[1] MOTTE
Juncto a uma clara fonte
Analia bella encontrei,
Mimosamente banhando
Uma cousa que eu ca sei.
GLOSA
Um dia em que o meu gado
Pastorava no deserto,
O bosque de um monte perto
Vi de flores recamado;
Àquelle mimo encantado
Me dirigi por defronte,
E chegando ao pé do monte,
Que suspendia a ramada
Dei com uma nympha agachada, [pronuncia-se "c'uma", por ecthlipse]
JUNCTO A UMA CLARA FONTE.
Pé ante pé, subtilmente
Nas hervanças me escondi,
E como basbaque alli
Puz-me a vel-a attentamente;
No collo livio e luzente
Dois globos lhe admirei,
Rica anagua divisei
Suspensa à virilha sua,
E dahi p'ra baixo nua,
ANALIA BELLA ENCONTREI.
Nos calcanhares sustida,
Abertas lucidas coxas,
No meio entre sombras roxas,
Negra cupula crescida,
Com o figo parecida,
Do meio p'ra o fim rachando;
Da fenda, vermelhejando,
Pingente rubro surdia,
Na qual agua sacudia,
MIMOSAMENTE BANHANDO.
C'o este painel aturdido,
Em chammas de amor acceso,
Corro, chego, mostro teso,
De Venus o sceptro erguido;
Ella assustou-se. "Attrevido!"
Me disse assim que cheguei.
A seus pés me ajoelhei,
Com protestos tão extremos
Que alli logo fizemos
UMA COUSA QUE EU CA SEI.
[2] DECIMA
Certa mulher de um marquez
Fodi por cousa nenhuma,
Mas fodi somente uma,
Deus me livre de outra vez!
A tal putinha me fez
Na porra tal desatino, (1)
Com seu rebolar maligno
Poz-me a mente tão corrupta
Que julguei no cu da puta
Encontrar o palatino!
[3] MOTTE
Va p'ra puta que o pariu!
GLOSA
Certa sujeita do paço
Um amante namorava,
Com quem se punheteava,
Com todo o desembaraço;
Elle quiz ir-lhe ao cabaço
Mas ella lhe retorquiu:
"Gentes, pois ja la se viu?
Arre la, arrede a trouxa!
Si ja não lhe serve a coxa,
VA P'RA PUTA QUE O PARIU!"
[4] MOTTE (2)
Porra no cu não é festa.
GLOSA
Em noite do Espirito Sancto [pronuncia-se "esp'rito", por syncope]
Comia certo fanchono
Um sacana de alto abono
De uma barraca no cantho;
Ja lhe tinha um tanto ou quanto
Entrado do cu na fresta;
Troam foguetes... "E esta?"
(Diz o puto em repiquetes)
"A que veem estes foguetes? [actualmente, "vêm"]
PORRA NO CU NÃO É FESTA!"
[5] OUTRO
Nariz no cu não é festa.
GLOSA
À foda estando disposto,
De uma puta em casa entrei;
Sobre a cama me deitei,
E, nella tendo-me posto,
Na força daquelle gosto
Quiz cheirar-lhe o cu. "E esta?
(Diz a puta) O que mais resta
a se ver num putanheiro?
Grandessissimo brejeiro,
NARIZ NO CU NÃO É FESTA!"
[6] MOTTE
Você diz que arromba, arromba,
Não se arromba desta sorte;
Quem o tem apertadinho
Vê-se nas ansias da morte.
GLOSA
A Jonio dizia Eulina,
No leito deitada e nua:
É tão grossa a coisa sua
E a minha racha tão fina!
Isso arromba-se, menina,
Diz elle, encostando a tromba.
O que, meu bem? Você zomba,
E abusa da innocencia!
Eu lhe peço paciencia,
VOCÊ DIZ QUE ARROMBA, ARROMBA!
Ai! Ai!... Com que força fura!
Não parece alma christan!
Guarde o resto p'ra amanhan,
Que ja fez-me uma cisura.
Que coisa tão grossa e dura!
Ai! Meu bem, esta foi forte!...
Com mais outra dá-me a morte!...
Modere esse seu furor,
Olhe que a porta de amor
NÃO SE ARROMBA DESTA SORTE!
Na bocca em que a dor mais grassa
Impõe e torna sublime,
Jonio mil beijos imprime
Que à voz servem de mordaça;
Nos peitos a mão lhe passa,
E assim lhe diz com carinho:
Tire a mão, deixe o conninho, (3)
Pois essa dor que a tortura,
Sente sempre na abertura
QUEM O TEM APERTADINHO.
Você (prosegue extremoso)
Agora pensa que morre,
Porem logo que se esporre
Verá que prazer, que gozo!...
Ai!... Entrou!... Não é gostoso?
Não; que dor!... Meu bem, supporte!
A bella faz-se de forte,
Põe-se co'a bunda a mexer,
E entre a dor e o prazer
VÊ-SE NAS ANSIAS DA MORTE!
[7] MOTTE
Ja não tenho mais tesão,
Ja não sou quem dantes era!
GLOSA
Amor, ao teu carro em vão
Tu me pretendes jungir,
Eu não te posso servir,
JA NÃO TENHO MAIS TESÃO;
De putas um battalhão
Ja forniquei noutra era;
Ja fodi com porra fera
Mulatas, brancas e pretas,
Hoje só como punhetas, (4)
JA NÃO SOU QUEM DANTES ERA!
