Qualigrafeira
(sobre Catatau de Paulo Leminski)*
Tarso M. de Melo
"...um rigor delirante ou um delírio rigoroso..."
Fala da importância do Catatau para a cultura nacional, como "divisor de águas", "clássico da língua portuguesa", reconhecendo o trabalho de linguagem leminskiano ao lado de Guimarães Rosa, Ezra Pound, James Joyce, Hilda Hilst, etc, mostrando muita intimidade com a idéia e com o texto, o que se percebe em pérolas de entendimento como: "Não há o que contar. Tudo acontece no nível da linguagem."
Cuidando das bases históricas, explica o período em que o livro se ambienta, para depois buscar parentescos literários, sendo o primeiro a mostrar mais fundamentadas essas relações, e a lembrar da influência do estilo ficcional de Jorge Luís Borges. Através da historiografia, este ensaio esclarece os motivos que costuram o livro, sendo bastante relevante o seu pioneirismo na análise sistemática do Catatau.
Uma visão do livro com o foco no uso de provérbios, analisando a importância do jogo com estas frases populares para sua estrutura. Releva os choques entre a intuição e a filosofia, para justificar o afastamento do Catatau do plano puramente literário, por questionar as conclusões de toda uma tradição filosófica ocidental, com excertos da sabedoria popular.
Este texto, após breves pinceladas nos assuntos já tratados pelos anteriores, traz a inovação de relacionar o livro de Leminski ao Viva o povo brasileiro de João Ubaldo Ribeiro, defendendo esse vínculo por encontrar em ambos o tema da antropofagia, sendo devorada, no primeiro, a lógica ocidental e, no segundo, a História do Brasil.
Propondo a leitura do Catatau como "intrincada tessitura de sentidos que entrelaça História, Filosofia, Ciência e Literatura", dispensando a análise ligada somente a aspectos verbais, esse ensaio indica como Leminski vai minando seu texto com vários conceitos, pondo em cheque as certezas e verdades absolutas com frases que aparentam ser meramente jocosas.
1
1.1 Aconteceu-lhe...
1.2 ...por vários rumos...
1.3 Como puderam viver sem isso...
1.4 Lavo minhas mãos no sangue da vítima...
2
2.1 ...de uma exatidão absoluta.
2.2 ...dimensão elevadíssima de ininteligibilidade.
2.3 As perturbações "vanguardistas" do tecido verbal...
2.4 ...o princípio de desorganização.
"Conseculência confenorme. Constróiturna, semprexemplo.
Interravales inteligentalha desvendez. Pérsiagunta almapriasma,
farofídio estertora escolalápis. Baptistmos exurbebrutamontontes
escalacalipse quasarmazém. Álcoolalá, nervervos. Quaso é a
cegoseguinte acontececoronha. Mon. Homemom. Monge,
tostemonja. O espinhoritmo da manchamusa, corvorpo gorpso
bolachasanguedemula, sapatapasso de tábularolha. O catapulcancro
trancabronca as cobracabroezas: trocatróia por uma bombaocada
para cadaunze. Aquilatacálculo."
2.5 ...o leitor está à espera, também...
2.6 ...contemporâneo da era da televisão.
2.7 Não tem segredos. E tem todos...
Outubro 1997
*OBS.: Publicado originalmente no jornal literário VIOLA DE COCHO (Ponta Porã, MS), de Abril/maio de 1998
Copyright © 1998 by Tarso M. de Melo
Veja um trecho do Catatau em: Prosa de Invenção no Brasil
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