50 anos
A Cosac & Naify lançou Grupo Noigandres, de João Bandeira e Lenora de Barros, parte do amplo projeto Arte Concreta Paulista. No Centro Universitário Maria Antonia, um ciclo de cinco exposições celebrou os 50 anos da histórica mostra coletiva do Grupo Ruptura e o lançamento da revista Noigandres, porta-voz das radicais propostas e inovações lingüísticas dos cinco poetas que integravam o grupo: Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald e Ronaldo Azeredo. Com a proposta de reunir artigos, manifestos, cartas e imagens relacionados à arte concreta, o poeta e pesquisador João Bandeira garimpou durante um ano museus, arquivos e bibliotecas, recuperando textos raros e inéditos da produção artística dos anos 50. Documentos, lançado pela editora Cosac & Naify, é o resultado desse trabalho, quinto e último volume da série Arte Concreta Paulista, que celebrou, com livros e exposições, os 50 anos do movimento vanguardista.
Os documentos traçam um panorama da cena cultural da época. "A idéia era mostrar a existência de um ambiente favorável para o lançamento das propostas de novos artistas", afirma o organizador da obra. Os textos indicam as polêmicas levantadas, entre outros, pela Noigandres - revista vitrine dos poetas concretos.
Juntos, livro e CD com leituras de 70 poesias, mais a exposição desenham um percurso balizado pelos cinco números de Noigandres, publicados entre 1952 e 1962 - incluindo seus antecedentes, o ambiente social e cultural em que os poetas se reuniram. CD
O CD que acompanha o volume traz os poetas em plena ação, lidando, quase sempre "a palo seco", com a "verbivocovisualidade" (integração dos níveis verbal, sonoro e visual) da palavra. Em sua grande maioria, são gravações inéditas, incluindo registros feitos entre 1962 e 1963 na casa de Augusto de Campos, com a sua participação e de Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewald, Lygia de Azeredo Campos e Ecila de Azeredo Grünewald. Há também gravações feitas na década de 90, já com produção e tratamento |
sonoro de Cid Campos, que reprocessou o material e, ao lado de Marcelo Brissac, produziu novas gravações especialmente para este projeto. o grão de noigandres No ensaio de abertura, João Bandeira e Lenora de Barros investem sobre as distorções que cercam a trajetória do grupo, jogando luz sobre alguns mal-entendidos históricos - o maior deles, talvez, aquele que usa a palavra "movimento" para caracterizar o período em que os poetas foram assumidamente militantes do concretismo na poesia. Em busca de um novo olhar, que alargue o entendimento deste período e desta produção, os autores lembram que a vida artística dos "poetas de Noigandres" começou antes e continua por muito tempo após o fim da fase heróica da poesia concreta - de ruptura com o verso tradicional: "Como tal, a poesia concreta deixou de existir há tempos, em favor das diferenças de trabalho dos membros do grupo Noigandres".
"Geralmente confundida - positiva ou negativamente - com o período mais característico do concretismo, a obra de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari - parte dela com Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald - não teve até agora, pelo menos no Brasil, uma verdadeira fortuna crítica, que seja complementar à dos próprios poetas. Oscila-se entre a pura adesão mais ou menos desinformada e o claro intuito de denegrir, mesmo quando disfarçado de isenção ou de reconhecimento tácito." Além do ensaio de Bandeira e Barros, o livro reúne uma antologia de poemas dos cinco artistas, incluindo alguns inéditos, como o datiloscrito de Adieu, Mallaîme, de Pignatari. Entre outras raridades que agora vêm a público, está a reprodução do manuscrito e do datiloscrito de lygia fingers, de 1953, experiência radical de Augusto de Campos. Mais: claustrofobia, de Haroldo, e credo/cedro, de Grünewald. Entre os clássicos, destacam-se life, cine-poema de Pignatari, um lance (Grünewald), nascemorre (Haroldo de Campos), cubograma (Augusto de Campos) e Velocidade (Ronaldo Azeredo). Uma cronologia relaciona os fatos mais importantes no período que vai de 1949 a 1962. Há ainda uma bibliografia selecionada de cada um dos cinco poetas de Noigandres. O projeto gráfico dos quatro volumes que formam a coleção de livros do projeto Arte Concreta Paulista (Grupo Ruptura, Antonio Maluf, Grupo Noigandres e Waldemar Cordeiro) é uma criação de Alexandre Wollner, pioneiro do design visual no Brasil e um dos integrantes do Ruptura. O patrocínio, tanto das mostras quanto dos livros, é do programa Petrobras Artes Visuais. "As questões levantados pelos concretistas têm ressonância até hoje no debate cultural. Ainda faltam estudos e análises sobre o movimento", garante o organizador.
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a exposição
Exposição "Grupo Noigandres" no Centro Universitário Maria Antonia
A mostra do Grupo Noigandres foi uma oportunidade única de ver os cinco números originais da histórica revista, hoje artigos de colecionador, além de oferecer ao público fotos e documentos de época, como os primeiros livros de poesia publicados individualmente pelos integrantes do grupo, caso de "O Rei Menos o Reino" (1951), de Haroldo, e "O Carrossel" (1950), de Pignatari. Exibiu-se ainda manuscritos e datiloscritos das primeiras versões de alguns poemas. Na seção de correspondência, as cartas trocadas entre Augusto de Campos e o poeta americano E.E. Cummings (1894-1962).
Também reproduções de quase 30 poemas dos cinco membros da turma, sendo que grande parte deles também pode ser ouvida pelo espectador na própria voz de seus criadores - desde as ousadas gravações experimentais do início dos anos 60 até leituras feitas recentemente. Na parede, um extenso painel exibiu um apanhado de textos publicados em jornais e revistas, repercussão dos debates na imprensa da época.
Mais informações:
www.arteconcretapaulista.com.br
www.cosacnaify.com.br
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