[8] OUTRO
Puz entre as mãos de meu bem
Alma, vida e coração.
GLOSA
Fingindo meigo desdem,
Estando muito arreitado, (5)
O meu caralho entesado
PUZ ENTRE AS MÃOS DE MEU BEM;
De mil caricias alem,
Na cabeça poz-lhe a mão,
Com tão doce sensação,
Que, apertando a minha bella
Lancei numa esporradela
ALMA, VIDA E CORAÇÃO.
[9] MOTTE
Marcianna diz que tem
Septe varas de chordão;
É mentira, não tem nada,
Nem dez réis para sabão.
GLOSA
Leve o demo o maldizente
Que maldiz qualquer pessoa;
Marcianna é cousa boa,
É creoula de patente!
Si ella tracta a pobre gente
Com desprezo e com desdem,
Tem razão, porque tambem
Entre os ministros de Estado
Um reverente creado
MARCIANNA DIZ QUE TEM.
Feliz-Asno, que se ufana (6)
De saltar de amor abrolhos,
Ficou preso pelos olhos
Da creoula Marcianna;
Qual macaco por banana,
Por ella nutre paixão,
E, para tal affeição
Mostrar com todo apparato,
Mandou-lhe com seu retracto
SEPTE VARAS DE CHORDÃO.
Da gente vizinha vem
Aos ouvidos com presteza
A noticia da riqueza,
Da nobreza que ella tem.
Não acredita, porem,
Na noticia inesperada,
E no contrario firmada
Responde a canalha tola:
São invenções da creoula,
É MENTIRA, NÃO TEM NADA!
Chamam-na de mentirosa,
De attrevida e malcreada,
De impostora e descarada,
De miseravel vaidosa!
Que gente tão aleivosa!
Mas, coitados, teem razão,
Pois lhes causa confusão
Ver com feições de rainha
Uma negra que não tinha
NEM DEZ RÉIS PARA SABÃO!
[10] MOTTE
Marcianna com ciumes
Do seu querido socó,
De manhan ja não lhe dá
O gostoso pão de ló.
GLOSA
Ja não usa de perfumes,
Nem espicha a carapinha
A feiticeira negrinha
MARCIANNA COM CIUMES:
Chorosa ella invoca os Numes
Que a mactem sem pena e dó
Que a reduzam logo a pó,
Porque a vida não lhe agrada,
Quando se vê desprezada
DO SEU QUERIDO SOCÓ!
Na afflicção grande em que está
Nem gemmadas, nem mingau
Ao ingrato carapau
DE MANHAN JA NÃO LHE DÁ:
Antes lhe manda que va
Ao logar que tem um O ;
E vagando triste e só
A soluçar e gemer,
Ja não faz para vender
O GOSTOSO PÃO DE LÓ!
[11] MOTTE
Quem Feliz-Asno se chama
Decerto é asno feliz.
GLOSA
Si Camões cantou um Gama
Por seus feitos de valor,
Tambem merece um cantor
QUEM FELIZ-ASNO SE CHAMA:
Qualquer burro pela lama
Enterra patta e nariz,
Mas este que com ardis
Chegou a ser senador
É besta de alto primor,
DECERTO É ASNO FELIZ.
[12] OUTRA
Do nosso animal a fama
Não consiste em lettras ter;
Só contas sabe fazer
QUEM FELIZ-ASNO SE CHAMA:
Para cobrir-se de lama
Até ser ministro quiz,
Mas só no nosso paiz
Um burro de má figura
Chegaria a tal altura:
DECERTO É ASNO FELIZ!
[13] OUTRA
Assim como um galho é rama
É uma vara cipó,
Tambem pode ser Socó
QUEM FELIZ-ASNO SE CHAMA:
Um leito tambem é cama,
Uns dizem gesso, outros giz;
Um grande beque é nariz,
De um botão brota uma flor;
Mas um burro senador!
DECERTO É ASNO FELIZ!
[14] MOTTE
Ou são quattro as Graças bellas
Ou tu és uma das trez.
GLOSA
Ou no Becco das Cancellas
Ha uma Graça fugida,
Por ser no Empyreo fodida,
OU SÃO QUATTRO AS GRAÇAS BELLAS.
Uma femea egual a ellas
La encontrei uma vez
Em certa noite de Reis,
E lhe disse por chalaça:
Ou ha de mais uma Graça,
OU TU ÉS UMA DAS TREZ.
[15] OUTRO
Priapo teve um attaque
Ao ver um donzel no mundo.
GLOSA
Dos connos no grande saque,
Que é por todos repetido,
Nas luctas enfraquecido,
PRIAPO TEVE UM ATTAQUE;
O deus tornou-se um basbaque,
E as putas com dó profundo
Puzeram lucto no sundo;
Mas tudo em breve mudou,
Porque o deus resuscitou
AO VER UM DONZEL NO MUNDO.
[16] MOTTE
As graças servem à mesa,
Minerva toma lição,
Apollo toca o Bitu
Nas chordas do rabecão.
