Dante Pignatari resume a modernidade No CD 'Poesia Paulista ' o pianista grava peças de autores contemporâneos
Antonio Gonçalves Filho
A reunião de 12 poetas contemporâneos num CD com três compositores e cinco músicos de formação erudita parece um produto típico de países com tradição na área. No entanto, trata-se de um CD brasileiro, Poesia Paulista/12 Canções, projeto do pianista Dante Pignatari, com a participação do tecladista e idealizador do disco, da soprano Kátia Guedes e dos instrumentistas Luís Nivaldo Orsi (clarinete), Laércio Sinhorelli (violino) e Ana Maria Chamorro (violoncelo).
Cada um dos três compositores escolhidos para o projeto (Achille Picchi, Eduardo Guimarães Álvares, José Augusto Mannis) selecionou uma lista de poetas de quatro diferentes gerações, dos modernistas (Luís Aranha, Mário e Oswald de Andrade) aos pós-concretos (Arnaldo Antunes, Nelson Ascher, Régis Bonvicino), passando pelos poetas de 45 (Geraldo Vidigal, Mário da Silva Brito, Afrânio Zuccolotto) e os concretos (Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari).
Muitos nomes ficaram de fora do disco, parcialmente financiado com recursos da Secretaria de Estado da Cultura. "Só para lembrar um de meus poetas preferidos, a ausência de José Paulo Paes é lastimável, mas tenho outro projeto para ele", revela Dante Pignatari, que já prepara um novo CD sobre a história da canção de câmara.
Num procedimento análogo, o disco com as 12 canções de poetas brasileiros é quase um resumo didático da evolução do modernismo visto por compositores contemporâneos. Pignatari garante que não interferiu na escolha dos poemas. "Muitos nomes que andavam sumidos, como Mário da Silva Brito, permitiram aos músicos recuperar a tradição de escrever peças sobre poemas alheios."
O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 21 de agosto de 1998
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mais biscoitos finos !
Mar digital (excerto) Carlos Adriano ... Com direção artística e coordenação de Dante Pignatari, Poesia paulista: 12 Canções é um CD cujo único atributo digital é o suporte do disco compacto. A realização é do Laboratório de Acústica Musical e Informática do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP. A técnica é acústica, não eletrônica (excetuados os recursos de gravação e mixagem). Todas as composições são executadas sob a formação de voz e conjunto de câmara (piano, violino, violoncelo, clarinete). A capa do disco explicita essa tensão analógico-digital ao estampar, justamente num CD, um "Long play", obra do artista plástico Hermelindo Fiaminghi. Foram reunidos doze poetas paulistas de quatro períodos (modernismo, geração de 45, concretismo, pós-concretismo), que tiveram suas obras musicadas por três compositores de música erudita contemporânea: José Augusto Mannis, Achille Picchi e Eduardo Guimarães Álvares.
Não são propriamente canções na acepção "popular" e corrente do termo. Mantendo a afinação ao jargão especializado, mas emitindo notas dissonantes, seriam cantatas líricas e atonais, tributárias da tradição que arranjou palavras em músicas de configuração dodecafônica, na escala de Arnold Schoenberg e Alban Berg. Com a voz de Katia Guedes, as canções envolvem, na divisão histórica:
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Oswald de Andrade ("Relógio"), Mário de Andrade ("Paisagem nº 1") e Luiz Aranha ("Cocktails"); Mario da Silva Brito ("Areia na ampulheta"), Geraldo Vidigal ("Rito") e Afranio Zuccolotto ("A inalterável presença"); Augusto de Campos ("Tensão"), Haroldo de Campos ("Anamorfose") e Décio Pignatari ("Hombre Hambre Hembra"); Arnaldo Antunes ("Lua nuvem"), Régis Bonvicino ("Círculo") e Nelson Ascher ("Uma abordagem crítica")...
CULT 31, 07/08/1999, p. 20
Poemas paulistas ganham música Camila Viegas
Um clarinete ilustra a frase "A cadeira guincha", de "Cocktails", do poeta modernista Luis Aranha, musicado por Eduardo Álvares. O compositor mineiro foi quem deu o impulso inicial para a produção do CD "Poesia Paulista, 12 Canções".
"As músicas colorem os poemas. Às vezes, ela enfatiza palavras. Outras vezes, contradiz o que está escrito", explica Álvares.
O CD apresenta textos de 12 poetas paulistas, que passam pelo modernismo de Aranha, Oswald e Mário de Andrade, até poetas contemporâneos, como Arnaldo Antunes e Nelson Ascher. Os poetas foram escolhidos pelo pianista Dante Pignatari, a partir da rica biblioteca de seu pai, Décio.
Além do compositor Eduardo Álvares, participam ainda os músicos Achile Picchi e José Augusto Mannis.
Para interpretar as partituras foram convidados os instrumentistas Luís Nivaldo Orsi (clarinete), Laércio Sinhorelli (violino), Ana Maria Chamorro (violoncelo) e a cantora Katia Guedes.
O trabalho mantém a oralidade dos textos ao mesmo tempo em que dá lugar a combinações de sons que produzem novos conceitos, ritmos e significados.
Folha de S. Paulo, Ilustrada, 21 de agosto de 1998 edição anterior >
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