Leiam a seguir uma mensagem enviada a Pop Box. To: efres@sti.com.br Subject: Caldo Berde saudações " |
Cáin é iele: "Quibaleiro da Ordem 3ª da P'nitencia, P'risidente rimido da Rial Suciedade dos Phutographos de Lisvoa, Sócio du Vasco, cundicurado com as siguintes incumendas: Istreila de seis vicos du Alemtejo, Grã Cruz de páo inbirnisado do Porto e muitas Minções Hunrosas." |
Alguns pinsamentos e dictados d'O Caldo Berde:
SONETO CRÁSSICO
Ao Quemões
Cáin diz qu'um kilo d'algodão é a mesma coisa
qu'um kilo de chumvo, nunca biu Arithmetica
ou sciencias adjacentes.
VARÃO DE SAABEDRA
Sete anos de queixeiro o Zé sirbia
Na benda du Jaquim, um lusitano
Mas num era u Jaquim, que ele quiria,
Era u dinhâiro dele! Que magano!
Anos e anos na espr'ança de um só ano,
Passaba e a vurra nunca averta bia.
U Jaquim, nuguciante suburvano,
Do queixeiro, talvez, se precabia.
Bendo u Zé que u patrão, impirtinente,
Nunca lhe disse a iele: A "vurra é bossa!"
Nunca a honra lhe fez de tal cumbite,
Cuntinuou sirbindo-o vrandamente
Dizendo: "E sirbirei até que possa
Pingar-lhe u covre todo e dáre u suite!"
UBIRE AS ISTRELAS
A instrunumia é uma ciência aérea que
estuda as rilações internacionais entre os planetas
e
os seus similhantes.
GINIRAL GRAMONA.
- "Ora, dirâis, ubire estrelas... Passo!
"Num póde sêre!" E eu bus dirâi: "Aflito
"para ubí-las, acordo, olho p'ru ispaçu,
"tiro a cêra d'ubido com um palito,
"i cumbirsamos, digo-lhe e rupito,
"até que rompe a uróra. Aí, que eu faço?
"Bou miter-me na cama, quensadito,
"com uma dôre infadonha nu queichaço.
Dirâis, agora: "Isso é tapiação!
"Cumu é que podes tal cumbersa têre
"cu'as istrilitas que tão longe estão?
E eu bus dirâi: "Amâi uma quechópa
"váim nutrida, sucada e habeis de bêre
"e ubire istrelas de pagóde! É sópa!
CRIOILAS MORTAS
Ao amigo Ulabo Vilaque
A lágrirna é um líquido quente que a
gente expél plu glovo bisuale cando suluça.
CANDIDO FIGÁIREDO.
Cando uma preta morre, um cumeta aparece
nobo, a andáre nu céu, mustrando u ravo à gente,
e a ialma da difunta, acesa, pirsistente,
nu supradito ravo agarra-se e istrimece.
Ó bós que andais na farra! Ubi-me, finalmente!
Tudo isso que fazâis assim qu'a noite desce,
bai-se ubire nu céu e S. Pedro, parece
que não gosta de bêre u qui não é dicente!
Namurados qu'andais co'a jiqueta châirando
a vudum de crioila e andais vus incustando
p'lus muros, pula rua, entra mês e sai mês,
piedade! Elas beem u bósso ispalhafato!
Piedade! Que diavo! Isso ufende u ricato
das que biberam sós, sem mâsmo um purtuguês!
BISITA À CASA DU MO PAI
É impriscindíbel que não se confunda rabulação
intistina com rabulação intistinále. O varulho
da mitralha é muito dif'rente!
GÓMES LIÁLE
Como um pardal que bólta para u ninho
dispois de andáre pur aí além,
eu quis tamvém ribêre Santarém,
u meu primâiro e birginal cantinho.
Pinitrei. Um fantasma, com querinho,
que era, talbez, a assumvração d'alguém,
pigando-me p'la mão, disse: "Meu vem!
"Bem cumigo!" E lá fomos, de mansinho...
Era aqui nesta alcôba, o dia intâiro,
em que eu vrincaba d'iscundêre, e tanto
que punha fora os vófes... Um v'rrâiro
eu fiz logo, contra u meu disâijo.
Una pulga churaba em cada canto.
Churaba em cada canto um pulsebâijo.