GLOSA
Famosa e bella barraca
La no largo do Rocio
Foi, pelo racional brio,
Feito com pannos de maca;
Do candeeiro à luz fraca,
Quasi sempre mal accesa,
Vê-se que, com gentileza,
Um pagode alli se arvora,
Onde, com o cu de fora,
AS GRAÇAS SERVEM À MESA.
Tambem por entre estas scenas
Da nação vê-se o Thesouro
Qual um menino do coro,
Vendo as partes obscenas [pronuncia-se "obiscenas", por anaptyxe]
Daquellas machas pequenas
Que, em tão bella posição,
'Té podem fazer tesão
À creancinha innocente,
A quem, qual mestra prudente,
MINERVA TOMA LIÇÃO.
Vendo esta scena tão grata,
Das Musas o velho pae
Afflicto do Pindo sae,
Julgando encontrar mammata;
Mal chega, as calças desata,
Tira as vestes, põe-se nu,
Das graças aperta o cu,
E, arreitado ficando,
Em um rabecão pegando,
APOLLO TOCA O BITU.
Minerva, coçando o sundo,
De ensinar deixa o menino,
E agarrar quer no pepino
Do louro Apollo jocundo;
E, volvendo o cu rotundo
Com fremente arreitação,
Deixa a musica de mão,
Tira o menino do collo,
E faz esporrar-se Apollo
NAS CHORDAS DO RABECÃO.
[17] OUTRO
As Graças mostram o cu
Minerva toma lição
Apollo toca o Bitu
Nas chordas do rabecão.
GLOSA
Eu vi hoje uma pintura
Feita por habil artista,
Que encanta e deleita a vista,
E a pica torna-se dura;
A deusa da formosura
O conno apresenta nu;
Vulcano come um caju,
Largando a bigorna e o malho;
Priapo mostra o caralho,
AS GRAÇAS MOSTRAM O CU.
Tudo entre os deuses se move,
As deusas tomam na greta,
Cupido toca punheta
No bacamarte de Jove;
Das bicas do Olympo chove
O leite com profusão;
Entre os que levam na mão,
Entre os que tomam na via,
A todos em putaria
MINERVA TOMA LIÇÃO.
Quando termina a festança
E ja se acabam as fodas,
As deusas formam mil rodas,
Marca Jove a contradansa;
O terno Cupido dansa,
Battendo co'as mãos no cu,
Mercurio dansa o lundu,
Priapo dansa com Juno,
Marca o compasso Neptuno,
APOLLO TOCA O BITU.
Termina a questão famosa
E, ja fatigado Apollo,
Se foi recostar ao collo
Da bella Venus mimosa;
Ella toda carinhosa
Lhe vae fazendo tesão,
E tanto bulliu co'a mão
Que, quando menos pensava,
Apollo ja se esporrava
NAS CHORDAS DO RABECÃO.
[18] MOTTE
Ja sinto gostos na pomba!...
Bravo, meu bem, 'stou me vindo! (7)
GLOSA
Um certo velho Lacomba
Com certa puta fodia,
Que entre mil luxos dizia:
JA SINTO GOSTOS NA POMBA!...
O velhinho na maromba
Com o cu vae sacudindo
E a puta rebullindo
A bunda com summo jeito,
Diz com gesto satisfeito:
BRAVO, MEU BEM, 'STOU ME VINDO!
[19] OUTRA
Caralho grosso e de arromba
Marilia alegre gramava,
E entre suspiros bradava:
JA SINTO GOSTOS NA POMBA!
Vermelha cabeça e romba
Mais se vae introduzindo,
E o caralho ja sentindo
Doces cocegas de amor,
Dizia em voz de estentor:
BRAVO, MEU BEM, 'STOU ME VINDO!
[20] SATIRA AO REGO
Illustrissimos senhores
Da nossa Municipal,
Deixae que um fraco mortal
Inferior dos inferiores,
Implore os vossos favores
E bondade conhecida,
Para que seja attendida
E posta em actividade,
Com a maior brevidade,
Uma importante medida.
Ja não servem as calçadas
De guarda ao limpo vestido,
Que o Rego a ellas unido,
Cheio d'aguas encharcadas,
Põe as vestes salpicadas
D'agua suja a cada instante;
Emquanto o gaz implicante
Das fezes com que se enfeita,
Com seu aroma deleita
As ventas do caminhante.
Inda aqui nesta cidade,
Assim como na campanha,
A mesma infelicidade
Ao Rego sempre accompanha;
A porcaria é tamanha
Como nunca vi egual,
Porque todos em geral,
Eguaes na vontade sua,
Converterão em commua
O Rego do hospital.
Parece fatalidade
Esta desgraça do Rego;
Sempre com pessimo emprego
O tem visto a humanidade;
Da natureza a impiedade
Deu-lhe um destino bem cru,
Quando vejo um homem nu
Fico disto na certeza,
Pois noto que a natureza
Abriu-lhe um Rego no cu!
Muita gente ha que nutrindo
Economicos desejos,
Fazem da casa os despejos,
Das despesas prescindindo;
Quando tudo está dormindo,
Vão cuidar do doce emprego
E com todo o seu sossego,
Innocencia e singelleza
Passam a fazer limpeza
Mesmo na bocca do Rego.
