIMBAUD: UMA CARTA


teodolito, bússola,
um barômetro de bolso
e uma fita
de agrimensor, além
de le Ciel e do Annuaire
du Bureau des Longitudes
pour 1882, é só
dizer quanto
não tenho medo de gastar

cordiais saudações





MEMÓRIA


por dentro e
extravasando
— braços dados ao vazio
e ao nada:
uma lembrança
		solene
desaba





ESPESSA


espessa como
certos ossos
sob a sucata

entre guardada
e esquecida jaz

mais que pura
intacta

a ferir quem
observa: lâmina,
lâmpada, límpida
luz





AINDA


pensar-me
ainda
ser
diferente

(algum, talvez
vazio
estranho)

nenhum sinal,
nenhum
	contato,
ao léu, passos:

amor a lapso





ESPAÇOS


no espaço o silêncio
de marceau

à luz, escuro
e grávido de som
um gesto

ofício mudo

lúdico
anti-músico
guardando
um pássaro
em cada pulso





OSSOS DE BORBOLETA
para Régis Bonvicino


mínima (em
ecos magros e
horizontais
de palavras que
imóveis deslizam
e amplificam-se
de sentido a
sentido) uma
incomensurável
tessitura de inevitáveis
outros amanhãs
que (oásis seco: sol
cansado dos hábeis
moluscos e folhas
fartas de músculos)
eleva a sinfonia
das datas a ruído

 

Poemas do livro A Lapso, Ed. Alpharrabio, 1999.

Leia uma entrevista com o poeta em Balacobaco

 

Tarso M. de Melo?

Copyright © 1999 by Tarso Menezes de Melo.

 

Û Ý ´ ¥ Ü * e-mail: Elson Fróes