CIRCUITO BICIADO
Em cada sêre humano, se perpetúa u
cungraçamento das upourtunidades.
QUEIMÕES
"Guiando um vonde, gimia inquieto maturnairo
Ah! Si eu fosse o fiscale aqui dessa meléca...
"de prazere, nem sâi... tumaba uma queméca..."
Mas o fiscale ulhando o vurro do dinhâiro
Do chefe du iscritorio: "Imbéjo-te, parcâiro!
Se eu fosse como tu, câ farra! Câ panqueca!
"Comia tanto, que rivintaba a cueca!"
Mas o chefe a fitare a pança de bendâiro,
do supirintendente : "Eu não ser mais maiore!"
"Não têre o que tu tains! Não tere o teu dinhâiro!"
E o supirintendente a limpáre o suóre
"Iscrebo como um vurro! É a noute! É o dia intâiro!
"Entra sol e sáe sol! Não ha coisa pióre!
"Ah! Câim déra que eu fosse um simples maturnâiro!"
MONOLOGO DE UM BEBEDO
"Diante de seis garrafas esgotadas
De cerveja, o Cazuza reflectia:
"Transtornam-me a cabeça, todo dia,
"Por este mundo as coisas espalhadas.
"Acho do Omnipotente, bem mandadas
"Mãos e pés para nós, que serventia
"Têm num caso de briga ou valentia,
"A espalhar ponta-pés e bofetadas.
"Mas em vez de dois pés, um pé sómente
"Nós deviamos ter, que um, caminhando,
"Faculta-nos o andar perfeitamente.
E o Cazuza falava, sem cançar.
Mas da mesa ao erguer-se cambaleando,
Desejou pés em penca para andar."
Quem é Furnandes Albaralhão: Horácio Mendes Campos, que publicou em 1930 o livro de humor Caldo Berde em que apresenta sátiras, paródias de sonetos famosos e pensamentos com linguagem macarrônica, bem à moda do pré-modernista Juó Bananere (visite também o site: Juo Bananere, poeta, barbiere i soldato). Alguns trechos de seu livro foram reproduzidos na revista A Pomba na década de 60. "Horácio Campos é um dos muitos colaboradores quase ignorados de uma das várias fases de "A Manha", o jornal humorístico e satírico de Aporelly. Na "A Manha", na mesma fase em que êle, escreveu também Saul Borges Carneiro, com o nome de Barão d'Ascurra. Em outras fases diga-se incidentemente também na mesma fôlha humorística escreveram José Lins do Rêgo, Valdemar Cavalcanti, Rubem Braga, Joel Silveira, Carlos Lacerda, o organizador desta antologia, etc. Usando o pseudônimo de Furnandes Albaralhão, Horácio Campos fazia, com muita arte, o suplemento lusitano de "A Manha", escrevendo paródias de poetas portuguêses e brasileiros e composições de sua inteira inspiração. Chegou a reunir parte delas num livro delicioso, publicado com o título de "Caldo Berde". Foi, em relação aos portuguêses, o que era Juó Bananere em relação aos italianos. Tendo desaparecido ainda moço, seu livro, nunca mais reeditado, é hoje uma verdadeira raridade bibliográfica, tanto mais que nem a Biblioteca Nacional dêle possui exemplar." R. Magalhães junior "Como Juó Bananére no mascavo paulista-carcamano, Furnandes de Albaralhão, com o Caldo Berde, já em 2ª edição, teve êxito merecido, trocando o português do Rio de Janeiro, comendador, matriculado, sócio do Basco, amador de petisqueiras, verdasco e mulatas, que o brasileiro não perdôa patrioticamente trabalhar aqui para a propria e a nossa prosperidade. Mas estes beliscões têm graça, nos aliviam e a pel' del's é tan chaia d'in xundia, que não faz mossa. Se eles tiverem "humour" refletirão como aquele aguadeiro galego da Bica da Rainha que escrevia para a terra: "aiagua é del's, mas somos nós que lh'a vendemos". Sem razão economica, dizem os Russos e seus admiradores, não há nada. Nem mesmo humour, que é represalia do sentimento, ou da sensibilidade." Afrânio Peixoto |
Bisite tamvém o sitios: Furnandes Albaralhão
e o projeto releituras
Û Ý ´ ¥ Ü | * e-mail: Elson Fróes |