Causa raiva seriamente,
Tira-me todo o sossego,
Ver assim o pobre Rego
Cagado por tanta gente;
Não ter remedio um doente
E outras cousas eguaes
É mau para os hospitaes,
Isto é claro, está bem visto;
Mas alem de tudo isto,
Cagar no "Rego" é demais!
Vós, porem, sabios eleitos
Podeis o erro emendar;
É dos sabios melhorar
Ou destruir os defeitos;
Mas si devem imperfeitos
Os "Regos" sempre ficar,
Mandae-os eliminar
De qualquer logar decente,
E haja "Rego" somente
Onde se deva cagar.
Nestes termos pede o vate
Do Hospital para sossego,
Que seja entupido o Rego
Que lhe dá tanto combatte;
O Congresso sem debatte,
Prompto pode assim dispor;
Ninguem satira suppor
Va que o meu pedido encerra:
Fallo de um Rego de terra,
E não do Rego Doutor.
[21] MOTTE
De putas uma remessa
O guardião sempre tem.
GLOSA
Buscava João com pressa,
De fanchonos um convento,
Mas burlou o seu intento
DE PUTAS UMA REMESSA;
"Menino, que pressa é essa?"
(Diz-lhe uma com desdem)
"Si procura achar vintem
No convento, não se macte,
Que pivias desse quilate
O GUARDIÃO SEMPRE TEM."
[22] OUTRO
Alma pura e rosto d'anjo
Nella junctos encontrei.
GLOSA
Disse-me um dia um marmanjo
Que furtou-me uma gallinha
Que a sua adorada tinha
ALMA PURA E ROSTO D'ANJO;
Por me não fazer arranjo
O caso desconversei;
A gallinha lhe tomei,
E apalpando-a de novo,
Uma gallinha e um ovo
NELLA JUNCTOS ENCONTREI.
[23] MOTTE
Uma amizade sincera
Só falta, faltando a vida.
GLOSA
Quando o tesão se apodera
De joven, ardente pica,
É quando se verifica
UMA AMIZADE SINCERA;
Lilia ingrata, Lilia fera,
Nesta porra endurecida
Terás prova desmedida
De amizade até que eu morra
Pois tesão na minha porra
SÓ FALTA, FALTANDO A VIDA.
[24] DECIMA
Por aqui uma só vez
Não passo por esta rua,
Que não veja esta perua,
Na porta com dous e trez;
Que fodas não dá no mez
Aquelle conno tão quente!
E chega a ser tão potente
A maldicta da cachorra,
Que no cu sempre tem porra,
Na porta sempre tem gente!
[25] MOTTE
Pode apalpar, pode ver,
Das coixinhas [sic] pode usar,
Por fora quanto quizer,
Dentro não, que hei de gritar!
GLOSA
Meu bemzinho, que desgosto
Me está causando você;
Sua boquinha me dê,
Para mim volte o seu rosto.
Eu consinto no seu gosto,
Porem não ha de metter,
E si deseja saber
Si ainda tenho cabaço,
Com todo o desembaraço
PODE APALPAR, PODE VER.
Aqui está! Metta o dedinho
Na cavidade do centro;
Não me carregue p'ra dentro
Que me magoa o conninho;
Não 'steja tão tristezinho
Por eu não me franquear;
Você me quer deshonrar!
Olhe, eu lhe faço um partido
Si é p'ra ser meu marido,
DAS COIXINHAS PODE USAR.
A coisa pode encostar
Por fora, não tenha susto;
E, si quer prazer mais justo
Pode os peitinhos chupar.
Em tudo deixo pegar,
Mas só faça o que eu disser,
Pois si minha mãe souber
Que você... Ai! Ai! Que dor!
Ai!... Dentro não, meu amor!...
POR FORA, QUANTO QUIZER!
Ja vae você, minha vida,
Sua coisinha mettendo...
A pomba me está doendo...
Eu ja me sinto ferida;
Não me queira ver perdida...
Va pedir-me p'ra casar...
Meu Deus!... E elle a teimar...
Olhe que eu me vou embora...
Si quizer venha-se fora,
DENTRO NÃO, QUE HEI DE GRITAR.
[26] SONETO (8)
A femea capixaba deu entrada
No seu leito ao monarcha brasileiro,
Que nos gozos de amor, habil, matreiro,
A sujeita deixou logo emprenhada.
Um jumento pariu! (Pobre coitada!)
Tem do Mattoso o rosto traiçoeiro,
Do Monte Alegre as pattas, e o trazeiro
É a cara do Olinda retractada.
Tem do Torres a força intelligente,
Do Manoel Felizardo a prenda brava,
Com que raivoso vinga-se da gente.
Quando Jobim, parteiro, o apresentava
Todo o povo dizia geralmente
Que de tal pae, tal filho se esperava.
[27] SATIRA A UM MINISTRO
Para mostrar que é mui sabio
E filho de boa gente,
E dos passados ministros
Ser em tudo differente,
Sua excellencia da guerra
Em tudo que der à luz,
Em vez de assignar de nome
Pretende assignar de cruz.
[28] MOTTE
Sebo! Caguei! 'Stou zangado!
GLOSA
Fui uma puta foder,
Que era velha, mas bem feita,
E quem tal conno rejeita
Melhor fora não viver.
Puz-me com ella a mexer
Num colchão empavezado,
Porem, tendo-me esporrado,
No diabo da coruja,
Fiquei com a calça suja...
SEBO! CAGUEI! 'STOU ZANGADO!
[29] DECIMA (9)
No ABC de Cupido
Errou você desta vez,
Porquanto com um C fez
Perder de somno o sentido.
Somno com C só ouvido
Entesa a porra a seu dono;
Com C não se escreve somno,
Apprenda com mais trabalho:
Com C se escreve caralho
Com que vi foder seu conno!
[30] MOTTE
Cupido, rei dos amantes,
Rei da puta que o pariu,
Escreveu da mãe no cu:
Puta assim nunca se viu!
GLOSA
Longe, longe o preconceito
D'impia e van sociedade!
Foda toda a humanidade!
Foda a torto e a direito!
Marilia tem no meu peito
Ternos cultos incessantes,
Porque, attento aos relevantes
Feitos seus de amor nas luctas,
A fez rainha das putas
CUPIDO, REI DOS AMANTES.
Sim, o deus cego ignorava
Antes de ver a Marilia,
O portento, a maravilha
Que o reino fodal guardava;
Como ella rebolava
Nem no céu rebolar viu;
E portanto concluiu
Que das putas ser devera
Rainha, como elle era
REI DA PUTA QUE O PARIU.
Mas de amor sempre a doidice
Foi constante predicado
Posta a cousa neste estado
Veiu emfim a parvoice:
Tomou por cappadocice
Uma penna de peru,
Pilha a mãe dormindo, e nu
Vendo-lhe todo o trazeiro,
O decreto putanheiro
ESCREVEU DA MÃE NO CU.
O olho do cu divino
Leu o decreto: accordada,
Furiosa bofetada
Solta Venus no menino,
Que, tremendo, em desatino:
"Marilia!" disse, e fugiu.
Tal ouvindo, Venus riu,
Exclamando com agrado:
"Tens razão, filho adorado,
PUTA ASSIM NUNCA SE VIU!"
[31] MOTTE
A pombinha de meu bem
Tem assucar refinado.
GLOSA
Na chacara não sei de quem
Fodi com muito embaraço,
Porem achei sem cabaço
A POMBINHA DE MEU BEM.
Comtudo direi que tem
Aquelle pomo sagrado
Um prazer do céu mandado!
Si não tem cabaço dentro,
Na cavidade do centro
TEM ASSUCAR REFINADO.
[32] MOTTE
Os colhões de José Felix
Ja não cabem nas ceroulas.
GLOSA
Maior que o circo do Telles
É a coxa do Cordeiro
E ja tem por travesseiro
OS COLHÕES DE JOSÉ FELIX.
São rugosas, grossas pelles
Como cascas de cebollas;
Parecem murchas papoulas
Esses saccos membranosos,
Que, sendo assim volumosos,
JA NÃO CABEM NAS CEROULAS.
[33] AS ROSAS DO CUME
No cume da minha serra
Eu plantei uma roseira,
Quanto mais as rosas brotam
Tanto mais o cume cheira.
À tarde, quando o sol posto,
E o vento no cume adeja,
Vem travessa borboleta,
E as rosas do cume beija.
No tempo das hinvernadas,
Que as plantas do cume lavam,
Quanto mais molhadas eram
Tanto mais no cume davam.
Mas si as aguas veem correntes, [actualmente, "vêm"]
E o sujo do cume limpam,
Os botões do cume abrem,
As rosas do cume grimpam.
Tenho pois certeza agora
Que no tempo de tal rega,
Arbusto por mais cheiroso
Plantado no cume pega.
Ah! Porem o sol brilhante
Secca logo a catadupa;
O calor que a terra abrasa
As aguas do cume chupa!
[34] MOTTE
Estava eu mette não mette,
Nunca me aconteceu tal!
Derramou-se toda a cera
Nas bordas do castiçal!
GLOSA
Marcianna, Marcia ardente,
Em chamma libidinosa,
Que eu goze em hora dictosa
Seus attractivos consente.
Ja damnada, à porra quente
Ordena que a foda encete;
Eis que um torpor me accommette,
E de mim se apoderando
Cae-me molle a porra, quando
ESTAVA EU METTE NÃO METTE!
Mil meios debalde emprego!
A porra permanescia
Tão molle que se podia
Com ella dar um nó cego!
Nas coxas, no conno esfrego...
Qual tesão! E p'ra meu mal,
Perdida a força moral
Ao ver-me naquelle estado,
Só dizia encaralhado:
NUNCA ME ACONTECEU TAL!
Proxima vela, que, accesa,
Esta scena allumiava;
Seguro, e o que me cercava,
Passo a ver com miudeza;
Mas oh! terrivel surpresa!
A vela se derretera,
E, quando eu menos provera,
Eu, que a tinha sem cautela,
Sobre o pentelho da bela
DERRAMOU-SE TODA A CERA!
Cae-me o castiçal da mão,
Completo escuro domina,
E, por mal da minha sina,
Reapparece o tesão.
Metto sem mais attenção,
Sinto em vez do natural
Mas um frio de metal
Do conno doce agasalho:
Tinha mettido o caralho
NAS BORDAS DO CASTIÇAL!
[35] MOTTE (10)
Não posso mais atural-o!
GLOSA
Vi por uma fina greta
De um rapaz o lindo rosto;
Fiquei morrendo de gosto,
Quiz comel-o de punheta.
Nisto passou uma preta,
Que ia talvez procural-o;
Mandei por ella chamal-o,
Mas respondeu-me a cachorra:
Meu senhor moço, ora porra!
NÃO POSSO MAIS ATURAL-O!
[36] OUTRA
Tinha a pica intromettido
Ja toda no cu de um puto,
E pelo pentelho hirsuto
Tinha a dextra introduzido;
Diz-me o puto mui doido: [actualmente, "doído"]
Meu senhor, queira tiral-o!
Eu aperto-lhe o badalo,
E o puto, então se zangando,
Grita, a bunda retirando:
NÃO POSSO MAIS ATURAL-O!
[37] MOTTE
Como vens tão vagarosa,
Ó formosa e clara lua!
GLOSA
Minha voz melodiosa
Por que não vens escutar?
Por que teimas em tardar?
COMO VENS TÃO VAGAROSA!
A pomba de Dona Rosa
Não chega à belleza tua;
Mesmo quando se põe nua,
Rebullindo com o cu,
Não é bella como tu,
Ó FORMOSA E CLARA LUA!
[38] MOTTE
Os segredos do caralho
Ninguem os pode entender;
Alegre quando tem fome,
Triste depois de comer!
GLOSA
De pedreiro official
Contractou um casamento,
E guardava (oh! que portento!)
Um estado virginal.
Em a vespera nupcial
Acabou o seu trabalho,
E, à sombra de um carvalho,
Disse, vendo a terna irman:
Eu vou saber amanhan
OS SEGREDOS DO CARALHO.
Passando a noite dictosa
Desse prazer tão completo,
Que, para o tal architecto,
Tinha sido deleitosa,
Deixa um pouco a terna esposa,
Vae da irman à casa ter;
E, ao vil-o receber,
Diz-lhe elle baixo à orelha:
Mana, segredos d'abelha
NINGUEM OS PODE ENTENDER.
É verdade, lhe replica
A irman, que a foder é dextra;
Nem com ser abelha-mestra
Sei os segredos da pica...
Não viste tu como fica
Antes e depois que come?
É uma cousa sem nome!...
Nota bem que não gracejo;
É só o bicho que vejo
ALEGRE, QUANDO TEM FOME!
Reparei, irman querida,
E fez-me grande impressão
Vir-lhe aquella indigestão
Logo depois da comida!
Cansado da dura lida
Parece que vae morrer;
Embalde tenta se erguer
Porque a fraqueza o tolhe,
E entre os colhões se recolhe,
TRISTE DEPOIS DE COMER!
[39] MOTTE
Daqui não ha de sahir.
GLOSA
Não querendo dar na fina
Por ser um grande peccado,
Procurei todo arreitado
Uma bonita menina;
Larguei-lhe uma alicantina
Para de graça me vir;
Porem, querendo fugir,
Quiz-me o chapéu penhorar,
Dizendo: Sem me pagar,
DAQUI NÃO HA DE SAHIR!
[40] OUTRA
Estou com Marcia uma hora,
Pedi-lhe para fodel-a;
Ella me diz: Sou donzella!
E ja queria ir-se embora.
Eu, com ar de quem implora,
Respondi sem me affligir:
Com o que acabo de ouvir
Minha razão se accommoda,
Porem sem dar uma foda,
DAQUI NÃO HEI DE SAHIR.
[41] DIÁLOGO (11)
Marilia, meu bem, eu venho,
Impaciente e arreitado,
A pedir-te neste estado
Um pino com todo o empenho.
Pinos feitos eu não tenho
Com que o possa consolar;
Só si quer aproveitar
De um de trez que hontem me deram,
Que nenhum mal me fizeram;
Veja como quer tomar.
Para mais me não deter
Que seja de pé te rogo.
De pé, não, que fico logo
Toda convulsa, a tremer!...
Pois então bem pode ser
Meia sentada, à ligeira...
Desse modo dá canseira,
Nem sei como delle gosta;
Si me espicho, estou mal posta,
Si me encolho, estou trazeira.
Do cappote a cama bella
vê si no chão te consola...
Não, que os joelhos te exfolla,
E a mim o cu me rela.
Debruça-te sobre aquella
Linda mesa que alli vejo...
Alli não, que ja prevejo
Que, alem de outras implicancias,
Não posso, no ardor das ansias
Abbraçar, nem dar-te um beijo.
Seja à beira do teu leito
Sob os meus braços curvada...
Fico assim muito espetada,
Sem bullir por mais que arreito.
Vidinha, anda, põe-te a jeito,
Seja em cyma ou fora della;
Olha que a porra ja mella,
Temo que o tesão se abrande...
Si é dura, si é grossa e grande,
Oh! sorte!... oh! gosto!... oh! que bella!
De estaccada, ou bella cama,
De espavento, ou chavelhão,
Tranquilha, ilharga ou malhão,
Applaca do caralho a chamma.
Ao ver um fodão de fama
De arreitado perco o somno!
Da pomba se faça dono,
Pegue, metta, me soccorra;
Si soluça e pinga a porra,
Ja palpita e baba o conno!
Marilia, vê como gostas
Que applaquemos tanto ardor;
Escolhe seja qual for
Uma das modas propostas
Tu de bruços, eu de costas,
Teremos fodal victoria:
Pega amor, pega na historia,
Mette... carrega... circumda!...
Que mimo!... que voz!... que bunda!
Que pino!... que ansia!... que gloria!...
Você, que teve?... que tem,
Que aos soluços não dá fim?
Sou boa?... gostou de mim?...
Ah! Marilia, no vae-vem
Fallei doce?... bulli bem?...
Regalaste-me este peito!
Si sou boa e me achou jeito,
Repita o mesmo que fez...
Virei para outra vez,
Agora estou satisfeito.
Ora bolas, sô poltrão!...
Si não tem paixão por greta,
Faça a si mesmo a punheta,
Não se metta a fodanchão!
Marilia, não é o tesão
Traste que esteja guardado...
Va... sô caralho cagado,
Traste inutil... homem de borra!... [verso hypermetrico]
Apalpa, e verás a porra
No mais lastimoso estado!
Eu te arrenego, maldicta!...
Nunca vi cousa mais molle!...
Não dá pullos, nem se bolle,
Não soluça, nem palpita!...
Sempre depois que vomita
Por um pouco fica em borra...
Va-se embora, antes que o corra,
Va mandar deitar-lhe uns calços!...
Não toque rebattes falsos
Com tripa em logar de porra!
Dá-lhe agasalho decente,
Põe-lhe e tira a carapuça,
Emquanto ella não soluça
Corre-lhe a mão brandamente;
As cricas do conno ardente
Com ella passa a coçar;
Verás, quando endireitar,
Qual um corno, endurecer,
Si é tripa que vae encher,
Ou porra que vae vazar?
A engrossar e a crescer
Começa contorsões novas,
Ja salta, ja dá corcovas,
Ja dá signaes de querer...
Agora bem pode ser...
Si tu queres, repitamos...
Estão a vir os meus amos,
Foi-se a vontade e occasião...
Eu não teimo, tens razão,
Moça, adeus!... Caralho, vamos!
[42] MOTTE (12)
A mulata, quando fode,
Parece querer voar!
GLOSA
Não ha machina que mais rode, [pronuncia-se "mach'na", por syncope]
Tão ligeira e tão subtil,
Como seja no Brasil
A MULATA QUANDO FODE.
Segure-se bem, si pode
Quem com ella fornicar,
Que a mulata a rebolar
Com o vento dos colhões,
Toma certos furacões,
PARECE QUERER VOAR!
[43] OUTRA
Aqui d'El-Rei! Quem me acode!
Que ja me sinto morrer!
É o que costuma a dizer
A MULATA QUANDO FODE.
Ella toda se sacode,
Vem abaixo e sobe ao ar;
E no seu espannejar
Desfaz-se toda em gemidos,
Perde a cor, perde os sentidos,
PARECE QUERER VOAR!
[44] OUTRA
Dá de rabo quanto pode,
Ja se apressa, ja demora,
Vira os olhos, geme, chora,
A MULATA QUANDO FODE.
Ella faz que o conno rode
Como um fuso e sem parar
Desce à terra, sobe ao ar,
Chupa a lingua, dá dentada,
E, em luxuria banhada,
PARECE QUERER VOAR!
[45] OUTRA
Neste mundo ninguem pode,
Nem os melhores pintores,
Retractar com vivas cores
A MULATA QUANDO FODE;
Não ha poema nem ode
Que a tanto possa chegar;
Só se pode experimentar [pronuncia-se "exp'rimentar", por syncope]
Da mulatinha o trabalho,
Quando em cyma do caralho
PARECE QUERER VOAR!
[46] A FRUCTA (13)
A minha Marcia tinha
Uma fructa muito bella,
Não no miolo, na casca
Era todo o gosto della.
Ainda me lembra
Que gosto, que lucta
Eu tive, tirando
A casca da fructa!
Entre dous troncos bem grossos,
A fructinha se escondia,
Às vezes viam-se os troncos,
A fructa nunca se via.
Ainda me lembra, etc.
Por mais verde que ella esteja
Sempre tem certa doçura,
Mostra o verdor no tamanho,
Rachada quando madura.
Ainda me lembra, etc.
Antes de tirar-lhe a casca
O meu bem tanto a zelava
Que si eu punha a mão nos troncos
Quasi sempre se zangava!
Ainda me lembra, etc.
Duas rainhas mostrava
A natureza só nellas,
Era a rainha das fructas
Com a rainha das bellas.
Ainda me lembra, etc.
Meu bem, da rival zelosa,
Para sugar-lhe a doçura,
Tinha com força apertado
A bocca na rachadura.
Ainda me lembra, etc.
Prostrei-me a seus pés, tremendo
Em doce, amoroso abalo,
Exigindo ser p'ra sempre
Destas rainhas vassallo.
Ainda me lembra, etc.
Hesitou Marcia um momento,
Porem eu tanto roguei
Que alli mesmo no jardim
O meu despacho alcancei.
Ainda me lembra, etc.
Consentiu, p'ra que eu sentisse
Desse seu fructo a doçura,
Que eu puzesse a mão no pomo
E a bocca na rachadura.
Ainda me lembra, etc.
Não, meu bem! dizia ella
Toda pia e resoluta;
Sem fallar com o vigario,
Não me toque nesta fructa!
Ainda me lembra, etc.
[47] A MENINA DO BANQUEIRO
O diabo da menina
Commigo se enrabichou
De tal modo que por mim
Um banqueiro abandonou.
Dava-lhe o rico banqueiro
Seiscentos mil réis mensaes,
Eu por dia dou-lhe cinco,
A menina pede mais.
Pede mais, mas não me deixa
Gosta mais do meu dinheiro,
Acha mais gosto nas minhas
Que nas notas do banqueiro.
Tracta as minhas com appreço,
Tracta as delle com desdem,
Eu não sei, ella é quem sabe
As minhas que gosto teem,
O banqueiro é um labrego
Grosseiro por natureza,
Talvez que as notas nem saiba
Dar-lhe com delicadeza.
Elle dá notas mensaes,
Eu dou as minhas por dia,
Com toda a delicadeza,
Com toda a diplomacia.
Às vezes eu dou-lhe as notas
Com jeitos e modos taes,
Que em suspiros dá-me em troca
Ternas notas musicaes.
Feito o troco, diz, tremendo
A bolsa do meu dinheiro,
Quem é que troca esta bolsa
Pelo banco dum banqueiro.
NOTAS DE GM
(1) Tal como em Bocage, "porra" em Rabello não significa "semen" e sim
"penis", conforme a correlação entre "porrete" e "pau".
(2) Tal como em Bocage, ou até mais explicitamente, a attracção do
putanheiro deixa de lado, por vezes, as meretrizes, para se voltar na
direcção do "fanchono" ou do "puto", aquelle que hoje seria chamado de
"veado" ou "bicha". Outro exemplo da faceta homosexual de Rabello está
nas glosas 35 e 36.
(3) Tal como em Bocage, "conna" em Rabello é o termo chulo para a
vagina, hoje "boceta" no Brasil. Curioso é assignalar que, em ambos os
auctores, o termo tende a ser usado no masculino, "conno".
(4) "Comer" punhetas, em logar de "batter" ou "tocar", era uso commum na
epocha.
(5) O termo "arreitado" remanesce no Nordeste brasileiro, não apenas
como synonymo de "erecto" ou "em erecção", mas agora em sentido mais
amplo, como "arrectado" ou "rectado".
(6) "Feliz-Asno" é allusão a um ministro e senador do Imperio chamado
Manoel Felizardo, victima de outras satiras de Rabello.
(7) Tal como em Bocage, em Rabello a forma verbal "vir-se" equivale a
"gozar" ou "ter orgasmo", como actualmente se usa no Brasil. À phrase
"Estou gozando!" ou "Vou gozar!" corresponderia, em Portugal, "Estou a
vir-me!", mas o brasileiro, que tem preferencia pelo gerundio, diria
"Estou me vindo!", como fez Rabello.
(8) Todos os nomes citados no soneto são de notorios politicos do
Imperio.
(9) Nas palavras do editor, "Esta decima foi feita a uma moça que
marcara uma entrevista ao poeta. Tendo-se este demorado, recebeu ella um
outro amante; o poeta chegou mais tarde e pelo buraco da rotula viu uma
scena sobre um sofá, por demais erotica, pelo que retirou-se sem entrar.
No outro dia ella escreveu-lhe, dizendo-lhe que por sua causa perdera o
CONNO toda a noite; a resposta foi esta decima."
(10) Ver a glosa 4 e respectiva nota.
(11) Este poema satiriza os mineiros, pois, segundo o proprio poeta,
"para um mineiro obter uma foda" toda esta conversa teria logar. A
allusão à Marilia de Thomaz Antonio Gonzaga é, pois, intencional.
(12) Vejam-se abaixo algumas glosas ao mesmo motte, estas de auctoria do
repentista bahiano Francisco Moniz Barreto (1804-1868), para que se note
como, influenciado pelo tambem bahiano Gregorio de Mattos, o mestre de
Rabello foi decisivo na faceta fescennina do Lagartixa:
MOTTE
A MULATA, QUANDO FODE,
PARECE QUERER VOAR.
GLOSAS
Si é das de buço, ou bigode,
E cor bem agarapada,
Mais se torna endiabrada
A mulata, quando fode.
À poncta da lança acode
Com ardideza sem par;
E, depois de se espetar
Toda nella, em doce furia,
Como aguia de luxuria,
Parece que quer voar.
Abrasa, agita, sacode
O vivente pelos ares,
De Venus nos crespos mares,
A mulata, quando fode.
Por baixo, ou por cyma rode
Na porra, nesse rodar!
Mal, que na base do altar
Sente batter-lhe os colhões,
Fazendo delles balões,
Parece querer voar.
Só a mulata um pagode
Completo off'rece ao caralho;
É princeza de serralho
A mulata, quando fode.
Branca, ou negra, não a pode
No rebolado egualar;
Quando, ardente, a se esporrar
A mulata principia,
Nas asas da putaria
Parece querer voar.
(13) Lettra para um lundu, genero de musica popular antecessor do samba.
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